segunda-feira, 25 de abril de 2011

Capítulo 27

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 


Capítulo 27 – Adeus Guilherme... Última parte.
"A morte nos ensina a transitoriedade de todas as coisas." - Leo Buscaglia
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VERSOS ÍNTIMOS - Augusto dos Anjos



Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro da tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

20 de Setembro de 1998 – Domingo

6h23min04seg – Enquanto se dirigia a UTI cardíaca, Dr. Gilvan tentou animar Dona Stéphanie:


- Estou admirado com a força da Senhora... Normalmente familiares desabam em momentos como esse... E num caso de perda recente de um filho, é no mínimo surpreendente.


6h23min07seg – Dona Stéphanie parou, deu uma longa inspirada e fitando o médico começou a falar com a forma doce que lhe era peculiar.

- Dr. Gilvan... O que tenho não é força, é  minha fé em Deus e na justiça da “Lei do amor”... Sinto um dor sim... Uma dor diferente... Saudade. Ao mesmo tempo... Uma sensação de paz por saber que meu afilhado, se por vontade de Deus, fizer a “passagem”... Apenas estará retornando ao mundo dos espíritos.

- Entendo. – Respondeu Dr. Gilvan encantado com a serenidade daquela Senhora.

6h24min15seg – Dr. Gilvan recomeçou a andar, e Dona Stéphanie continuou falando enquanto o seguiu.

- Sabe Doutor... Não é fácil pra mim. Perdi meu filho... E ver Gui... Um menino de ouro, neste estado... Não é fácil... Mas não é justo com meu Hélio, Gui... Nem comigo mesmo, que eu sofra ou que transpareça sofrimento... Pois o espírito é sensível à lembrança e aos lamentos daqueles que amou, pois uma dor incessante e irracional o afeta penosamente, porque ele vê nessa dor excessiva uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus... E isso é um obstáculo para o progresso ou quem sabe nosso reencontro.
6h26min44seg – O médico e a madrinha de Guilherme pararam em frente à entrada da UTI cardíaca do H.J.A.F.


- É melhor a senhora entrar sozinha. Não se preocupe... Eu estarei por perto.

6h26min47seg – Dona Stéphanie balançou a cabeça concordando e em seguida entrou. Ao ver Guilherme bastante abatido e com olhar de quem sabia que iria morrer, ela fez um esforço sobre-humano para não transparecer que à sua maneira também sofria, por isso  pediu apoio aos espíritos de luz.

6h26min51seg – Elda, mentora espiritual de Hélio, surgiu na sala provocando um arrepio em Guilherme e sua madrinha. Durante algum tempo ela ficou irradiando fluidos de amor e pensamentos positivos. Sentindo-se energizada, Dona Stéphanie começou a falar:


- Meu filho... Como você está?
- Melhorzinho.
- O médico disse que você queria falar comigo.
- Quero sim madrinha.
- Fala meu filho.
- Cadê meu irmão?
- Está com Zanza. (ver capítulo 18, 2h28min03seg)
- O que ele sabe?
- Nada... Preferimos não contar, ainda. Há poucos instantes falei com Zanza e soube que ele está dormindo.
- Melhor assim.

6h29min38seg – Guilherme tentou se sentar na maca. Mas por sentir muita dor acabou desistindo. Percebendo que o afilhado estava agoniado, Dona Stéphanie disse:



- Fique quieto, meu filho...
- Eu preciso falar, madrinha.
- Estou aqui...
- Eu sei que não passo de hoje.
- Não fale assim Gui... Confie em Deus!
- Eu sinto madrinha.
- Confie em Deus!
- Eu confio madrinha.
- Todos que te amam estão rezando por você!
- Sei disso madrinha... A senhora lembra da última vez que conversamos?... Logo após a morte de Hélio?
- Lembro meu filho. Falamos muitas coisas e até te convidei para ir ao centro espírita comigo.
- Se por milagre eu saísse daqui... Iria. – Sorriu sem graça.

- Não fale assim meu filho.
 

- A senhora lembra que me disse pra esquecer Geeda?
- Lembro.
- Lembra que eu disse que o problema que tenho com ela não é de ordem sentimental? Geeda é o tipo de pessoa que quando você conhece o que realmente existe por trás da máscara de mulher cuja fidelidade está acima de tudo, que se diz romântica o tempo inteiro, que se auto-proclama como mulher pra casar... Quando se percebe que tudo é uma interpretação, uma farsa... – Naturalmente a gente esquece... E agente agradece a Deus por ter nos aberto os olhos e ter nos dado força para tirar uma pessoa assim da nossa vida... Lembra que a senhora me perguntou se eu estava sendo sincero consigo mesmo?
- E você está?
- Estou. Madrinha... Na noite em que terminei com “aquela coisa”... Eu disse pra ela: “Geeda... De hoje em diante, nada do que você faça, deixe de fazer, pense ou deixe de pensar, me interessa... E é a mais pura verdade... Mas aquela menina é perversa... E não me deixou em paz... Eu não delirei quando disse que ela tentou me matar... Mas não tenho como provar!
- Meu filho esqueça!
- Madrinha... Eu queria te fazer um pedido.
- O que quiser, meu filho.
- Se eu morrer...
- A gente não morre meu filho... A gente se muda pra outra morada... Nos libertamos.
- Certo madrinha.

6h35min57seg – Guilherme, com muito esforço, levantou a mão esquerda e segurou a mão direita de Dona Stéphanie.

- Madrinha... Pelo amor e amizade que sempre tive por Hélio e pela Senhora... Por tudo que representamos... Pela amizade que a senhora tinha com meus pais... Se eu morrer... Se eu partir... Cuide do meu irmão. A senhora sabe que meu parente mais próximo é vô João Baptista... E ele mora na Paraíba... E é muito velho.

- Não precisa pedir Gui... Sei que a morte dos meus queridos amigos não foi fácil pra você nem pra nosso querido “sonhador”... Sei que ele precisa de cuidados.

- Obrigado... Sei que a senhora jamais nos abandonaria!
- Sempre olharei por ele... E o adotarei se preciso for. Não se preocupe.
- A senhora é maravilhosa.
- Se é só isso... Pode tratar de dormir um pouco.
- Não... Tem mais uma coisa!
- Que tal deixar pra quando você acordar?
- Não, madrinha... Sei que não passarei de hoje.
- Não fale assim! Desse jeito vou embora.
- Madrinha... Só queria pedir três coisinhas bem simples.
- Fala meu filho.
- Primeiro: Diga ao meu irmão... Que o amo muito!
- Ele sabe Gui.
- Diga que mandei um abraço e sempre zelarei por ele...
- Ele sabe...
- Segundo: Por tudo que é mais sagrado: Não permita que aquela criatura compareça ao meu velório e enterro. Eu não gostaria!
- Você está exagerando meu filho... Ela até pode ser mimada... Mas é apenas uma menina.
- É uma pessoa arrogante, manipuladora, mimada... Que se diz romântica, mas na verdade só gosta de ser bajulada... Ela não é uma simples menina... É venenosa... É uma Menina Veneno!
- Meu filho... Esqueça... Isso não está te fazendo bem!
- Por último madrinha... Eu escrevi uma carta com todos os podres daquela criatura. Tudo que ela fez a mim e a outras pessoas. Não escondi em casa... Escondi num local bem seguro... Quero que um dia esta carta seja entregue para meu irmão.
- Esqueça meu filho... Se concentre na sua saúde.
- Madrinha... Guardei a carta...

6h41min02seg – Guilherme percebeu que Geeda estava escondida atrás da parede à direita da UTI... E ao tentar falar para a madrinha o local em que guardou o “Dossiê” sobre Maria Geeda, teve uma falta de ar que acelerou os batimentos do coração...

06h41min05seg – Dona Stéphanie olhou pra trás e não viu ninguém.

6h41min09seg – Maria Geeda conseguiu voltar para a sala de visitas sem que Dona Stéphanie a visse e percebesse que foi espionada o tempo inteiro.

6h41min11seg – O monitor cardíaco começou a mostrar evidências de um novo ataque...

6h41min15seg – Guilherme brigou com todas as forças para sorver oxigênio mas não conseguiu.


6h41min16seg – Dr. Gilvan entrou rápido e auscultou o pulmão de Guilherme.


6h41min17seg – Um enfermeiro conduziu Dona Stéphanie pra Sala de visitas. Enquanto retornou, a mesma ouviu Dr. Gilvan falar:

- Edema pulmonar!... Crise hipertensiva... Administre oxigênio e nitroprussiato de sódio!


6h42min11seg – Em pé, na frente de um crucifixo grande, Maria Geeda Petrúcia Leal começou a rezar:

- Meu Deus... Não deixe que Guilherme morra! Ele não pode se livrar de mim facilmente... Ele não podia ter me deixado... Não podia me dizer aquela frase... Minha vingança está apenas começando... Me ajuda, meu Deus!... Me ajuda a terminar minha vingança... Ele tem que viver!... Tem que viver!...


6h43min25seg – Iniciando uma desesperada crise de choro, Geeda apertou as mãos com tanta força que quebrou unhas e sangrou.

- Você não pode morrer Guilherme! Não pode! Me ajude meu Deus!


6h43min26seg – Dona Stéphanie, por ter ouvido apenas o trecho: “Me ajude me Deus”, interveio:

- Ele vai nos ajudar... Quer companhia em suas orações?
- Claro Dona Stéphanie!
- Você é uma menina de ouro Geeda... Pena que Gui esteja transtornado.
- Eu não o culpo Dona Stéphanie... Eu só quero o bem dele.
- Sei disso menina.

6h45min39seg – Maria Geeda ajoelhou-se diante do crucifixo, segurou a mão de Dona Stéphanie e começou a rezar “o pai nosso.

- Pai nosso... Que estás no céu...

6h52min40seg – Ao puxar pela terceira vez as orações em nome de Guilherme, Geeda teve seu “show” de solidariedade interrompido pela chegada do médico.

6h52min41seg – Geeda e a madrinha de Guilherme levantaram.

6h52min53seg – Dr. Gilvan, encarando alternadamente as duas mulheres, começou a falar:

- Ele continua na UTI... A pressão sistólica ficou durante um tempo em 170... E foi abaixada pra não haver hipoperfusão dos órgãos... Ele corre risco de sofrer derrame, mais alguns infartos ou cegueira.
- Meu Deus! – Chorou Geeda abraçando Dona Stéphanie.


6h52min58seg – O bip que estava preso à cintura do Dr. Gilvan começou a soar. Ele voltou correndo pra UTI.

6h53min09seg – Dona Márcia após alguns segundos conseguiu acalmar Geeda que chorava sem parar.

- Geeda, não se despespere!
- Ele não pode morrer Dona Stéphanie! Não é justo!
- A justiça só pertence a Deus, Geeda.
- Eu o quero vivo Dona Stéphanie! Vivo! – Geeda abraçou-a mais uma vez.
- Vamos rezar: - As duas tomaram posição frente ao crucifixo da sala de visitas. – Pai nosso...

6h58min01seg – Geeda e Dona Stéphanie fizeram mais sete ciclos de oração.

7h36min12seg – Dr. Gilvan retornou com uma expressão facial muito séria.

- Dona Stéphanie... Guilherme teve um AVC... E entrou em coma.
- Meu Deus! – Geeda gritou pondo as mãos na cabeça.
- Não vamos desesperar... A esperança é a última que morre.
- Ele está em coma Dona Stéphanie! Coma! Coma!

7h36min15seg – Enquanto a alma de Guilherme se desprendeu do corpo, Maria Geeda Petrúcia Leal, inconformada por ter uma parte dos seus planos frustrado, ficou chorando sem parar.

 
  

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