sexta-feira, 18 de março de 2011

Capítulo 14

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 

Capítulo 14 – Uma Agulha no palheiro...
"Tamanha a determinação de um homem que o faz percorrer
os caminhos de seus limites até então desconhecidos.
" - Philosophae
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26 de Janeiro de 2009 – Segunda



22h51min – Allan, nervoso, caminhou de um lado para outro chamando a atenção dos vigilantes que estavam na porta de entrada do Pronto Socorro do HJF. Mesmo transtornado, conseguiu perceber que cochicharam algo e concordaram que um deles deveria se aproximar. Foi o que aconteceu.


- Moço... Algum problema?
- Imagina... Meu melhor amigo sofre um acidente... Vem pra cá... E o nome dele não está registrado... O senhor ver algum problema nesta bobagem?
- Calma moço.
- Calma?!
 
22h54min – Allan, apesar de estar rodeado da cor verde (que segundo a cromoterapia acalma as pessoas) em todas as dimensões da recepção do Hospital, não conseguiu diminuir o ritmo dos seus pensamentos, dos seus movimentos, do seu suor... Entretanto, mantinha o raciocínio. E mesmo agoniado, comoveu-se em ver pessoas amontoadas em cadeiras, algumas no chão, outras encostadas na parede quase dormindo em pé... Aguardando notícias dos parentes.

22h55min – Allan respirou fundo e pensou: “Fique calmo, seu nervosismo não vai ajudar em nada.”

22h55min12seg – O Vigilante se recolheu na porta à esquerda da recepção e discretamente chamou Allan para uma conversa.

- Moço... Se a recepcionista disse que seu amigo não está aqui... Não está.
- Ele está aqui!
- Senhor... Se continuar nervoso... Vou pedir para se retirar.

22h55min21seg – Allan tirou a carteira do bolso e mostrou sua identidade funcional.

- Façamos o seguinte: Como o senhor pode ver, sou policial... Eu estou no meio de uma investigação... E gostaria de dar uma circulada... Pode ser?
- Sim... Claro. O Senhor tem alguma idéia de onde seu amigo pode estar?
- Não sei...

22h57min – A recepcionista que ouviu a conversa interrompeu.

- Ele sofreu um acidente, foi?
- Sim.
- Então... Se o acidente foi grave ele pode estar na Unidade de Terapia Intensiva... Do contrário, pode estar no semi-intensivo.
- Como faço para chegar na UTI?
- Faz o seguinte: O Senhor está vendo aquele vigilante lá na ponta esquerda?
- Sim.
- Diga pra ele que deseja ir para UTI, garanto que vai te explicar direitinho.
- Ok.

22h58min23seg – Calmo, Allan se aproximou do vigilante indicado. Na breve caminhada avistou um Senhor moreno que tinha a perna estendida sob um banco... Uma perna muito inchada. No centro, um pouco ao fundo, uma Senhora teimava em enxugar suas próprias lágrimas. Na ponta direita, uma pessoa destoava do ambiente: Olhava para TV suspensa no teto e ria muito. - “As pessoas são estranhas” -  pensou Allan.

- Em que posso ajudar?

22h58min29seg – Mais uma vez Allan se identificou.

- Eu preciso ir a UTI... Como faço?
- Simples: O senhor está vendo aquela moça gordinha de lenço branco pontilhado na cabeça?
- Sim... Estou vendo.
- Um pouco atrás dela, está vendo um senhor deitado numa maca tomando soro?
- Sim.
- Então... O Senhor vai andar por esse corredor... E um pouco antes de se aproximar da  maca, o senhor vai virar a esquerda, e vai entrar na primeira porta... é a escadaria.
- Não tem elevador não?
- Tem...  Mas está quebrado.
- Certo e a UTI... Onde fica?
- No primeiro andar.

23h03min – Allan começou a subir as escadas.


 

Assim que passou pelo primeiro degrau, inevitavelmente, Allan lembrou-se do porquê de estar ali... O fio condutor de toda aquela agonia... Pensou nas loucas teorias de Andrei: “ss - Totenkopf”, semelhanças entre os últimos momentos de vida de um líder nazista e o morto, uma suposta mente criminosa relacionada à comunicação e a política... e agora “ss – Septo de Sabatier” e “Crude ss – Lágrima psicodélica”... Várias peças de um perturbador quebra cabeça. Mas uma coisa era fato: Havia algo de estranho... E alguém estava sendo incomodado com a investigação... Sumiram com uma arcada dentária...





- Meu amigo... Onde  eu estava com a cabeça quando te chamei?... Agora você pode estar morto. – Disse Allan pensando em voz alta.

23h04min – Não muito distante dali, numa das muitas salas do grande Hospital João Alves Filho, uma pessoa encontrava-se um pouco abaixada, falando ao pé do ouvido de Andrei que estava completamente desacordado e tomando soro.


- Senhor Lucas Andrei... Só assim tenho a honra de conhecê-lo. – (A pessoa pegou uma pequena ampola, e enfiou a agulha no frasco, e enquanto conversava sugou o líquido.) – Pena que é sob estas circunstâncias... Você não podia ficar quieto?! Se contentar com a versão do suicídio pura e simplesmente? Mas não... Você tinha que fazer jus ao seu nome... O grande detetive que nunca perdeu um caso! Mas agora Andrei... – (A pessoa levantou, e se aproximou da bolsa de soro pendurada na haste metálica ao lado da maca em que Andrei estava deitado.) – Agora... O famoso Lucas Andrei... Vai morrer!

23h09min – Allan passou pelo último degrau, abriu uma porta e foi atingido por fortes luzes que percorriam todo o corredor. Duas coisas o chocaram: A quantidade de pessoas amontoadas nos corredores, e a luz forte...

23h09min25seg – Uma moça baixinha passou empurrando uma grande caixa azul, usando máscara... Parecia que levava lixo hospitalar. Mesmo atarefada, talvez por achar Allan atraente, a moça parou e perguntou:

- Posso ajudar?
- Oh! Sim... Estou procurando a UTI... Um grande amigo acabou de sofrer um acidente e acredito que ele está aqui.
- Faz o seguinte... O Senhor siga em frente... Lá no final do corredor o senhor entre a direita.
- Lá é a UTI?
- Não... É onde as enfermeiras normalmente se encontram para pegar luvas, máscaras, etc.
- É... Alguém pode ajudar... De qualquer forma obrigado.
- De nada... Qualquer coisa... Estou aqui neste horário... Todos os dias.
- Obrigado... Você é uma simpatia.




23h13min – Allan, enquanto se dirigiu ao fim do corredor não deixou de olhar os rostos das pessoas que estavam deitadas nas macas, em fila, com seus respectivos acompanhantes. Vários rostos abatidos, cansados... Sem esperança... Com a expressão de quem apenas espera uma coisa na vida: - A morte!



Um pequeno Flash-back...

23h04min

...Mas agora Andrei... – (Pessoa levantou e se aproximou da bolsa de soro pendurada na haste metálica ao lado da maca em que Andrei estava deitado.) – Agora... O famoso Lucas Andrei... Vai morrer!

23h04min12seg – A pessoa colocou-se atrás de Andrei.
23h04min13seg – Olhou para o relógio... Afinal seria importante para o relatório.
23h04min15seg – Ao avistar alguns dedos na maçaneta, a pessoa se abaixou.
23h04min16seg – Ouviu duas mulheres conversando... Os dedos continuaram na maçaneta.
23h04min22seg – Os dedos largaram a maçaneta.
23h04min25seg – A Pessoa subiu, colocou-se atrás da haste metálica do soro.
23h04min29seg – Preparou-se para enfiar na bolsa do soro uma substância venenosa.
23h04min30seg – Outra mão surgiu na maçaneta, e duas enfermeiras ficaram conversando.
23h04min31seg – Pessoa levou um susto e derrubou a ampola, que rolou e parou sob a maca.
23h04min35seg – A porta foi aberta.
23h04min35seg – De forma incrivelmente rápida, a pessoa se escondeu sob a cama... No susto, pisou em cima da ampola, quebrando-a.
23h04min38seg – Duas enfermeiras entraram batendo papo, empolgadas:

- Mulher... Ele é tão lindo.
- Se jogue besta!
- Não sei...
- Ta... fique esperando...
- A fila anda viu?

23h04min41seg – As enfermeiras riram bastante.
23h04min45seg – Assim como entrou, a pessoa saiu sem ser vista
23h04min47seg – As enfermeiras tiraram pressão, temperatura de Andrei e continuaram conversando.
23h05min – Terminaram de avaliar Andrei e saíram.
23h06min – Andrei mais uma vez ficou sozinho na sala... Abandonado à própria sorte.

Andrei estava dopado... Não escutou a conversa da “Pessoa” nem o bate-papo descontraído das enfermeiras. Ele estava tendo delírios... Delírios esclarecedores.

Um delírio esclarecedor...

Desde as 21h10min, quando estava preso às ferragens... E repetia para si mesmo: Cinco letras... Cinco letras... Dente tem cinco letras... Den-te. Lucas Andrei começou a se desprender lentamente deste mundo físico. Houve momentos que sentiu uma forte energia no corpo... Ele não podia ver, mas era a ação do médico que tentava traze-lo de volta com o desfribilador... Era tão boa a sensação... Nunca na vida tinha se sentindo tão leve.


De repente, entre um solavanco e outro... – (O mais forte sentiu quando a ambulância que descia a Avenida Hermes Fontes sentido sul-norte entrou de forma brusca à esquerda da Avenida Desembargador Maynard) – Andrei sentiu o corpo cada vez mais leve... E ao levantar o braço direito, viu que saiu um outro braço, uma cópia fiel de si mesmo... Translúcido... Ele estava vendo a própria alma.

Abismado, Andrei pôs as duas mãos diante dos olhos... Olhou a palma e o dorso. Quando descobriu os olhos se viu abaixo, amarrado na maca com um médico e um auxiliar o sacudindo e dando choques em pequenos intervalos... Ele sorriu e começou a ter consciência do que estava experimentado:  “A viagem fora do corpo”... – Que legal, pensou... - (Sempre teve curiosidade sobre os diversos relatos científicos de viagens fora do corpo e experiências de “quase morte”) – Que legal.

Enquanto a alma de Andrei racionalizava aquela experiência, o seu corpo que recebia os primeiros socorros, fora registrado no Hospital João Alves Filho com um nome falso: Marco Rodrigo. Uma documentação já tinha sido providenciada e foi entregue a moça da recepção. Logo o encaminharam para uma sala. Ele já estava fora de perigo. Mas prosseguiu em sua viagem.


Andrei se viu na sala, sozinho. Mas foi por pouco tempo, pois em seguida ouviu gemidos das pessoas no corredor. E se assustou ao ver diante de si umas criaturas brilhantes, de difícil distinção. Viu várias criaturas translúcidas desesperadas deitando sucessivas vezes sobre seus corpos como se quisessem retornar à vida. Outras chegavam a esbofetear o rosto dos seus próprios corpos... Mas não adiantava. Outras eram despertadas e se desprendiam com a ajuda de um guia e tinha uma passagem tranqüila. Outros se recusavam a sair do corpo material e gemiam num som com uma agonia indescritível... A agonia de quem se deparou que envelheceu e não viveu... Que deixou a vida passar. Outros eram recebidos por desafetos e eram arrastados com violência pela penumbra. Apesar de todas estas ações simultâneas serem muito rápidas, seus olhos, (que se estivessem na condição normal veriam uma série de feixes de luz como cometas claros e escuros percorrendo cada leito), por estarem naquela situação especial, conseguiam vislumbrar tudo totalmente estupefato...

Depois de algum tempo, ele esfregou os olhos e finalmente discerniu o que era a figura brilhante à sua frente: Era uma criança... Uma menina...

- O Senhor não deveria estar aí.
- Âhn?
- O Senhor não deveria estar aí.
- E eu deveria estar onde?
- Lá. – A menina apontou pra maca onde o corpo de Lucas Andrei repousava.
- Por quê?
- Seu bobo... Você sabe a resposta.
- Sei?
- Olhe pra sua mão... - disse sorrindo, e sumindo aos poucos.


Andrei olhou pra mão e sentiu um calor, uma picada (foi quando a enfermeira introduziu a agulha do soro), mas num mundo espiritual ele teve outra visão: O dorso da sua mão direita começou a pegar fogo e uma espécie de queimadura em formato de “SS” começou a surgir. Imediatamente de forma muito rápida uma chama subiu, formou uma bola de fogo e diante de si formou uma espécie de tela em que ele vislumbrou os principais acontecimentos que o levaram até ali.

O morto, o andaime com sangue, o fio de pára-raios, a imagem de Himmler estirado no chão morto, as marcas de “ss”, a palavra cruzada de cinco letras... Cinco letras... Na marquise do prédio... Dente tinha cinco letras... Acabara de lembrar... O cartaz do Crude “ss” que era um claro recado do morto... Septo de Sebatier... Uma perseguição...

Andrei se viu novamente dentro do carro, quando tentou tirar o cinto de segurança para sair correndo, pois tinha visto que dois autos vinham em alta velocidade em sua direção... Enquanto tentava se libertar, ouviu ao pé do ouvido uma voz masculina, amargurada e suave que dizia frases desconexas...
- Não querem que eu seja identificado... – Ouvido direito.
- Há muitos segredos... – Ouvido esquerdo.
- Não pode ser esquecido... – Ouvido direito.
- Você está no caminho certo... Você está no caminho certo... Caminho... Certo...

Andrei tentou com todas as forças se libertar do cinto... Mas não conseguiu. Foi atingindo pelos veículos. Naquele momento, sentiu um forte solavanco e caiu sobre a maca, sobre seu corpo físico...




23h13min – Atordoado, e sentindo fortes dores, Lucas Andrei despertou com vagas lembranças do que tinha experimentado.


                                                    Fim do Flash-back

23h13min – Allan, enquanto se dirigiu ao fim do corredor não deixou de olhar os rostos das pessoas que estavam deitadas nas macas, em fila, com seus respectivos acompanhantes. Vários rostos abatidos, cansados... Sem esperança... Com a expressão de quem apenas espera uma coisa na vida: 

- A morte!


23h13min02 – Andrei sentou-se na maca.


23h11min03seg – Com muito esforço, pôs o pé direito apoiando-se com a palma da mão direita na lateral da barra de ferro da maca. Ao sentir o chão frio, apoiou-se com o pé esquerdo... Agora com as duas mãos... E mancando saiu da sala.

23h13min05seg – Allan conversou com uma enfermeira, deu uma olhadinha sorrateira pela janela da UTI e não viu ninguém com as características do amigo. Deveria seguir o plano B.

23h13min08seg – Andrei percorreu um corredor com muito esforço, e depois de andar bastante viu uma sala um pouco escura, e ao perceber que havia um banco parou para descansar.

23h14min – Allan subiu a escada que dava acesso ao segundo andar onde procuraria o amigo na sala de tratamento Semi-Intensivo. Mais uma vez encontrou várias pessoas indo e vindo pelo corredor. E outras estáticas em suas macas.

23h15min02seg – Sentado, Andrei cochilou.

23h15min03seg – Allan, ao passar pela última maca antes do corredor que dava acesso o setor Semi-Intensivo, ao olhar de relance para esquerda viu um rapaz muito parecido com o amigo sentado numa sala escura... - Devo estar vendo coisa. – Pensou.

23h15min07seg – Allan passou pela Pessoa que há poucos minutos atrás tinha tentado matar Andrei... Ela o conhecia, ele, infelizmente, não.

23h16min12seg – Allan não encontrou o amigo. Cabisbaixo voltou por onde veio e ao passar pela sala escura mais uma vez teve a impressão de visto Lucas Andrei. Dessa vez não quis ficar na dúvida, com cuidado para não ser observado, entrou. E teve a certeza que a sua busca tinha terminado.

- Andrei! Andrei!

23h17min – Andrei acordou... Estava grogue.

- Acorda rapaz! – Deu uma sacudida no ombro – Acorda! Sou eu Allan!
- Allan?!
- Claro! – Allan deu um leve tapa no amigo... – Acorda Andrei... Eu sei que sua mente não descansa nunca...

23h17min45seg – Andrei sorriu e os dois amigos se abraçaram.

- Pensei que não vinha mais.
- Deu trabalho te achar.
- Por quê?
- Não registraram sua entrada.
- Impossível!
- Mas não fizeram.
- Talvez tenham usado um nome falso para dificultar...
- É... A troco de quê?
- De me matar.
- Você e suas teorias loucas.
- Allan... Tentaram me matar!
- Andrei... Acidentes acontecem.
- É né?
- E porque iriam querer te matar?
- Epochê! Por causa do que descobri hoje à noite.
- O quê você descobriu?

23h19min06seg – Black-Out... O Hospital João Alves Filho ficou completamente no escuro.

- Essa agora!
- Allan? Você está armado?
- Sim.
- Por quê?
- Estão decididos a me matar... E devem ter pedido reforços.


 

23h19min10seg – No escuro, Allan tirou sua pistola 380 Tauros da cintura e deu um golpe. Em seguida tirou um Colt calibre 38 que estava preso num coldre de perna na sua canela esquerda, e entregou a Andrei.

23h19min11seg – Os dois amigos, em completa escuridão, se recolheram no canto da sala e ficaram de prontidão, com suas armas em punho.



 

23h20min – Com óculos de lente infravermelha três homens começaram a fazer uma busca minuciosa no Hospital João Alves Filho. Naquela completa escuridão... Procuravam uma agulha no palheiro: Lucas Andrei...



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Quer saber quem são os três homens que procuravam Lucas Andrei? Quer saber quem era a tal pessoa que tentou acabar com a vida do detetive... Será Homem?... Mulher? Quer Saber que importante descoberta Andrei fez naquela noite que iniciou o efeito dominó: uma série de eventos com o objetivo de exterminá-lo? Quer saber por que, no HJF, registraram Lucas Andrei com um nome falso ao invés de matá-lo na própria ambulância que o socorreu? Quer saber se Allan e Andrei conseguirão sair ilesos da desagradável experiência de passar horas de completa escuridão no HJF? Quer saber se Guilherme vai descobrir como Maria Geeda matou o seu amigo? Quer saber como andam as investigações do sumiço da arcada dentária? Quer saber que malvadezas, dissimulações, e torturas psicológicas, Maria Geeda Petrúcia Leal planeja pra sua próxima vítima?... Então confira estas e outras respostas nos próximos capítulos da sua novela on-line “MENINA VENENO”!

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