sexta-feira, 22 de abril de 2011

Capítulo 26

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 


Capítulo 26 – Adeus Guilherme... Parte 03

"Coragem é aquilo que é necessário para levantar-se e falar... Coragem é também o que é preciso para sentar-se e ouvir.” – Sir WINSTON CHURCHILL
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Giulia - Capital Inicial – CD “Atrás dos olhos” de 1998
Composição: Dinho Ouro Preto




Agora eu já posso morrer em paz

Eu tenho um milhão de contas a pagar

Mas agora tanto faz...


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Eu começo a flutuar
Estou nas nuvens
Já as posso até tocar...

20 de Setembro de 1998 – Domingo

5h35min13seg – O coração de Guilherme não agüentou a sutil provocação de Geeda e começou a disparar. Irritado Guilherme puxou a bolsa do soro com violência e atirou na direção de Geeda.

- Cínica!
- Meu filho... Calma! – Dona Stéphanie segurou o ombro de Guilherme e lançou um olhar amoroso – Não foi isso que seus pais te ensinaram. Além do mais, ela só veio por que você ficou a noite inteira chamando por ela.
- Eu não a chamei madrinha... Eu repeti a noite inteira o nome de quem provocou meu acidente... O nome de quem tentou me matar... O nome de uma assassina!

5h35min17seg – O coração de Guilherme depois de muito acelerar, não agüentou e subitamente parou.

 

5h35min18seg – O monitor cardíaco mostrou sucessivos picos nos batimentos... Muitas variações... Guilherme teve uma parada cardíaca.

5h35min19seg – Dr. Gilvan correu para UTI.



5h35min20seg - Seguido por um enfermeiro, pegou um desfibrilador, desconectou as placas e sinalizou para se realizar a carga do mesmo.

5h35min21seg – Um segundo enfermeiro deixou o tórax de Guilherme nu.


5h35min22seg – Com o desfibrilador carregado, Dr. Gilvan encostou as duas placas do aparelho, um sobre o pulmão esquerdo, um pouco acima do mamilo, outro à direita e diagonal em relação ao primeiro... 



5h35min23seg - Dr. Gilvan começou a falar sucessivas vezes:


- Pra trás!... Carregando... Pra trás!... Carregando... Pra trás!


5h35min24seg – Percebendo que impulsivamente os visitantes de Guilherme se aproximavam, um outro enfermeiro pediu para que estes fossem pra sala de visitas e garantiu que assim que possível seriam informados sobre o quadro de saúde do paciente.


5h35min25seg – Dr. Gilvan persistiu na tentativa de reanimar o sofrido coração de Guilherme. Diante de cada descarga o corpo deu um pulo na maca. Era uma cena forte... Uma agressiva demonstração do quanto nós somos frágeis.


Carregando... Pra trás!... Carregando... Pra trás!


5h35min29seg – Na sala de visitas, Maria Geeda Petrúcia Leal abraçou a mãe e teve uma crise de choro que como sempre, atacou sua renite alérgica provocando falta de ar.


- Calma minha filha! Muita calma!


5h35min31seg – Dona Márcia ficou acariciando os longos cabelos negros da filha.


5h35min33seg – Inconformado, Renato comentou:

- Eu sabia que não deveríamos vir... Eu sabia!


5h35min37seg – Emocionada, Dona Stéphanie, olhou Dona Márcia no fundo dos seus olhos e de forma muito carinhosa disse:


- Desculpa... Guilherme não devia dizer aquelas barbaridades.

- Aonde já se viu? Chamar Geeda de assassina! – Bradou Renato.

- Deve ser efeito do remédio. – Ponderou Dona Stéphanie.

- Mesmo sendo efeito do remédio não se justifica... Olha o estado da menina! – Protestou Dona Márcia.


5h37min42seg - Geeda, caprichando na expressão facial abatida, mostrou-se com as sardas do seu rosto totalmente ruborizada.


- Eu sei... Mas repito: Desculpa... Ele está delirando muito.

- Dá pra notar... Como Maria seria responsável pelo acidente dele? Primeiro: ela não saiu de casa... Segundo: não temos carro... Terceiro: Maria não sabe dirigir.

- Eu até queria muito aprender... Mas não tenho nervos pra isso. Mainha já tentou, inclusive, me convencer a fazer uma auto-escola... Mas eu simplesmente não consigo... – Geeda recomeçou a chorar e abraçou a mãe.

- Minha filha é uma menina de ouro... Pessoas sensíveis e amorosas como ela não se vê mais.

- Concordo Dona Márcia... É uma pena que meu afilhado não enxergue isso.

- Geeda ser responsável pelo acidente... Era melhor ele ter dito que viu um duende passando por ele... Absurdo! – Renato pensou em voz alta.

- Renato... Eu entendo que você esteja com raiva... Mas isso não ajuda nem a Geeda nem a você. Delirando ou não... Guilherme agiu errado. O melhor que temos a fazer é rezarmos por ele.


5h37min01seg – Por ser mestre na arte de em momentos oportunos, dizer “frases certas” e expressões chorosas, emocionantes e calculadas, Maria Geeda desvencilhou-se da mãe e abraçou Dona Stéphanie.


- Eu não sinto raiva Dona Stéphanie... Quero muito o bem dele... Que tal rezarmos juntas?

- Você não existe menina. – Dona Stéphanie comentou muito emocionada.


5h37min03seg – Impaciente Renato disse:


- Eu não sei vocês... Mas eu não tenho mais clima pra ficar aqui e esperar notícias de um cidadão que mesmo morrendo fica difamando minha prima!

- Eu também vou embora... Desculpa Dona Stéphanie... Eu aceito suas desculpas...

Mas como Renato disse... Eu também não tenho condições de continuar... – Olhou pra filha. – Vamos Maria?

- Mãe... Eu gostaria de ficar... Posso?

- Pra quê minha filha?

- Mãe... Ele precisa de mim... Mesmo que ele não queira me ver... Quero fazer companhia a Dona Stéphanie.

- Não minha filha... (Ouvindo Dona Stéphanie usar a expressão “minha filha” que tanto odiava, por muito pouco Geeda deixou passar que estava simulando comoção e solidariedade... Mas os anos de experiência transformaram Maria Geeda Petrúcia Leal numa ótima “atriz” nos momentos mais adversos. Por isso, mesmo com uma vontade escondida de esbofetear Dona Stéphanie, ela improvisou um beijo na testa da mesma.) – Se quiser ir, fique à vontade. – Falou com um choro entalado na garganta.

- Eu quero ficar.

- Tem certeza Maria?

- Tenho minha mãe...


5h39min11seg – Dona Stéphanie, segurou as duas mãos de Maria Geeda, e mais emocionada disse:


- Maria... É uma pena que meu afilhado não enxergue como você é uma pessoa linda por dentro  e por fora... Você daria uma ótima esposa... Uma ótima mãe.

- Do jeito que essa menina troca de namorado... É mais fácil virar titia. – Brincou Dona Márcia.

- Não conte comigo pra virar titia... – Falou Renato menos tenso.

- É só uma maré de azar... Tenho certeza que mesmo não sendo Guilherme, um dia vou pro altar... Afinal – sorriu – Como sempre digo: Sou uma mulher pra casar!


5h40min01seg – Por ter falado de forma dengosa e sapeca, Geeda conseguiu dissipar a tensão.


- Dona Stéphanie... Me desculpa, mas realmente preciso ir.

- Eu também. – Emendou Renato.

- Entendo... Se quiser ir... Tudo bem, Geeda.

- Não Dona Stéphanie... Se a senhora não se incomoda, gostaria de fazer companhia.

- Como vou me incomodar menina?


5h41min02seg – Geeda despediu-se do primo e da mãe. Em seguida sentou-se num banco ao lado de Dona Stéphanie, onde, segurando a mão da mesma, ficou conversando por muito tempo.


 - Geeda... Não deve estar sendo fácil pra você. Primeiro Hélio morreu, agora Gui... Que está do jeito que está.

- E a senhora? Como está? Minha maior preocupação é como a senhora está se sentindo... Sei que não é fácil pra uma mãe perder um filho... – Geeda deixou cair uma lágrima... – Eu falando assim... Nem sei o que a senhora pensa de mim... Primeiro namorei Gui... E depois o melhor amigo dele...

- Minha filha... Não se culpe... Sei que vocês não planejaram... Eu sei a índole do Hélio... Sei que ele tentou convencer ao Gui a te procurar quando vocês romperam... Mas Gui é cabeça dura... E vocês acabaram se gostando... – Geeda começou a verter um rio de lágrimas – Não chore “minha filha” (por ter mais uma vez ouvido a expressão que tanto odiava Geeda interrompeu o choro, mas manteve uma expressão abatida.)


5h42min11seg – Geeda segurou as mãos,  fitou os olhos de Dona Stéphanie e enxugando as lágrimas disse:


 - É... O que eu senti por Hélio não foi planejado... Aconteceu... E foi muito bom... Seu filho era uma pessoa maravilhosa Dona Stéphanie... Pena que Deus o levou tão cedo.

- Obrigado Geeda... Mas já passou... Ele está sendo assistido pelos nossos irmãos de luz.

- Mesmo? – (Deixou escapar uma fisionomia preocupada) Dona Stéphanie... Lá do outro lado... As pessoas lembram de como morreram? De pessoas que conheceram na vida?

- Sim.

- Interessante.

- Você deveria freqüentar algum centro. Engraçado... Horas antes do acidente de Gui ele tinha dito que iria comigo na semana que vem. – Dona Stéphanie começou a chorar.

- Se a senhora quiser, posso ir.

- Não vá só pra me fazer companhia... Só vá se quiser.

- Eu sei... Confesso que tenho um certo medo.

- Entendo... Se quiser ir será bem vinda... E pra ser sincera... Sinto que você está precisando.

- Realmente... – Caiu uma lágrima.

- Não digo isso pela perda de Hélio e o acidente de Gui... Sem falar no fato de ser acusada de provocar o acidente. – Sorriu meio sem graça.

- Isso me magoou muito Dona Stéphanie... – Ele só faz isso porque sabe que sou sensível... – Geeda encarou a madrinha de Guilherme – Mas quero que a senhora saiba que aconteça o que acontecer... Sempre serei sua amiga... Pois se tem uma coisa que me orgulho é de ser amiga de todas minhas ex-sogras... E com a senhora não será diferente... Sempre serei sua amiga... A senhora sempre poderá contar comigo!

- Obrigada pelo carinho Geeda... Mas olha... Se você não se sentir preparada para ir a algum centro espírita tudo bem... Há tempo pra tudo... Há muita coisa pra se fazer... Você pode, por exemplo, praticar Yoga...

- Já pensei nisso... Quem sabe um dia... Mas me matriculei numa academia de Kung Fu... Há uma filosofia interessante nesta arte marcial. Vou experimentar... Preciso aprender a me defender... As pessoas se aproveitam muito da minha sensibilidade... Por eu ser indefesa...

- Muito bom “minha filha”... – (Geeda estava a ponto de dar um grito, irritada pensou: Essa velha não vai parar de falar “minha filha” não?) - Distraia a mente e a alivie. – Aconselhou Dona Stéphanie.


6h21min05seg – Dr. Gilvan interrompeu a conversa no momento em que Maria Geeda abraçava Dona Stéphanie e repousava a cabeça da mesma sobre o seu ombro.


               
- Dona Stéphanie...

- Pode falar doutor.

- Seu afilhado teve um bloqueio atrioventricular de primeiro grau... Teve alguns momentos de batimentos irregulares e acelerados que culminou numa parada cardíaca, mas conseguimos reverter... Apesar de ainda apresentar um quadro grave... Está um pouco mais estável.

- Ele ainda corre risco de perder a vida?

- Sim...

- Ele vai morrer? – Geeda perguntou chorando.

- Se houver piora, sim... Mas por enquanto, como disse, está estável.

- Ele está dormindo?

- Não... Está acordado e insistiu para falar com a senhora, Dona Stéphanie.

- Agora?

- Agora.



6h21min59seg – Geeda balançou a cabeça de forma positiva e disse:




- Vá tranqüila, Dona Stépanie... Não vou abandonar a senhora... Ficarei rezando... E estarei aqui quando voltar.


6h22min04seg – Dona Stéphanie foi guiada pelo Dr. Gilvan para ouvir as últimas palavras de Guilherme... Abatida, ela sentia que ainda naquele dia daria adeus ao seu afilhado.

  





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