domingo, 13 de março de 2011

Capítulo 11

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 



Capítulo 11 – Um sonho...
Fim da primeira etapa da vingança de Maria Geeda – Parte 1 de 2
"Há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não devem ser esquecidos"
 

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17 de Setembro de 1998 – Quinta

08h40min – Na Rua do Carmo, Bairro Santo Antônio, numa casa humilde... Num quarto com um adesivo de Hello Kitty colado na porta, e deitada numa pequena cama de solteiro... Maria Geeda Petrúcia Leal, num sono profundo, começou a sonhar.

Uma pausa para o sonho de Maria Geeda...

De frente a uma velha cômoda branca, penteando os cabelos diante de um grande espelho, Maria Geeda Petrúcia Leal fazia o que mais gostava: se arrumava para o bote. Ou seja, dava um trato no visual.

Geeda acentuou a sombra nos olhos (era muito útil quando chorava, pois o borrão comovia as pessoas de forma muito mais rápida), e delineou o contorno para reforçar suas expressões. Enquanto passava a escova em torno dos seus longos cabelos negros que chegavam até a cintura, mergulhou aos poucos em seus pensamentos...
Focalizando sua íris preta-jambo, numa espécie de zoom, ela se viu sentada no quintal da casa da sua tia avó, em Propriá, brincando com um enorme rato de esgoto que tinha conseguido prender entre tijolos. Estava sozinha, era dia de feira.
Ela pegou um frasco de ácido muriático, tirou um dos tijolos deixando o rato preso apenas pelo rabo e uma das patas... Ela precisava ver o olhar do bichinho, não teria sentido fazer a brincadeira sem encará-lo. Com o ácido em mãos, ela deixou cair duas gotas sobre o olho direito do animal e sorriu com a pequena fumaça, e o estouro do globo ocular devido a intensa reação química. Chegou a tossir com o forte cheiro. Mas o prazer de ver aquele ser se contorcendo de agonia compensava a ânsia de vômito que estava tentando controlar. De repente, ela ouviu o barulho da mãe conversando com a tia avó e seu primo, e num golpe rápido soltou o rato, que desesperado, correu loucamente em direção à liberdade do esgoto. Quando todos chegaram no quintal, encontraram Geeda fingindo-se desmaiada...

- Geeda... Geeda... O que aconteceu? – a mãe de Geeda olhou para Renato – pegue um copo d’água!

Renato correu, fez o que lhe foi pedido e entregou a Dona Márcia que jogou um pouco do líquido no rosto da filha. Após uma breve tosse, Geeda “despertou”.

- Que aconteceu minha filha?
- Um rato... Um rato enorme... – Disse Geeda muito trêmula. “Apavorada”
- Onde? – Perguntou Renato se armando com um cabo de vassoura para matar a criatura.
- Ele correu... Correu como doido no quintal... Derrubou o frasco de ácido e quase me queimou. – Geeda começou a chorar. E chorou, chorou, chorou por longos minutos... E fingiu desmaiar novamente.

Após o segundo “desmaio”, Geeda abre os olhos e se vê em plena Avenida Hermes Fontes, escondida entre diversos carros no estacionamento de um estabelecimento comercial. Após ouvir uma voz masculina falando: – Acorda! – Geeda percebe que está com uma pequena blusa e de saia suspensa até metade das cochas... Ela sorri, o susto inicial estava se transformando em prazer. Fica agoniada por não conseguir ver o rosto de quem está com ela naquele momento, curtindo a intimidade sobre o capô de um Chevette prata 82. Por mais que ela tente, não consegue... De tanto esforçar-se para enxergar o rosto do homem, ela fica com o olho ardendo, e por causa disso, pisca várias vezes e para cada piscada, surge um novo rosto masculino...
Ela pisca seis vezes seguida... E aparecem seis homens diferentes... Sorrindo ela diz:
- Vocês poderiam pelo menos dizer o nome... – Pisca o olho novamente. – Surge um sétimo homem,que se aproxima. Ao ficar muito perto, o misterioso homem volta-se pra luz... Geeda grita, ele não tem rosto. Desesperada berra, e a muito custo vira-se de costa. E ao piscar os olhos, se vê mais uma vez na casa da Rua do Carmo no Bairro Santo Antônio, em seu quarto, penteando os cabelos diante da sua cômoda branca. Entretanto, é pega por trás, de forma violenta pelo mesmo homem sem rosto que a empurra de encontro ao espelho. Mais uma vez o susto inicial se transforma em excitação. E com o rosto colado ao espelho, sorrindo, com o homem sem rosto por trás... Geeda vê seus olhos ficarem ofuscados diante de um flash... E reclama:
- Quem está tirando foto? – Silêncio, novo flash. Geeda tenta se desvencilhar, mas os movimentos do homem sem rosto se tornam mais ritmados e intensos. Sentindo as carnes trêmulas Geeda diz numa sorriso suspirado – Meeu liiinndooooo, você não vê que não cai bem uma moça pura, como eu, sair numa foto sorrindo com um homem me pegando por trás? – Geeda é atingida por mais um flash, para cada flash, ela vê uma imagem diferente no espelho: Primeiro flash – Vê Dona Márcia parindo... – Segundo – flash – Dona Márcia, fala pra Geeda que está com 10 anos – Maria este é o seu irmão: o nome dele é Jadir. – Terceiro flash – Geeda vê sua mãe amamentar seu irmãozinho querido. Enquanto olha enternecida, retira lentamente os membros de um gafanhoto que pegou no quintal... Por fim enfia um palito de fósforo no meio da cabeça do inseto. – Quarto flash – Geeda ouve sua tia avó dizendo para sua mãe: - Márcia, sob hipótese alguma dê mel para o seu bebê... Os bebês tendem a se intoxicar e podem até morrer. – Quinto flash – Geeda pede a mãe para pegar seu irmãozinho Jadir no braço, Dona Márcia chora de emoção. – Sexto flash – Renato acorda Maria Geeda que dormia com a cabeça colada em seu ombro, na urgência de uma maternidade. – Maria... Seu irmão... Jadir... Morreu... – Sétimo flash – Geeda, está de novo em seu quarto. Olha para o espelho e vê sete homens ao seu redor, todos segurando uma vela de sete dias... Sete homens...  Sete velas. – Geeda ao piscar os olhos novamente, puxa o homem sem rosto pra luz... Enquanto seus olhos voltam ao normal, ela vislumbra a formação de um olho, de uma boca, de um nariz... Pisca o olho uma última vez, e tem um grande susto: O homem sem rosto se transformou em Hélio que estava de olheiras e com dois algodões enfiados no nariz...
Hélio estava mudo, frio... Morto.
Aflita, Maria Geeda Petrúcia Leal gritou com todas as suas forças!

- Nããããããããããããããooooooooooooooooooooooooo!

10h01min - Geeda foi acordada pela sua mãe Márcia.

- Nããããããããããããããooooooooooooooooooooooooo!

- Acorda Maria!
- Âhn?... Que foi?... Que aconteceu?
- Você teve um pesadelo.
- Pesadelo?
- Foi.
- Que horas são?

Dona Márcia olhou para o relógio de pulso e disse:

- São 10h03min.
- Caramba... Dormi demais.
- Foi.
- Cadê Renato? Ainda está dormindo?
- Não... Ele saiu logo cedo.
- Logo cedo? – Geeda sorriu e se espreguiçou ao mesmo tempo. – Que milagre foi esse?
- Ele foi pra casa do Hélio?
- Geeda... – Dona Márcia abriu a palma da mão, havia dois comprimidos de calmante, e pegou um copo com água que estava numa baqueta à cabeceira da cama – Minha filha... Beba isso, por favor.
- Por que mãe?
- Beba Maria...

10h05min04seg – Geeda tomou os compridos oferecidos pela mãe.

- O que foi mãe?
- Minha filha, você tem visto Hélio?
- Não mãe... Há sete meses que não vejo...
- Minha filha... Se você tinha alguma mágoa em relação a ele... Chegou a hora de perdoar...
- Como assim mãe?
- Maria... Hélio faleceu.
- O quê? Como? Quando?
- Como ainda não sei ao certo... Quem ligou foi aquele amigo dele... O Guilherme... Eu ia bater o telefone, mas ele disse que estava ligando porque sentia que tinha o dever de avisar... Segundo o Guilherme, ele morreu de intoxicação alimentar, e teve seu estado agravado por causa de umas queimaduras...
- Intoxicação? – Perguntou Geeda num nervosismo crescente. – Queimadura?
- É... Parece que houve uma explosão de gás... Um princípio de incêndio ou coisa assim na casa dele.
- Incêndio? – Geeda começou a soluçar tremendo muito e com falta de ar... – Mãe... Não estou entendendo nada...

10h11min – Atordoada, Geeda sentou na cama e passou a mão em seus cabelos várias vezes seguidas.

- Se acalme meu amor... Eu pedi a Renato pra ir lá... Logo, logo teremos mais detalhes.
- Mãe... Não é possível... Mãe... Naquele dia que eu dormi na casa de Raíssa, eu ia passar na casa dele... Iria pedir pra voltar...
- Você não fez isso, não é minha filha? Depois do que ele te fez naquele dia? Te fazer beber? Se intoxicar?
- É... Mãe... – Geeda disse esvaindo-se em lágrimas – Mas eu o amava.
- Minha filha...Você não foi né?
- Não mãe... Jamais desobedeceria a senhora.
- Mas deixa pra lá... O fato é que ele morreu... E agora devemos orar por ele...

10h12min – Geeda iniciou um processo de crise nervosa.

- Mãe... Tínhamos tudo para sermos felizes... Tudo... E agora ele morreu. Morreu.

10h12min33seg – Geeda abraçou a mãe, chorou, chorou, e quando não tinha mais lágrimas começou a vomitar.

10h14min – Dona Márcia deu banho na filha que por já estar sentindo os efeitos do calmante que ingeriu, mal se sustentava em pé.

11h19min – Ainda chorando muito, e sob efeito dos remédios, Maria Geeda dormiu sendo acariciada pela mãe.


21h07min – Geeda acordou com Renato velando seu sono.




- Renato?
- Calma Maria.
- Cadê mãe?
- Está na cozinha.
- Renato...
- Sim... Maria... Hélio morreu... Não foi um sonho.


21h08min – Geeda recomeçou a chorar. Ouvindo os soluços da mesma, Dona Márcia surgiu nervosa.

- Renato! O que você fez?
- Nada tia!
- Eu to bem mãe... – interrompeu Geeda ainda chorando – Mãe, quero ver O Hélio.
- Minha filha pra quê?
- Eu preciso mãe.
- Mas você não está em condições – bronqueou Renato.
- Eu preciso... Quero vê-lo...
- Tem certeza disso minha filha?
- Tenho... Vai me fazer bem.
- Eu vou. – Disse Renato.
- Vamos todos.

21h55min – Dona Márcia, Renato e Geeda chegaram na avenida canal quatro do Bairro Augusto Franco. Casa número 77. Lá estava ocorrendo o velório de Hélio.

Assim que viu Geeda com seus parentes, Dona Stéphanie, mãe de Hélio foi cumprimenta-los. De formação espírita, ela sentia uma dor tranqüila. No lugar de sofrimento, sentia saudade.

21h57min – Maria Geeda abraçou a mãe de Hélio e chorou por muito tempo.

22h45min – Mesmo com o protesto da mãe e do primo, Geeda dirigiu-se ao caixão em que repousava o corpo de Hélio.

22h45min02seg – Do lado oposto ao caixão, encostado na parede, Guilherme observou os gestos de Geeda: Viu-a acariciando os cabelos do amigo, e dizendo algumas coisas impossíveis de se ouvir, de tão sussurrante que eram as palavras...
 
22h45min45seg – Geeda iniciou mais uma seqüência de choro.

22h49min – Geeda deu uma pausa nas lágrimas. E por breve momento deixou escapar um sorriso... Um sorriso orgástico. E ao erguer a cabeça seus olhos encontram os de Guilherme que reconhecia aquele sorriso... O sorriso de Cintra... O sorriso de quem tinha conseguido o que queria...

22h49min13seg – Guilherme, de forma lenta e discreta se dirigiu ao caixão, ficou ao lado de Geeda e falou ao pé do ouvido:

- Eu não sei como você fez... Mas agora sei que a morte dele tem dedo seu.

22h49min30seg – Maria Geeda deu um empurrão em Guilherme que cai sentado.

- Como você ousa me dizer uma coisa dessas!

22h49min38seg – Renato correu em direção da prima.

 - O que este desgraçado te disse?
- Nada... Deixa pra lá... – Disse Geeda chorando muito.
- Rapaz... Será que você não tem consideração nem pelo seu melhor amigo?
- Saia! Daqui!

22h50min – Dona Márcia puxa a filha na direção da rua, mas foi surpreendida com um pedido:

 - Mãe, quero me despedir de Hélio...
- Certo filha.

22h50min32seg – Geeda se aproximou do corpo de Hélio, acariciou os cabelos e deu um beijo na boca.

22h51min – Geeda lançou um olhar sorridente para Guilherme que estava sendo contido por dois homens.

22h51min27seg – Geeda foi ao banheiro.

22h52min – Dona Stéphanie foi conversar com Guilherme.

- Gui... Não tenho nada contra você. Você é um ótimo rapaz e era o melhor amigo do meu filho... Mas por favor... Saia um pouco...

- Mas Dona Stéphanie...
- Por favor meu filho...
- Tudo bem Dona Stéphanie... Tudo bem.
- Meu filho... Posso te dar um conselho?
- Claro Dona Stéphanie.
- Meu filho... Seja qual for o motivo que te faz ter tanta mágoa desta moça... esqueça...
- Ela fez várias perversidades... E como se não bastasse, ainda me traiu.
- Seja o que for, meu filho... Esqueça.
- Mas eu não tenho mágoa... Nem raiva.
- Meu filho... Esqueça...
- Dona Stéphanie... Essa moça é fingida... Com seu jeitinho de moça meiga e indefesa, ela faz barbaridades e sempre acha que está certa... É incapaz de pedir desculpas... É manipuladora...
- Meu filho... Como te disse... Pro seu próprio bem... Esqueça... Se ela é problemática como você diz, reze por ela... Só isso.
- Dona Stéphanie...
- Meu filho... Faça o que digo: esqueça.
- Tudo bem, Dona Stéphanie... Vou seguir seu conselho.
- Faça isso. Olha... Te aguardo no enterro ta? – A mãe de Hélio o abraçou e deu um beijo na testa.
- Eu vou sentir muita falta dele... – Diz Guilherme chorando nos braços de Dona Stéphanie.

23h00min – Renato bateu na porta do banheiro da casa de Hélio.

- Maria... Você está bem?
- Sim primo... Já estou saindo.

23h01min – Geeda tirou da sua pequena bolsa, um bloco de anotações, e após folhear algumas páginas parou, e após ler alguns rabiscos, riscou onde estava escrito: “Etapa um”.
 


23h02min01seg – Geeda de frente ao espelho da pia do banheiro da casa de Hélio, ficou se olhando... Se contemplando... Se namorando... E Sorriu. O mesmo sorriso orgástico, de Cintra que tinha dado alguns minutos atrás...

- Maria... Você está bem?
- Estou Renato... Já vou sair.

23h05min – Enquanto lavou os olhos, o rosto, e tirou um estojo de maquiagem da bolsa para fazer o retoque... Geeda fez um flashback mental e voltou às 2h57min do dia 16 de Setembro de 1998... (ver capítulo 09)



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