sexta-feira, 1 de abril de 2011

Capítulo 21

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 

Capítulo 21 – Adeus Guilherme... Parte 01

"O importante não é o que fazem do homem,
mas o que ele faz do que fizeram dele." – Jean-Paul Sartre
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Paz no Matadouro - Capital Inicial – CD “Atrás dos olhos” de 1998
Composição: Fe Lemos/ Marcelo Laurent


Estou certo
De que nada sei
Tampouco perto
De onde nasci
De resto é
Tanto pó
Na frente
Do meu nariz
Peque o caminho mais longo entre dois pontos
Alcance com seus dedos os botões corretos
Indique com os olhos, mas não fale nada
Faz o que veio fazer, e siga em paz...

.......................

Solte seus cachorros no matadouro
Eu quero paz no matadouro.


20 de Setembro de 1998 – Domingo

4h15min31seg – Na Rua do Carmo, situada atrás da “Escola Estadual de Primeiro Grau 17 de Março, na casa de número 155, Dona Márcia abriu a porta.

4h15min35seg – Renato passou pela tia de forma rápida e muda, e a esperou do lado de fora.

4h15min37seg – Geeda repetiu o mesmo gesto do primo, contudo ao lançar um olhar pra mãe, deixou a mesma intrigada.

 

- Maria...
- Oi mãe. – Falou Geeda impaciente.
- O que houve com seus olhos?
- Nada.
- Nada?

4h16min04seg – Renato interferiu.

- Ela mudou a cor.
- É... Pus uma lente.
- Maria... Cor verde, Maria?
- Não sei por que este espanto... A senhora sabe que verde é a minha cor preferida.
- E o seu óculos vermelho? Você jogou fora?
- Não. Guardei.
- Maria Geeda Petrúcia Leal... Por que isso agora?
- Eu acho que ela está pirando. – Brincou Renato.

4h16min37seg – Geeda deu língua da forma que lhe era peculiar, pondo a meio sorriso, a língua entre os dentes, dando uma espécie de mordida.

4h16min39seg – Dona Márcia deu um leve tapa no rosto de Renato e disse:

- Não fale isso nem brincando!

4h16min40seg – Geeda, percebendo que sua mãe e seu primo estavam no limiar de não permitir que ela visitasse Guilherme... (Ela não queria de forma nenhuma, nem mesmo sob furacão, deixar de ter o prazer de assistir de camarote o seu ex morrendo) Tratou imediatamente de prender a respiração, espaçando as inspiradas e expiradas para provocar o ataque da sua alergia...

- Mãe! Hélio morreu... E agora Gui...


 

4h16min42seg – Geeda começou a chorar. Com o choro, como de costume, sua renite alérgica começou a atacar, e naturalmente a falta de ar foi questão de tempo. (No íntimo ela estava satisfeita ao ver no olhar do primo  desespero e preocupação... Por dentro ela sorria, ela adorava o dom que tinha de fingir... E amava comover a todos para findar discussões.)



 

4h17min44seg – Renato correu pra cozinha e pegou um copo com água.

4h17min57seg – Dona Márcia tomou o copo de Renato e entregou a filha.

- Acho melhor você não ir...
- Ainda mais com essas mudanças: Lente de contato verde, roupa escura... – Provocou Renato.

4h18min03seg – Sem conseguir disfarçar a satisfação de manipular pessoas, Geeda deu um sorriso e comentou...

- Imagine quando eu puser tatuagem.
- Não fale isso nem brincando. – Protestou Dona Márcia.

4h18min29seg – Geeda terminou de beber água.


4h18min34seg – Colocou o copo na mesa da sala.

4h18min40seg – Empurrou Renato pra fora da casa.

4h18min43seg – Geeda tomou a chave da mãe e também a pôs pra fora.

4h18min48seg – A porta da casa de Maria Geeda foi trancada.

- Vamos embora seus bobocas! – Geeda deu um beijo na testa da mãe e no rosto do primo.

4h18min52seg – Enternecidos pelo gesto de Geeda, o primo e a mãe sorriram.

- Ainda acho melhor você não ir. – Renato comentou de forma amorosa.

4h19min01seg – Maria Geeda pegou na mão direita do primo e da mãe, pôs-se à frente dos dois e olhando nos olhos de cada um, disse de forma dengosa:
 

- Meus amores... Uma pessoa está morrendo... E quer me ver. – Sorriu de maneira sapeca, como criança. - Eu vou e pronto.

4h19min07seg – Dona Márcia fitou o sobrinho, que imediatamente lançou um olhar de aprovação ao apelo da prima.

- Tudo bem minha filha... Quando você diz essa frase... – Sorriu.
- Que frase? – Perguntou em tom de brincadeira e muito mais dengosa.
- “Eu vou e pronto” – Disse Renato sorrindo muito.
- Pois é... Quando você diz essa frase ninguém no mundo muda sua idéia.

4h20min36seg – Todos riram e por poucos minutos os instantes de tensão sumiram.

4h21min – Renato foi até o ponto de Táxi  que havia na frente do colégio “17 de Março”

4h29min03seg – Renato fez o retorno da famosa feirinha, ao fundo da escola, e parou na porta de casa. Dona Márcia e Geeda entraram.

4h29min11seg – No H.J.A.F.; Guilherme continuava a delirar:

- Geeda... Geeda... Geeda...

4h38min21seg – O taxista sinalizou e entrou à esquerda da Rua Japaratuba.

4h38min25seg - Ao olhar para a funerária na esquina da Rua Japaratuba com Rua Muribeca, Geeda começou a lembrar do dia em que traçou o seu plano de vingança.

Uma pausa para flashback...

23 de Janeiro de 1998 – Sexta

21h45min08seg – Na academia “Olimpo Sergipano”, localizada na Avenida João Ribeiro, no Bairro Santo Antônio, Guilhermino Theodoro, carinhosamente chamado pelos amigos de Guilherme ou Gui, alternando momentos calorosos com alguns de calmaria falava algo há pelo menos 40 minutos. À sua frente, com o nariz mais empinado do que o de costume, parecendo uma espécie de Cleópatra, com a cabeça erguida... Como se estivesse olhando um súdito do alto do seu trono, Maria Geeda Petrúcia Leal ouvia atentamente.

- Geeda... Sardinha... Você errou. Eu errei... – Eu não te culpo. Pelo contrário. Eu só tenho a te agradecer.
- Como assim?
- Graças a você cheguei à conclusão que apenas dez por cento das pessoas têm uma noção real do que é um relacionamento sério. De que namorar é respeitar, é companheirismo, é ser realmente romântico, realmente fiel... Namorar é sentir amor puro e pleno como o que está escrito em 1 Coríntios 13, versículo 4 a 8: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor verdadeiro nunca falha.

- O que você quer dizer com isso?
- Dez por cento das pessoas entendem que o verdadeiro relacionamento se constrói dia-a-dia, com respeito, sem caprichos, sem buscar pretextos para justificar seus erros, amam e fazem por onde serem amados...
- E os outros noventa por cento?
- Os outros noventa por cento querem apenas curtir, arranjar pretextos para enganarem suas namoradas, namorados, esposas e esposos e se jogarem sozinhos em ambientes de perdição, onde ninguém é de ninguém... Uns até dão “um tempo” para justificar o desejo de provar o novo.
- Novo? Como assim?
- Cerca de metade destes noventa por cento, até são bem intencionados... E por um curtíssimo tempo, uma semana ou um mês conseguem amar ou ter uma noção aproximada do que é o amor... Mas o que eles mais amam... Sabe o que é?
- O que sabichão?
- O novo. É o sabor da conquista. Por isso nunca ficam muito tempo com ninguém... Por que eles adoram conquistar, de se sentir bem quistos... De manipular o sentimento dos outros. Por isso, mesmo namorando ou casados se permitem ser paquerados com amizades coloridas... E isso é um tipo de traição... Mas não é culpa deles... É a natureza deles.
- E é sabichão?
- Destes noventa por cento, a outra metade... Quando casam vez por outra continuam a se permitir serem cortejados e mergulham em aventuras amorosas... Mesmo casados, vez por outra cederão ao desejo de provar o novo... É mais forte que eles. Um dia... Com o amadurecimento, talvez, passam a entender o real significado do que é o amor. Já com a outra metade desses noventa por cento... Isso nunca vai acontecer.
- Quer dizer que eu não sei o real significado do amor?
- Isso só você pode dizer... Mas não tenho dúvida que em menos de um mês você mostrará aonde se encaixa.
- Posso falar?
- Já estou terminando... Como disse, hoje estou muito feliz... E não vou terminar contigo por um motivo apenas, diria que tenho pelo menos sete ótimos motivos para isso... Coisinhas que você deixou escapar...
- O quê por exemplo, sabichão?
- Você sabe.
- Não sei não... Dá pra ser mais claro!
- Sardinha...
- Não me chame mais assim!... Você não está terminando?... Então pra que expressões carinhosas?...
- Bom... – sorriu - A impaciência mostra a sua real natureza... Como deseja, serei formal.
- Melhor assim.
- Tudo bem. Maria Geeda Petrúcia Leal... Antes eu não percebi este seu lado perverso, de machucar as pessoas querendo... Ou arranjar pretexto para fazer os outros se sentirem culpados... Mas não estou com raiva de você não... Pelo contrário... Só tenho a agradecer.
- Agradecer? Pelo quê?
- Sinceramente... Do fundo do meu coração. Obrigado por me libertar... Por me fazer enxergar quem você é... Não posso dizer que tenho prazer em te conhecer... Por isso, e por pelo menos sete bons motivos, a partir de hoje sou seu ex-namorado... – Guilherme sorriu – Poxa... Só de me ouvir dizendo isso já me sinto aliviado... Tranqüilo... Em paz... Ufa! Pense numa coisa boa!

21h59min03seg – Guilherme prosseguiu com suas colocações. Ele não sabia, mas  nos momentos finais daquela conversa nasceu na mente e no coração de Geeda o desejo de vingança. Também foi a partir daquela ocasião que “Du” seu espírito obsessor começou a ter poder de persuasão sobre ela.

22h11min – Diante de Maria Geeda, Guilherme finalizou:

- Pronto. – Com um choro entalado na garganta – É isso.

22h11min35seg – O telefone tocou.

- Oi... Sou eu... Não está conseguindo dormir?... Faz o seguinte: pegue a bíblia, leia o salmo 91 com muita fé até eu chegar tá? Não vou demorar... Prometo.
- Quem era Guilherme?
- Como quem era? Você sabe quem era!
- Não... Não sei, não fui eu que atendi ao telefone!.
- Olha Geeda, não adianta querer arranjar um pretexto para justificar os seus atos e pousar de vítima como você sempre faz... Estamos juntos há dois anos e meio, sem falar que você já foi minha funcionária... E convive comigo desde que meus pais estavam vivos. Você sabe que era meu irmão!... Que eu cuido dele... Que até hoje ele sente falta dos nossos pais... Que ele não se recuperou do acidente... Você sabe que ele sempre liga pra cá pra saber se estou bem... Se já estou indo pra casa... Que ele só tem a mim neste mundo... Não venha com seus artifícios... Não cola mais... Como disse... Acabou!


22h19min01seg – Silêncio

- Guilherme... Você tem certeza? – Indagou Maria Geeda, muito séria.
- Tenho.
- Você podia dizer tudo... Tudo... Mas não tinha o direito de dizer aquela frase!


Fim do flashback...

20 de Setembro de 1998 – Domingo

4h52min03 – Enquanto despertava das suas lembranças, uma frase não parava de se repetir na mente de Maria Geeda:



“Você não tinha o direito de dizer aquela frase”

“Tudo... Menos aquela frase”

“Você não tinha o direito de dizer aquela frase”


 


4h52min03seg – Guilherme repetia queimando de febre:

- Geeda... Geeda... Geeda...

4h52min10seg – O táxi parou em frente ao Pronto Socorro do H.J.A.F.

4h52min11seg – Geeda abriu a porta do veículo e começou a caminhar na direção da entrada do hospital.

4h52min13seg – Dona Márcia abriu a bolsa, começou a contar o dinheiro e ordenou ao sobrinho:

- Vá com ela... Encontro vocês lá dentro.
- Certo.

4h52min39seg – Maria Geeda e Renato foram barrados por um vigilante.

- Pra onde a senhora pensa que vai, mocinha?
- Nós vamos ao UTI...
- Não é hora pra visitas.
- Fomos chamados.
- Uma pessoa está morrendo... – Geeda começou a chorar – Uma pessoa muito querida.
- Qual o nome do paciente?

4h53min05seg – Dona Márcia apareceu e tratou de responder:

- Guilherme Theodoro... A madrinha dele, Dona Stéphanie, pediu que viéssemos.

4h53min09seg – O colega do vigilante balançou a cabeça de forma positiva após ler uma espécie de caderno de anotações que sempre ficava ao alcance da mão.

4h53min21seg – Um pouco a contragosto o primeiro vigilante autorizou:

 - Podem entrar.

4h57min39seg – Em frente à porta que dava acesso ao corredor da UTI, Dona Stéphanie conversava com o médico quando percebeu que Geeda tinha chegado.


- Ainda bem que você veio!
- Como ele está? – Geeda perguntou aflita.
- Muito mal... – Respondeu o médico.
- Ah! Este o doutor Gilvan... É o médico que está cuidando de Guilherme.
- Posso vê-lo? – Pediu Geeda com uma lágrima consistente que comoveria até Hitler.
- Pode. – Autorizou o médico. – Mas só uma pessoa.
- Posso ir né mãe?
- Pode minha filha.
 
 


4h57min59seg – Feliz com a autorização, Geeda deu novamente um beijo na testa da mãe, do primo, um no rosto do médico e beijou as mãos de Dona Stéphanie como se pedisse uma benção.

- Que menina encantadora. – Comentou o médico.
- É... não é? – Falou Dona Márcia empolgada.
- Esse rapaz tem muita sorte.

4h58min44seg – Enquanto o médico explicava sobre o quadro do paciente a Dona Márcia, Renato e Dona Stéphanie, Maria Geeda Petrúcia Leal entrou na UTI.

4h58min47seg – Geeda olhou para o soro e acompanhando o tubo parou o olhar na agulha que estava enfiada na mão esquerda. Olhou o monitor cardíaco e viu que o coração de Guilherme estava cansado sem forças... Naquele instante ela teve a sensação de que aquela não era uma simples visita... Era uma despedida.

4h58min49seg – Geeda pôs-se ao lado de Guilherme, começou a alisar seus cabelos ruivos. Enquanto o acariciava de forma amorosa, Maria Geeda falou ao pé do ouvido de Guilherme:

- Quem diria Guilherme... Um dia desses estava todo pomposo cheio de si... E me disse aquela frase... – Maria Geeda acariciou a testa do ex, fazendo movimentos circulares com a ponta do dedo indicador da mão direita. - Você não tinha o direito de dizer aquela frase – Deixou cair uma gota de lágrima. – Hoje está aí morrendo... – Deu um quase que imperceptível sorriso, mas por dentro gargalhava – Quer saber como eu provoquei seu acidente? Como consegui um carro? Como consegui sair sem ser vista? – Caiu uma segunda lágrima. – Não se preocupe, vou te contar tudo direitinho. – Deu novo sorriso, acompanhado de uma terceira gota de lágrima. – Apesar de tudo, você merece morrer sabendo... – Deu um leve beijo na testa e na boca de Guilherme - Meu amor.


4h59min01seg – Os primeiros raios de Sol que estavam nascendo começaram a aparecer... 
 

4h59min02seg – Junto com o Sol... Apareceram novas lágrimas de Maria Geeda Petrúcia Leal.


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Quer saber qual foi a misteriosa frase que originou o plano de Vingança de Maria Geeda Petrúcia Leal? Quer saber como foi a despedida de Maria Geeda com Guilherme e o que ela fará com seu plano de vingança? Quer saber passo a passo como ela conseguiu armar o acidente que vitimou Guilherme? Quer saber sobre a relação de “Du’’ com Geeda em outras encarnações? Quer saber quais foram as últimas palavras de Guilherme? Quer saber que pistas Lucas Andrei encontrará jogando Xadrez no tabuleiro “Aracaju”? Quer saber como foi a nova reunião de Allan com o Coordenador do COGERP? Quer saber que importante testemunha Andrei encontrou investigando o suposto suicídio? Quer saber quais as surpresas que o mistério do suposto suicídio do edifício Maria Feliciana reserva para os próximos capítulos? Então confira estas e outras respostas nos próximos capítulos da sua novela on-line “MENINA VENENO”!

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