quarta-feira, 30 de março de 2011

Capítulo 20

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 

Capítulo 20 – Um jogo... SS: Sinais e Símbolos...

"Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos,
mas também pelo que deixamos de fazer."
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27 de Janeiro de 2009 – Terça

3h46min02seg – Apesar de se concentrar na figura que estava iluminando, Allan não conseguiu extrair nenhum significado.
 

- Andrei... Não sei como você consegue.
- Consigo o quê?
- Como você consegue ler estes recados.
- Epoche! Fenomenologia, intuição, raciocínio lógico, e experiência policial.
- Quando este caso acabar vou querer umas explicações.
- Epoche... Mas não precisa esperar tanto, se fosse para resumir diria: É um estudo constante de sinais e símbolos... Abordando os objetos do conhecimento tais como aparecem.
- Não entendi nada. – Sorriu Allan.

- Simples: Pra nós fenomenológicos, o fato não é, ele significa!
- E?
- Epoche! A consciência é doadora de sentido, fonte de significado para o mundo. Conhecer é um processo que não acaba nunca, é uma exploração exaustiva do mundo. No entanto, é bom lembrar que a consciência que o homem tem do mundo é mais ampla que o mero conhecimento intelectual, pois a consciência é fonte de intencionalidades não só cognitivas mas afetivas e práticas. O olhar do homem sobre o mundo é o ato pelo qual o homem experiencia o mundo, percebendo, imaginando, julgando,amando, temendo, etc.
- E qual a relação com nosso caso?
- Epoche! O próprio símbolo que encontramos da paradoxoesimetria é muito utilizado nos estudos fenomenológicos.
- Então o morto conhecia essa filosofia?
- Talvez sim... Talvez não.
- Não entendi... Se ele colocou aqui em cima um símbolo que é usado pela corrente filosófica que você em seu hobby se debruça... Então conhecia.
- Talvez. Uma coisa é fato: Ele quis dirigir seus recados para alguém que tinha tal conhecimento, alguém que como eu e todos os fenomenológicos entendem que a coisa não é... Ela significa. É o que ele está gritando com este símbolo que acabei de encontrar.
- Já ia perguntar isso. Como eu disse... Não sei como você consegue ler algum recado... Pra mim é tão simples.
- Epoche. – Andrei sorriu. - Vou te indicar um livro: "O Método Fenomenológico na Pesquisa" de Daniel Augusto Moreira.

3h51min00seg – Allan iluminou toda a extensão da figura que tinha acabado de encontrar.

 
- O que é essa figura pra você, Allan?
- Sinceramente?
- Epoche!
- Pra mim é um simples “X” escrito com sangue...
- Como te disse, meu amigo Allan... O fato não é... Ele significa.
- Pra mim o fato é que alguém pintou um “X”... E ele significa ser um “X.”

3h54min00seg – Andrei ficou muito sério, tomou a lanterna da mão de Allan.

 - Preste atenção Allan!... Se encararmos esse “X” a partir do ângulo em que o moto-taxista “Boquinha” viu alguém (ver capítulo 07 – 18h10min) aqui em cima olhando pra baixo, podemos entendê-lo como um verdadeiro “X”, a penúltima letra do nosso alfabeto.
- Sim... E daí?
- Epoche. – Andrei sorriu. – Você realmente quer saber?
- Claro.
- Como te disse é um recado explícito de que ele queria que eu investigasse esse caso.
- Então diga logo!
- Epoche... Mas a explicação é longa.
- Lucas Andrei, meu amigo... São 3h59min... Está quase amanhecendo sabia? E praticamente não dormi.
- Você quer ou não saber?
- Já estamos aqui mesmo... Prossiga.
- Tudo bem. – Andrei sorriu – Pra você entender, vamos passear um pouco na história de Aracaju.
- Como é Andrei?
Tabuleiro Aracaju, projeto original

- É sério! Preste atenção.
- Certo... Sou todo ouvidos.
- Vou tentar ser o mais resumido e objetivo possível: A fundação da nossa cidade aconteceu de forma contrária à costumeira, ou seja, não surgiu de forma espontânea como as demais cidades, ela foi planejada especialmente para ser sede do Governo do Estado. Quem ficou responsável pelo projeto foi o engenheiro “Sebastião Basílio Pirro, contratado pelo então presidente da Província: Inácio Barbosa. Pirro planejou nossa cidade com um projeto que traçou todas as ruas em linha reta, formando quarteirões simétricos que lembram um tabuleiro de xadrez.
- Peraí... Acho que estou entendendo: Você está insinuando... Que o “X” que encontramos é um “X” da inicial da palavra Xadrez?
- Epoche! O projeto de mudança da capital foi aprovado e sancionado em 17 de Março de 1855.
- E daí? Isso todo mundo sabe.
- Não percebeu que mais uma vez nos deparamos com o número cinco. Nesse caso, duas vezes o número cinco?

4h04min19seg – Allan teve uma crise de riso.

- Você está rindo né?

4h04min20seg – Andrei se levantou.

- Me espere aqui.

4h04min21seg – Andrei em passos cuidadosos e rápidos caminhou pelas telhas “eternites” do topo do edifício Maria Feliciana e pegou o notebook que Allan tinha deixado sobre a tampa da escada que dava acesso àquele lugar.

4h05min23seg – Lucas Andrei pôs o notebook no chão e enquanto o mesmo ligava dirigiu-se à borda do lado em que o corpo foi encontrado e chamou Allan.

4h05min49seg – Allan parou ao lado de Andrei.

- E então?
- Está vendo aquelas cinco marcas?
- Ah! É a sua teoria das cinco letras né? Dente por exemplo?
- Epoche... Agora vou te mostrar no notebook.

4h07min00seg – Andrei mostra a montagem que fez com a marquise do edifício Maria Feliciana.


- Está vendo?
- Sim... Estou vendo. Cinco marcas realçadas como uma palavra cruzada.
- Ótimo. E agora?
- A inscrição da palavra dente... Realmente cabe certinho.
- Epoche... Como te disse, isso reforça que ele sabia que a arcada dentária iria sumir...
- Ta certo Andrei... Estou captando aonde você quer chegar.
- Sério? – Andrei sorriu. – Prossiga.
- Você está querendo me convencer que o morto sabia que você viria aqui, leria o significado desse “X” e entenderia que tem alguma relação com o jogo de xadrez... Só pelo fato de Aracaju ter sido planejada como um tabuleiro de xadrez...
- Não é só isso. Na história de Aracaju temos o registro de um SS.
- O quê? Você pirou?
- SS: São Salvador.
- São Salvador?
- Epoche. Pra ser preciso, a igreja de São Salvador, nossa primeira igreja! Foi construída aqui no Centro da cidade, entre o calçadão Laranjeiras e o calçadão João Pessoa. Nela se realizou uma missa de ação de graças para recepcionar o Imperador D. Pedro II na ocasião da sua visita... Além do mais, foi na igreja de São Salvador que foram enterrados os restos mortais de Inácio Barbosa. Ou seja: Temos um SS, temos um representante da monarquia, a representação da igreja. Quer dizer, elementos do jogo de Xadrez, o bispo (igreja), o rei (imperador) e a nossa torre...
- É Andrei... Interessante, mas tem uma grande falha nesta sua argumentação.
- Qual?
- 1-X, 2-A,3-D,4-R,5-E,6-Z... Xadrez tem seis letras.
- Epoche... – Andrei sorriu.
- Do que você está rindo? Não gosto quando você zomba de mim. São 4h10min... Não é hora pra isso!
- Epoche! – Meu querido Allan... Veja isso:

4h10min55seg – O detetive Lucas Andrei pôs cinco letras na montagem que tinha feito com a marquise do edifício.

4h11min00seg – Allan ficou arrepiado diante do que estava vendo na tela do notebook.


- Não pode ser!
- Pode... E é.
- CHESS... Como não pensei nisso antes?
- Epoche... Como disse, o fato não é, ele significa.
- CHESS é Xadrez em inglês e termina em SS... Mais uma vez o SS.
- Epoche! E não pára por aí.
- Tem mais?
- Epoche que sim. SS – Sinais e Símbolos, a essência da fenomenologia... Raciocine comigo: Aracaju foi planejada como um imenso tabuleiro de Xadrez, correto?
- Correto.
- Onde encontramos o nosso morto?
- Aqui no Maria Feliciana...
- Epoche!... Uma Torre.
- Faz sentido... Seria um Xeque-mate?
- Epoche Allan! Estou orgulhoso de você!
- Alguém deu um Xeque-mate?
- Epoche... Um Xeque-mate dado com uma torre.

4h15min00seg – Allan e Andrei ficaram em silêncio por alguns minutos. Ambos raciocinando a lógica das novas descobertas.

- Tudo bem Andrei... Mas só me explica uma coisa:
- O quê?
- Você disse que esta pista mostrava que o morto queria que você... O famoso detetive Lucas Andrei... Cuidasse desse caso... Por quê?
- Epoche... Você lembra que ano passado eu tinha ganhado um prêmio?
- Sim... Não foi com o caso do corpo que apareceu boiando na praia dos náufragos?
- Sim... Foi o meu caso mais famoso...    Aconteceu há 5 anos, saiu em todos os jornais e fui para um congresso nacional de detetives explicar o meu método... O prêmio foi em reconhecimento pelo conjunto de casos resolvidos...
- Também... Você nunca deixou um mistério sem solução... Quem manda ser gênio?!
- Nem tanto meu amigo... Lembro-me que na entrevista falei que minha base de raciocínio era a fenomenologia.
- E onde entra o Xadrez?
- Epoche! O prêmio que me referi foi o que ganhei ano passado e retrasado.
- Qual?
- Allan... Pelo amor de Deus... Eu te falei... Até saímos para comemorar...
- E eu lembro Andrei! – Allan sorriu.
- Em 2007... Fui vice-campeão sergipano de Xadrez... E ano passado, numa revanche fui campeão... Mas confesso que foi uma vitória sem graça, o rapaz estava com a mente distante, tinha um olhar triste, ansioso... Até cheguei a pensar que ele era autista... Era muito tímido e desligado...
- Mas te venceu e você deu o troco... Ganhou dele no ano seguinte.
- Epoche... Ele estava muito atordoado com alguma coisa... Por isso não conto essa vitória...
- Será que ele te escolheu porque você o venceu?
- Não necessariamente... Epoche que não! Acredito que foi por causa de um comentário que fiz.
 
4h17min07seg – Abismado Allan se levantou e caminhou na direção da borda que ficava em frente à entrada do Banese.

 
- Agora estou entendendo Andrei... Não há dúvida. Ele deve ter visto nos jornais que você era um detetive competente que enxerga as verdades escondidas nos fatos e que era fera em Xadrez...
- Não diria que sou fera... Afinal, fui vencido por um jovem de 17 anos. – Sorriu.

- Tudo bem... Você me convenceu.
- Você se lembra que no início eu disse que do ângulo em que o moto-taxista viu alguém lemos um X?
- Lembro.
- Agora veja do ângulo em que o corpo foi encontrado.

4h19min01seg – Allan, em pé, observou a figura do X.
 ­

-
É... Do outro ângulo lembra um pouco uma cruz...
- Epoche! Como disse está relacionado há uma partida de Xadrez.
- Como?
- Além do fato de um Xeque-mate ter sido dado com uma torre... Um dos sinais e abreviaturas convencionais do Xadrez é a cruz que simboliza o xeque... O X simboliza... Captura, tomada de peça.
- Ei! O SS da Igreja São Salvador, como toda igreja, tem uma cruz... Cruz + tabuleiro de xadrez = xeque-mate.
- Muito Bom Allan! Parabéns!
- Obrigado... Mas como isso nos levará ao assassino?
- Epoche! É a direção do nosso tabuleiro, o ponto de partida.
- Sim... Mas repito a pergunta: Como nos levará ao assassino?

4h21min00seg – Lucas Andrei sentou-se em frente ao local em que estava seu notebook e chamou seu amigo.

- Veja! – Andrei sorriu muito empolgado.

4h21min31seg – Andrei entrou no google e digitou: “Xeque-mate com Torre”.

4h21min34seg - Depois de ler o resultado da busca Allan comentou.

- É Andrei... Mas pelo que vejo há pelo menos 36 possibilidades catalogadas de jogos em que o xeque-mate foi dado com uma torre.
- Epoche. Mas vou me guiar por duas muito famosas.
- Quais?
- A de Lasker e a de Rossipal.
- Sim... E depois? Como isso nos levará à solução do caso?
- Simples. Sobrepondo o mapa de Aracaju em um tabuleiro de Xadrez.
- Baseado em quê? Que referencial?
- Epoche! No projeto original do engenheiro Sebastião José Basílio Pirro, que formou o famoso tabuleiro de Xadrez.
- Sim... E?
- Os traços... Melhor: O tabuleiro de Pirro tem as seguintes divisas: a leste, o rio Sergipe. A oeste, até a avenida Pedro Calazans. Ao norte, a praça General Valadão e ao sul, a Avenida Barão de Maruim.

4h21min37seg – Lucas Andrei pegou uma ilustração do mapa de Aracaju e fez uma nova montagem, no qual o mesmo era sobreposto a um tabuleiro de xadrez, de acordo com o projeto original da cidade.

 
- Incrível! Você é um gênio Andrei.
- Que nada... Gênio é esse morto.
- E agora?

4h22min00seg – Lucas Andrei digitou o nome “Lasker” num programa de jogo de Xadrez que tinha e viu diante de si lance a lance o famoso jogo.


-
Hum... Fantástico Andrei... Estou entendendo... Cada movimento de peça cairá num endereço...
- Epoche. E nesses locais com certeza haverá uma nova pista...
- Então... No local em que cair o Xeque-mate haverá a solução do caso?
- Talvez...
- Por que talvez?
- Porque há muitas possibilidades... Em alguns desses xeques-mate deve haver a pista que nos dará a identidade do morto e do seu possível assassino.
- Incrível Andrei!

 4h27min00seg – O celular de Allan tocou. Ele olhou o visor e viu que era o Coordenador de Perícia de Sergipe, Dr. Uziel.


4h27min05seg – Allan se afastou para um ponto em que não ventasse tanto para tentar ouvir melhor.

4h28min – O detetive Lucas Andrei tinha acabado de fazer a montagem baseada na partida de “Lasker” e viu o local em que caiu o primeiro lance. Emocionado pensou em voz alta.

- O jogo vai começar!

   
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Quer saber qual o endereço do primeiro lance da partida de Xadrez baseada na teoria do detetive? Quer saber qual o motivo da ligação do chefe de Allan? Quer saber que pista Lucas Andrei encontrará no primeiro ponto do jogo? Quer saber que outros “SS” estão relacionados ao caso? Quer saber como será o próximo encontro de Lucas Andrei com o motorista do Corolla Preto? Quer saber que providências o número um, dos três rapazes que procuraram Andrei no Hospital João Alves Filho vai tomar quando descobrir que assassinaram a pessoa errada? Quer saber como foi o reencontro de Geeda com Guilherme no hospital? Quer saber quais são as próximas surpresas que atingirão Guilherme? Quer saber mais sobre o plano de vingança de Maria Geeda Petrúcia Leal? Quer saber sobre a conclusão da polícia sobre o assassinato de um paciente no HJF, e de que forma isto influenciará o rumo das investigações? Quer saber como andam as investigações do sumiço da arcada dentária? Quer saber que tramóias,  dissimulações e crueldades Maria Geeda Petrúcia Leal aprontou ao longo de 11 anos??... Então confira estas e outras respostas nos próximos capítulos da sua novela on-line “MENINA VENENO”!

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