sexta-feira, 25 de março de 2011

Capítulo 17

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 


Capítulo 17 – Um Encontro no Fim de Linha...

"Quando duas pessoas se encontram há, na verdade, seis pessoas presentes:
cada pessoa como se vê a si mesma, cada pessoa como a outra a vê
e cada pessoa como realmente é." (William James)
---------------------------------------------------------------------------------------


19 de Setembro de 1998 – Sábado


22h02min14seg – Quando ia dar partida para ir ao encontro, o celular tocou novamente:
 
- Cadê você?!
- É você Geeda?
- Claro? Pensou que era quem?
- Já estou a caminho.

22h03min – Guilherme olhou pro céu e viu que era noite de lua cheia. - “Lua cheia... Sinal que não vem boa coisa... – Pensou.” Em seguida deu partida e saiu com seu Fusquinha. Enquanto dirigia não parava de se perguntar: “O que Maria Geeda poderia querer conversar com ele após tanto tempo?”

22h03min – Naquele exato instante, de forma perturbadora e misteriosa, a luz do poste em frente à casa de Dona Stéphanie piscou três vezes, apagando definitivamente na quarta. A mãe de Hélio não gostou daquilo, seus instintos deram-lhe uma forte sensação de que algo de ruim iria acontecer.

22h03min23seg – Guilherme já se movimentava e acabava de passar pela segunda quadra.

22h03min31seg – Dona Stéphanie sentiu um forte calafrio, que a deixou totalmente arrepiada, em seguida, a sensação incômoda passou a ser boa, reconfortante.

22h03min44seg – Ao lado de Dona Stéphanie, o espírito de Hélio, sem camisa e trajando a mesma bermuda do dia em que morreu, colocou a mão esquerda sobre o ombro direito da mãe, e chorando em pensamento disse:

“Mãe... Eu não queria ter ido. Não queria ter deixado a senhora sozinha”.

22h03min52seg – Dona Stéphanie suspirou. Ela, por ter mais de 20 anos de estudos mediúnicos sabia reconhecer a presença de alguma entidade. Procurando emitir energias positivas ela pensou:

“Meu filho é você, não é? Eu sinto... Não se angustie... Confie na Lei de Deus... Um dia, no momento certo tudo se esclarecerá... Não se preocupe comigo... Os espíritos protetores sempre nos guiarão.”



22h04min – Graças ao amor puro e a sinceridade em seus pensamentos e confiança em Deus, o perispírito de Dona Stéphanie começou a irradiar uma forte luz dourada bem clarinha que fez Hélio sentir um forte alívio e lentamente desaparecer.

Uma pausa para Dona Stéphanie:

Dona Stéphanie era uma senhora muito amada. Uma pessoa encantadora que despertava admiração em qualquer um após poucos segundos de conversa. Sua formação espírita herdou do pai, que participou da fundação de alguns grupos espíritas de Aracaju. Mesmo antes de estudar a doutrina ela já se mostrava sensitiva. E com os estudos tornou-se uma “médium sensitiva ou impressionável”, ou seja, uma pessoa que possuía sensibilidade suficiente para sentir com facilidade a presença dos espíritos. Às vezes, mostrava-se  “Médium Audiente ou Auditiva”, ou seja, capaz de ouvir a voz dos espíritos de forma clara e inequívoca. Nas poucas vezes que aconteceu, foi na reunião mediúnica.   
 
22h05min – Guilherme avistou a poucos metros, à frente, a famosa “igreja católica” do bairro Augusto Franco, repleta de vidros nas laterais  representando a “Paixão de Cristo”.

22h06min11seg - Ao parar num quebra-mola, observou a pintura no vidro de cristo pendurado na cruz... Sem perceber, sua visão fechou em close naquela imagem e aos poucos a cruz da pintura se fundiu à imagem da cruz de metal, atrás do caixão de Hélio... Então chorou ao  lembrar da imagem do amigo morto, deitado no caixão... - Não esqueceria tão cedo... Talvez nunca. – No mesmo instante teve um flash-back de um momento do velório:

Um rapidíssimo flash-back:

17 de Setembro de 1998 – Quinta


22h45min02seg – Do lado oposto ao caixão, encostado na parede, Guilherme observou os gestos de Geeda: Viu-a acariciando os cabelos do amigo, e dizendo algumas coisas impossíveis de se ouvir, de tão sussurrante que eram as palavras...

22h45min45seg – Geeda iniciou mais uma seqüência de choro.



22h49min – Geeda deu uma pausa nas lágrimas. E por breve momento deixou escapar um sorriso... Um sorriso orgástico. E ao erguer a cabeça seus olhos encontram os de Guilherme que reconhecia aquele sorriso... O sorriso de Cintra... O sorriso de quem tinha conseguido o que queria...

22h49min13seg – Guilherme, de forma lenta e discreta se dirigiu ao caixão, ficou ao lado de Geeda e falou ao pé do ouvido:

- Eu não sei como você fez... Mas agora sei que a morte dele tem dedo seu.

Fim do flash-back

22h51min – Antes do início da praça que dava acesso à igreja, Guilherme despertou das suas lembranças do velório e deu uma frenagem brusca para não atropelar um gato preto que atravessava despreocupado aquela avenida. Por um breve momento sentiu inveja daquela criatura...

“Como eu queria poder estar circulando com essa tranqüilidade”

22h51min13seg – Quase no fim da travessia o gato parou e olhou na direção de Guilherme.  
 
22h51min13seg – Guilherme se arrepiou com a atitude do gato.

22h51min15seg – Guilherme entrou à direita e depois à esquerda, e diminuiu a marcha para contorna um buraco que havia no asfalto. Seguiu em frente.

22h52min – Quando engatou a segunda marcha e vendo agora à sua esquerda a lateral da igreja católica, fixou o olhar na imagem de uma adolescente sorrindo comendo churros... E lembrou-se de quando conheceu Geeda.

Uma breve parada para os pensamentos de Guilherme.


Guilherme tinha acabado de se formar. Mas ainda não administrava a academia “Olimpo Sergipano”. Ainda estava a cargo do pai... Que ele amava profundamente. Costumava dizer que com a morte do pai e da mãe, uma parte dele também morreu. Era verdade. Desde o acidente, Guilherme já não era mais o mesmo. Lembrou-se que só começou a namorar com Geeda graças à intervenção da mãe:

- Gui, meu filho... Você acabou de se formar... Não vai arranjar uma namorada não?
- Aonde minha mãe... A maiorias das mulheres são interesseiras. A senhora quer me ver em maus lençóis?
- Não meu filho... Mas acho que te faria bem.
- E a cupido tem alguma sugestão?
- Maria, por exemplo...
- Maria?
- Sim... Maria... Por que não?
- Mas mãe... Ela é funcionária da academia... Não quero misturar as coisas.
- E daí meu filho? Ela é uma ótima pessoa... E sempre que seu pai viaja, ela perde horas me fazendo companhia... E é tão lindinha... Com um sorriso de gato de Alice.
- Não acho minha mãe... Acho uma metidinha a patricinha e nojentinha...
- Meu filho! Não foi esta a educação que lhe dei.
- Mas mãe... Não ta se vendo pelo narizinho empinadinho dela?
- Meu filho... Se permita ser feliz... Dê-se uma chance de conhecê-la.
- É... Talvez a senhora tenha razão.

Pouco mais de um mês, os dois já estavam namorando.
Entretanto, no dia em que ela foi apresentava oficialmente como namorada, um comentário de Geeda intrigou Guilherme. Ao receber o carinho de todos da família de Guilherme, avós, e pais, (O irmão caçula, como sempre, não saía do quarto para interagir com ninguém.) Guilherme comentou:

- Vá logo marcando a data para eu conhecer sua família, seus pais, seus avós, seus irmãos... E outras datas para nossas famílias se conhecerem.

Com um olhar perdido acompanhando de um sorriso, Geeda serviu-se de uma fatia de torta de morango e disse:

- Meu pai será impossível... Ele faleceu. Minha mãe... No momento certo. Irmãos não tenho... Só um primo que foi criado comigo que considero como tal. Avô e avó não tenho... Só uma tia-avó, que mesmo assim não falo.
- Você não fala com sua tia?
- Tia-avó!
- E qual a diferença?... É o seu sangue... Sua gente... Não há nada que justifique.
- Eu tenho meus motivos... Por favor... Não me pergunte... E vamos mudar de assunto. – Geeda deu um beijo seguido de mais um gracioso sorriso que fez Guilherme mais uma vez transpirar felicidade e amor por todos os poros.


23h09min – Guilherme parou na terceira quadra após a igreja e deu uma freada, engatou a primeira marcha, sinalizou, e entrou à direita. Faltava pouco para chegar ao final de linha... Poucas quadras.

23h09min32seg – No banco do passageiro Hélio reapareceu.

Guilherme não tinha desenvolvido nenhuma mediunidade. Apesar de ter recebido inúmeros convites do amigo, nunca tinha ido ao Centro Espírita. “Talvez, sua imediata aceitação ao convite de Dona Stéphanie, tenha sido por remorso... Engraçado... Não tinha pensado nisso – Concluiu.”

23h09min59seg – Mentalmente Hélio tentou passar alguns conselhos:

“Amigo... Não se guie pela curiosidade... Ou sentimentos que não são nobres. Eu fiz a passagem... Aceite...Tinha que ser... Estava escrito. Volte para os seus. Reze. Reze por Geeda, por você, seu irmão... Sua família."

23h10min32seg – Sem entender o motivo, Guilherme começou a sentir uma energia boa... E sorriu.

“Gui... Um dia você entenderá que nada acontece por acaso...”

23h10min41seg – No banco de trás, ao centro, uma moça de cabelos longos e ruivos, trajando um longo vestido branco começou a comunicar-se com Hélio em pensamento. Era sua guia espiritual.

- Não tente interferir no destino do seu amigo.
- Mas eu só quero ajudá-lo.
- Mesmo assim irmão... Todos temos o livre arbítrio.
- Mas se ele continuar se deixando levar pelas armações de Geeda sua alma entrará num abismo de sentimentos ruins.

- A Lei do amor é perfeita... Se for necessário para evolução dele... Assim acontecerá. E no momento certo, você, Guilherme e a própria Geeda verão como tudo que está acontecendo e aconteceu com todos vocês, está ligado a eventos passados... De outras encarnações.
- Sério?
- Sério.
- Posso ver?
- Sim... No momento certo.
- Outra coisa: E o espírito obsessor que vez por outra intervém nos atos de Guilherme?
- Ele só é obsediado quando abre portas...
- Então devo ficar de braços cruzados?
- Não irmão... Reze... E lembre-se apesar de você já ter tido um ensinamento da sua mãe e de seu pai... Ainda tem muito que aprender.
- O que por exemplo?
- Só foi permitido você se aproximar de Guilherme e sua mãe... Pra você se confortar um pouco... Mas se quer ajuda-los... Deve se concentrar em seus estudos e rezar... Rezar sempre.
- Que assim seja... – Disse Hélio meio inconformado.
- Que assim seja...

23h14min – Hélio e sua guia, assim como chegaram foram embora sem serem percebidos.

23h19min – Guilherme estacionou o Fusquinha de cor laranja, do outro lado da praça, em frente ao barzinho que tinha vizinho ao ponto de ônibus.

23h21min – O celular tocou e mais uma vez, ele ouviu a voz de Geeda:

“Já estou chegando.” “Sente e me espere”

“Tem coisas que nunca mudam... – pensou Guilherme.”

23h23min – Guilherme sentou-se no barzinho em que de vez em quando se reunia com Hélio e alguns amigos. Já fazia uns dois anos, desde a última vez que estivera por ali. Mas tinha uns oito que não via aquele colega.


23h24min – Um garçom ofereceu uma cerveja. Guilherme, apesar de não ter costume, aceitou.

23h24min24seg – Elvislan, colega de escola, do ensino médio, o abordou.

- Posso sentar maluco?

23h24min29seg – Ao reconhecer o amigo, Guilherme levantou-se e deu um abraço.



- Elvislan... Ah! Quanto tempo rapaz! Por onde tem andado?
- Aqui... Ali... Trabalhando... Mas mudando de assunto... Que tragédia com Hélio...
- Pois é.
- Um rapaz tão bom... Não merecia aquilo.

23h25min – O garçom assim que viu que um homem sentou à mesa de Guilherme tratou de providenciar mais um copo e os serviu.

23h25min25seg – Elvislan e Guilherme brindaram.

- Ao grande amigo Hélio!
- Ao Hélio!
- Infelizmente não deu tempo de eu pedir desculpas pra ele.
- Desculpas? Como assim?
- Ele tinha uma namoradinha... Uma baixinha... Morena... De cabelos bem escuros... Que costuma usar óculos vermelhos? De sardas?
- Sim tinha.
- Então... Ele namorou um tempinho com ela... Depois ficou um tempão só? Não foi?
- Foi.
- Pois é rapaz... Acabei ficando com ela num pagode desses da vida.
- Normal... Essa namoradinha dele não agüenta ficar muito tempo sem homem.
- Você a conhecia?
- Um pouco – Disse Guilherme sorrindo da ironia daquela situação.

A conversa se estendeu por mais uma hora e treze garrafas de cerveja...

20 de Setembro de 1998 - Domingo

00h17min – Elvislan e Guilherme pediram uma saideira e a conta.

00h17min03seg – Guilherme olhou para o relógio aborrecido, pois Geeda não tinha dado sinal de vida.

Maria Geeda tem o dom de nos fazer desperdiçar o tempo, pensou.

- E você Guilherme? Que tem feito?
- Estudado muito. Em breve estarei fazendo mestrado.
- Que legal! – Elvislan, já sob efeito da bebida levantou-se e puxou Guilherme para um abraço. – Parabéns...

00h17min09seg – No exato momento em que abraçou o colega, Guilherme olhou para o Fusquinha e teve a impressão de ter visto Maria Geeda sorrindo para ele.
 

- Acho que não vou pegar a saideira...
- Por que rapaz?
- Já estou bêbedo – sorriu – Estou vendo coisas...
- Coisas? Que coisas? – Elvislan perguntou por perguntar.
- Tive a impressão de ter visto a ex de você e Hélio... – Sorriu.
- É Gui... – Elvislan deu um giro de trezentos e sessenta graus e não viu nada... – Você está trêbedo... – sorriu.






00h21min - Guilherme brindou.

­- Saúde aos trêbedos... – Sorriu.
- Saúde.

00h22min – Guilherme pagou a conta se despediu do colega. Olhou para o relógio. E mais uma vez ficou aborrecido por mais uma vez Maria Geeda Petrúcia Leal tê-lo feito de palhaço.

00h23min – Guilherme olhou para o céu e disse quase os berros.

­- Eu vou descobrir Hélio... Vou descobrir!

00h25min – Guilherme com um pouco de dificuldade conseguiu chegar ao seu Fusquinha de cor laranja, muito querido.

00h26min – Guilherme, pegou a avenida canal 4.

00h26min17seg – Começou a fazer manobra de retorno.

00h26min18seg – Em alta velocidade, dirigindo um gol branco, ano 1994, Maria Geeda quase colidiu com o mesmo.

00h26min29seg - Ela deu uma parada brusca quando estava bem perto do fusca de Guilherme, ficando na diagonal frontal com o mesmo.

00h26min32seg - Geeda sorriu, queimou pneu e partiu em alta velocidade.

00h26min38seg – Guilherme acelerou e partiu em perseguição.

00h28min – O Gol, ao passar pelo posto de Gasolina entrou à direita da Avenida Heráclito Rollemberg. Guilherme fez o mesmo.

00h29min – A noventa por hora os dois seguiram praticamente emparelhados. Vez por outra, só por provocação, Geeda reduzia a velocidade. Mas ao avistar a curva da rotatória do Orlando Dantas ela acelerou ao máximo e pegou distancia até sumir em direção à Avenida Adélia Franco.

00h31min – Guilherme depois de acelerar até onde era possível com seu fusquinha, ao avistar a mesma curva da rotatória do Orlando Dantas, percebeu que estava sem freio.

00h31min27seg – Guilherme apertou o freio sucessivas vezes... A velocidade não diminuiu.

00h31min35seg – Guilherme tentou acionar o freio de mão... Não deu certo. O fusquinha não diminuía o seu deslocamento.

00h32min – O Fusquinha bateu de frente a uma barreira de concreto, em frente à curva...


00h32min12seg – Guilherme por não estar usando o cinto de segurança, foi arremessado para fora do veículo indo parar no meio da pracinha que havia na rotatória. Seu corpo rolou várias vezes parando somente quando sua coxa esquerda foi espetada numa barra de ferro.

00h34min – Chorando diante de uma dor que nunca imaginou sentir... Guilherme, encarando a Lua cheia começou a perder os sentidos.



00h35min – Guilherme olhando a lua pensou:

“Bem que eu sabia que essa lua não seria um bom sinal”

00h36min – Guilherme, em plena madrugada, na rotatória do bairro Orlando Dantas... Perdeu os sentidos...

00h39min – Muito próximo de Guilherme, um figura alta, de rosto fino sorria... Era o espírito obsessor que estava ligado à Maria Geeda. Envolto numa nuvem de energias negativas comemorava o desfalecimento de Guilherme. De forma mórbida, estava muito feliz.

00h41min01seg – Guilherme fechou os olhos... E desmaiou.


   -------------------------------------------------------------------------------
Quer saber se Guilherme sobreviveu ao acidente? Quer saber o porquê de Maria Geeda ter cortado relações com sua tia-avó? Quer saber o segredo que há por trás desse evento? Quer saber que fatos aconteceram nas vidas passadas de Guilherme, Hélio e Maria Geeda que justificam os acontecimentos atuais? Quer saber o que Hélio fará para ajudar o amigo acidentado? Quer saber a importante descoberta que Andrei fez graças às deduções à partir do “caduceu” e do “bastão de Asclépio”? Quer saber sobre os próximos passos no plano vingança de Maria Geeda?... Então confira estas e outras respostas nos próximos capítulos da sua novela on-line “MENINA VENENO”!

Nenhum comentário:

Postar um comentário