quarta-feira, 30 de março de 2011

Capítulo 20

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 

Capítulo 20 – Um jogo... SS: Sinais e Símbolos...

"Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos,
mas também pelo que deixamos de fazer."
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27 de Janeiro de 2009 – Terça

3h46min02seg – Apesar de se concentrar na figura que estava iluminando, Allan não conseguiu extrair nenhum significado.
 

- Andrei... Não sei como você consegue.
- Consigo o quê?
- Como você consegue ler estes recados.
- Epoche! Fenomenologia, intuição, raciocínio lógico, e experiência policial.
- Quando este caso acabar vou querer umas explicações.
- Epoche... Mas não precisa esperar tanto, se fosse para resumir diria: É um estudo constante de sinais e símbolos... Abordando os objetos do conhecimento tais como aparecem.
- Não entendi nada. – Sorriu Allan.

- Simples: Pra nós fenomenológicos, o fato não é, ele significa!
- E?
- Epoche! A consciência é doadora de sentido, fonte de significado para o mundo. Conhecer é um processo que não acaba nunca, é uma exploração exaustiva do mundo. No entanto, é bom lembrar que a consciência que o homem tem do mundo é mais ampla que o mero conhecimento intelectual, pois a consciência é fonte de intencionalidades não só cognitivas mas afetivas e práticas. O olhar do homem sobre o mundo é o ato pelo qual o homem experiencia o mundo, percebendo, imaginando, julgando,amando, temendo, etc.
- E qual a relação com nosso caso?
- Epoche! O próprio símbolo que encontramos da paradoxoesimetria é muito utilizado nos estudos fenomenológicos.
- Então o morto conhecia essa filosofia?
- Talvez sim... Talvez não.
- Não entendi... Se ele colocou aqui em cima um símbolo que é usado pela corrente filosófica que você em seu hobby se debruça... Então conhecia.
- Talvez. Uma coisa é fato: Ele quis dirigir seus recados para alguém que tinha tal conhecimento, alguém que como eu e todos os fenomenológicos entendem que a coisa não é... Ela significa. É o que ele está gritando com este símbolo que acabei de encontrar.
- Já ia perguntar isso. Como eu disse... Não sei como você consegue ler algum recado... Pra mim é tão simples.
- Epoche. – Andrei sorriu. - Vou te indicar um livro: "O Método Fenomenológico na Pesquisa" de Daniel Augusto Moreira.

3h51min00seg – Allan iluminou toda a extensão da figura que tinha acabado de encontrar.

 
- O que é essa figura pra você, Allan?
- Sinceramente?
- Epoche!
- Pra mim é um simples “X” escrito com sangue...
- Como te disse, meu amigo Allan... O fato não é... Ele significa.
- Pra mim o fato é que alguém pintou um “X”... E ele significa ser um “X.”

3h54min00seg – Andrei ficou muito sério, tomou a lanterna da mão de Allan.

 - Preste atenção Allan!... Se encararmos esse “X” a partir do ângulo em que o moto-taxista “Boquinha” viu alguém (ver capítulo 07 – 18h10min) aqui em cima olhando pra baixo, podemos entendê-lo como um verdadeiro “X”, a penúltima letra do nosso alfabeto.
- Sim... E daí?
- Epoche. – Andrei sorriu. – Você realmente quer saber?
- Claro.
- Como te disse é um recado explícito de que ele queria que eu investigasse esse caso.
- Então diga logo!
- Epoche... Mas a explicação é longa.
- Lucas Andrei, meu amigo... São 3h59min... Está quase amanhecendo sabia? E praticamente não dormi.
- Você quer ou não saber?
- Já estamos aqui mesmo... Prossiga.
- Tudo bem. – Andrei sorriu – Pra você entender, vamos passear um pouco na história de Aracaju.
- Como é Andrei?
Tabuleiro Aracaju, projeto original

- É sério! Preste atenção.
- Certo... Sou todo ouvidos.
- Vou tentar ser o mais resumido e objetivo possível: A fundação da nossa cidade aconteceu de forma contrária à costumeira, ou seja, não surgiu de forma espontânea como as demais cidades, ela foi planejada especialmente para ser sede do Governo do Estado. Quem ficou responsável pelo projeto foi o engenheiro “Sebastião Basílio Pirro, contratado pelo então presidente da Província: Inácio Barbosa. Pirro planejou nossa cidade com um projeto que traçou todas as ruas em linha reta, formando quarteirões simétricos que lembram um tabuleiro de xadrez.
- Peraí... Acho que estou entendendo: Você está insinuando... Que o “X” que encontramos é um “X” da inicial da palavra Xadrez?
- Epoche! O projeto de mudança da capital foi aprovado e sancionado em 17 de Março de 1855.
- E daí? Isso todo mundo sabe.
- Não percebeu que mais uma vez nos deparamos com o número cinco. Nesse caso, duas vezes o número cinco?

4h04min19seg – Allan teve uma crise de riso.

- Você está rindo né?

4h04min20seg – Andrei se levantou.

- Me espere aqui.

4h04min21seg – Andrei em passos cuidadosos e rápidos caminhou pelas telhas “eternites” do topo do edifício Maria Feliciana e pegou o notebook que Allan tinha deixado sobre a tampa da escada que dava acesso àquele lugar.

4h05min23seg – Lucas Andrei pôs o notebook no chão e enquanto o mesmo ligava dirigiu-se à borda do lado em que o corpo foi encontrado e chamou Allan.

4h05min49seg – Allan parou ao lado de Andrei.

- E então?
- Está vendo aquelas cinco marcas?
- Ah! É a sua teoria das cinco letras né? Dente por exemplo?
- Epoche... Agora vou te mostrar no notebook.

4h07min00seg – Andrei mostra a montagem que fez com a marquise do edifício Maria Feliciana.


- Está vendo?
- Sim... Estou vendo. Cinco marcas realçadas como uma palavra cruzada.
- Ótimo. E agora?
- A inscrição da palavra dente... Realmente cabe certinho.
- Epoche... Como te disse, isso reforça que ele sabia que a arcada dentária iria sumir...
- Ta certo Andrei... Estou captando aonde você quer chegar.
- Sério? – Andrei sorriu. – Prossiga.
- Você está querendo me convencer que o morto sabia que você viria aqui, leria o significado desse “X” e entenderia que tem alguma relação com o jogo de xadrez... Só pelo fato de Aracaju ter sido planejada como um tabuleiro de xadrez...
- Não é só isso. Na história de Aracaju temos o registro de um SS.
- O quê? Você pirou?
- SS: São Salvador.
- São Salvador?
- Epoche. Pra ser preciso, a igreja de São Salvador, nossa primeira igreja! Foi construída aqui no Centro da cidade, entre o calçadão Laranjeiras e o calçadão João Pessoa. Nela se realizou uma missa de ação de graças para recepcionar o Imperador D. Pedro II na ocasião da sua visita... Além do mais, foi na igreja de São Salvador que foram enterrados os restos mortais de Inácio Barbosa. Ou seja: Temos um SS, temos um representante da monarquia, a representação da igreja. Quer dizer, elementos do jogo de Xadrez, o bispo (igreja), o rei (imperador) e a nossa torre...
- É Andrei... Interessante, mas tem uma grande falha nesta sua argumentação.
- Qual?
- 1-X, 2-A,3-D,4-R,5-E,6-Z... Xadrez tem seis letras.
- Epoche... – Andrei sorriu.
- Do que você está rindo? Não gosto quando você zomba de mim. São 4h10min... Não é hora pra isso!
- Epoche! – Meu querido Allan... Veja isso:

4h10min55seg – O detetive Lucas Andrei pôs cinco letras na montagem que tinha feito com a marquise do edifício.

4h11min00seg – Allan ficou arrepiado diante do que estava vendo na tela do notebook.


- Não pode ser!
- Pode... E é.
- CHESS... Como não pensei nisso antes?
- Epoche... Como disse, o fato não é, ele significa.
- CHESS é Xadrez em inglês e termina em SS... Mais uma vez o SS.
- Epoche! E não pára por aí.
- Tem mais?
- Epoche que sim. SS – Sinais e Símbolos, a essência da fenomenologia... Raciocine comigo: Aracaju foi planejada como um imenso tabuleiro de Xadrez, correto?
- Correto.
- Onde encontramos o nosso morto?
- Aqui no Maria Feliciana...
- Epoche!... Uma Torre.
- Faz sentido... Seria um Xeque-mate?
- Epoche Allan! Estou orgulhoso de você!
- Alguém deu um Xeque-mate?
- Epoche... Um Xeque-mate dado com uma torre.

4h15min00seg – Allan e Andrei ficaram em silêncio por alguns minutos. Ambos raciocinando a lógica das novas descobertas.

- Tudo bem Andrei... Mas só me explica uma coisa:
- O quê?
- Você disse que esta pista mostrava que o morto queria que você... O famoso detetive Lucas Andrei... Cuidasse desse caso... Por quê?
- Epoche... Você lembra que ano passado eu tinha ganhado um prêmio?
- Sim... Não foi com o caso do corpo que apareceu boiando na praia dos náufragos?
- Sim... Foi o meu caso mais famoso...    Aconteceu há 5 anos, saiu em todos os jornais e fui para um congresso nacional de detetives explicar o meu método... O prêmio foi em reconhecimento pelo conjunto de casos resolvidos...
- Também... Você nunca deixou um mistério sem solução... Quem manda ser gênio?!
- Nem tanto meu amigo... Lembro-me que na entrevista falei que minha base de raciocínio era a fenomenologia.
- E onde entra o Xadrez?
- Epoche! O prêmio que me referi foi o que ganhei ano passado e retrasado.
- Qual?
- Allan... Pelo amor de Deus... Eu te falei... Até saímos para comemorar...
- E eu lembro Andrei! – Allan sorriu.
- Em 2007... Fui vice-campeão sergipano de Xadrez... E ano passado, numa revanche fui campeão... Mas confesso que foi uma vitória sem graça, o rapaz estava com a mente distante, tinha um olhar triste, ansioso... Até cheguei a pensar que ele era autista... Era muito tímido e desligado...
- Mas te venceu e você deu o troco... Ganhou dele no ano seguinte.
- Epoche... Ele estava muito atordoado com alguma coisa... Por isso não conto essa vitória...
- Será que ele te escolheu porque você o venceu?
- Não necessariamente... Epoche que não! Acredito que foi por causa de um comentário que fiz.
 
4h17min07seg – Abismado Allan se levantou e caminhou na direção da borda que ficava em frente à entrada do Banese.

 
- Agora estou entendendo Andrei... Não há dúvida. Ele deve ter visto nos jornais que você era um detetive competente que enxerga as verdades escondidas nos fatos e que era fera em Xadrez...
- Não diria que sou fera... Afinal, fui vencido por um jovem de 17 anos. – Sorriu.

- Tudo bem... Você me convenceu.
- Você se lembra que no início eu disse que do ângulo em que o moto-taxista viu alguém lemos um X?
- Lembro.
- Agora veja do ângulo em que o corpo foi encontrado.

4h19min01seg – Allan, em pé, observou a figura do X.
 ­

-
É... Do outro ângulo lembra um pouco uma cruz...
- Epoche! Como disse está relacionado há uma partida de Xadrez.
- Como?
- Além do fato de um Xeque-mate ter sido dado com uma torre... Um dos sinais e abreviaturas convencionais do Xadrez é a cruz que simboliza o xeque... O X simboliza... Captura, tomada de peça.
- Ei! O SS da Igreja São Salvador, como toda igreja, tem uma cruz... Cruz + tabuleiro de xadrez = xeque-mate.
- Muito Bom Allan! Parabéns!
- Obrigado... Mas como isso nos levará ao assassino?
- Epoche! É a direção do nosso tabuleiro, o ponto de partida.
- Sim... Mas repito a pergunta: Como nos levará ao assassino?

4h21min00seg – Lucas Andrei sentou-se em frente ao local em que estava seu notebook e chamou seu amigo.

- Veja! – Andrei sorriu muito empolgado.

4h21min31seg – Andrei entrou no google e digitou: “Xeque-mate com Torre”.

4h21min34seg - Depois de ler o resultado da busca Allan comentou.

- É Andrei... Mas pelo que vejo há pelo menos 36 possibilidades catalogadas de jogos em que o xeque-mate foi dado com uma torre.
- Epoche. Mas vou me guiar por duas muito famosas.
- Quais?
- A de Lasker e a de Rossipal.
- Sim... E depois? Como isso nos levará à solução do caso?
- Simples. Sobrepondo o mapa de Aracaju em um tabuleiro de Xadrez.
- Baseado em quê? Que referencial?
- Epoche! No projeto original do engenheiro Sebastião José Basílio Pirro, que formou o famoso tabuleiro de Xadrez.
- Sim... E?
- Os traços... Melhor: O tabuleiro de Pirro tem as seguintes divisas: a leste, o rio Sergipe. A oeste, até a avenida Pedro Calazans. Ao norte, a praça General Valadão e ao sul, a Avenida Barão de Maruim.

4h21min37seg – Lucas Andrei pegou uma ilustração do mapa de Aracaju e fez uma nova montagem, no qual o mesmo era sobreposto a um tabuleiro de xadrez, de acordo com o projeto original da cidade.

 
- Incrível! Você é um gênio Andrei.
- Que nada... Gênio é esse morto.
- E agora?

4h22min00seg – Lucas Andrei digitou o nome “Lasker” num programa de jogo de Xadrez que tinha e viu diante de si lance a lance o famoso jogo.


-
Hum... Fantástico Andrei... Estou entendendo... Cada movimento de peça cairá num endereço...
- Epoche. E nesses locais com certeza haverá uma nova pista...
- Então... No local em que cair o Xeque-mate haverá a solução do caso?
- Talvez...
- Por que talvez?
- Porque há muitas possibilidades... Em alguns desses xeques-mate deve haver a pista que nos dará a identidade do morto e do seu possível assassino.
- Incrível Andrei!

 4h27min00seg – O celular de Allan tocou. Ele olhou o visor e viu que era o Coordenador de Perícia de Sergipe, Dr. Uziel.


4h27min05seg – Allan se afastou para um ponto em que não ventasse tanto para tentar ouvir melhor.

4h28min – O detetive Lucas Andrei tinha acabado de fazer a montagem baseada na partida de “Lasker” e viu o local em que caiu o primeiro lance. Emocionado pensou em voz alta.

- O jogo vai começar!

   
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Quer saber qual o endereço do primeiro lance da partida de Xadrez baseada na teoria do detetive? Quer saber qual o motivo da ligação do chefe de Allan? Quer saber que pista Lucas Andrei encontrará no primeiro ponto do jogo? Quer saber que outros “SS” estão relacionados ao caso? Quer saber como será o próximo encontro de Lucas Andrei com o motorista do Corolla Preto? Quer saber que providências o número um, dos três rapazes que procuraram Andrei no Hospital João Alves Filho vai tomar quando descobrir que assassinaram a pessoa errada? Quer saber como foi o reencontro de Geeda com Guilherme no hospital? Quer saber quais são as próximas surpresas que atingirão Guilherme? Quer saber mais sobre o plano de vingança de Maria Geeda Petrúcia Leal? Quer saber sobre a conclusão da polícia sobre o assassinato de um paciente no HJF, e de que forma isto influenciará o rumo das investigações? Quer saber como andam as investigações do sumiço da arcada dentária? Quer saber que tramóias,  dissimulações e crueldades Maria Geeda Petrúcia Leal aprontou ao longo de 11 anos??... Então confira estas e outras respostas nos próximos capítulos da sua novela on-line “MENINA VENENO”!

terça-feira, 29 de março de 2011

Capítulo 19

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 


Capítulo 19 – Madrugada na Torre...

"Os bons agüentam o tranco, dão por paus e por pedras,
mas vão pra diante de qualquer maneira." – Mário de Andrade
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27 de Janeiro de 2009 – Terça

2h45min – Allan e Andrei saíram às pressas do Hospital João Alves Filho.

2h45min43seg – Allan viu dois vigilantes rodeando a viatura. Percebeu com certo alívio que o discreto giroflex que tinha posto na extremidade do teto, ainda estava lá. Se sumisse ele responderia mais perguntas, e ele já tinha problemas demais. Normalmente ele recolhia, mas como tinha chegado nervoso à procura do amigo, acabou esquecendo.

- Bom dia amigos!
- Essa viatura está com o senhor?
- Sim... – Allan mostrou a carteira funcional. – Algum problema?
- Não é que está atrapalhando um pouco o trânsito das ambulâncias... Se o senhor puder tirar...
- Ah! Sim... Não se preocupe. Já estou de saída... E desculpe pelo incômodo.
- E ele? – Um vigilante apontou para Andrei.
- Quem tem eu? – Perguntou para Andrei, que estava trajando o típico camisolão de hospital.
- Você não é paciente?
- Não... É que gosto de andar assim. – Respondeu Andrei meio impaciente e ansioso para chegar o mais rápido possível no edifício Maria Feliciana.
- Amigo... Desculpe o meu parceiro... – Allan entrou no carro e destravou a porta do passageiro para Andrei entrar. - Estamos com pressa para atender uma ocorrência.
- Que ocorrência?
- É confidencial... – Allan deu a partida. – Muito obrigado pela compreensão. E bom trabalho!


2h49min08seg – Andrei acenou com as mãos dando um tchau para os vigilantes e sorriu.

- Adiante Allan.
- Calma Andrei... Já vamos sair.

2h49min13seg – O celular de Allan começou a tocar. O mesmo tirou do bolso, encostou no volante, conferiu quem ligava e entregou ao amigo.


- Atenda.
- Alô... Quem fala?
- Allan?... Sou eu rapaz... Sargento Victor!
- Ô Sargento tudo bem? – Andrei começou a imitar o jeito de Allan falar, sempre fazia isso de forma informal encabulava o amigo... Mas naquela circunstância Allan sinalizou para que ele continuasse com a imitação. – O que o senhor manda?
- É o seguinte... É que eu vou dar uma saidinha... Seu carro já está aqui no pátio. Se precisar pegar os objetos eu separei tudo e pus numa sacola que vou deixar com o soldado Joelson aqui na entrada... Tudo bem pra você?
- Sim... Está ótimo... Estou indo agora.
- Ótimo... Em quanto tempo você chegará?
- Uns dez minutos.
- Tudo bem... Qualquer problema me liga.
- Ok Victor... E muito obrigado! – Andrei desligou o celular.
- Quer ir primeiro ao Maria Feliciana?
- Não... Acelere... E vamos logo pegar meu note-book.
- E por que esta pressa? Não podemos pegar na volta?
- Tem informações demais lá.
- Você... E sua teoria da conspiração.

2h51min07seg – Allan acelerou a viatura e em poucos segundos atingiu 120 km/h. Andrei sorriu.

2h58min – Quando passou em frente ao semáforo adjacente à Faculdade Pio X, Allan olhou para o amigo e perguntou:

- Em que você está pensando, Andrei?
- Nos próximos passos.
- Que próximos passos?
- Se o que eu estou pensando estiver correto... Nossa investigação está apenas começando.
- Andrei não complica a minha vida mais do que já está complicada.



3h00min01seg – Allan ligou a seta da viatura sinalizando que entraria à direita assim que transitou pelo viaduto do dia, e enquanto tomou a direção do DETRAN, Andrei olhou para ele e deu uma gostosa gargalhada.

- Do que você está rindo?
- Do que você disse.
- Que minha vida já está muito complicada?
- Isso.
- E o que isso tem de engraçado?
- Meu amigo... É por isso que só te direi os próximos passos quando você vir o que acho que está lá no Maria Feliciana e ninguém percebeu...
- Nem você?
- Inclusive eu.

3h07min – Em frente a entrada da garagem da CPTRAN, Allan desligou os faróis e foi abordado pelo sentinela que estava à frente.

- Quem é?
- O Sargento Victor disse pra eu vir falar com o soldado Joelson que estava com um material para me entregar.

3h07min32seg – O sentinela, que estava segurando uma metralhadora, se aproximou de Allan e disse:

- Se identifique, por favor.

3h07min35seg – Allan mostrou sua identidade. O sentinela foi pra luz. Olhou a foto, encarou Allan e disse:

- Um momento, por favor.

3h07min39seg – O sentinela entrou na guarita e saiu com uma sacola grande que entregou para Allan, que imediatamente repassou para Andrei.

­- Muito obrigado.
- De nada.
- Bom serviço!

3h08min01min – O sentinela cumprimentou com a cabeça e retomou a vigília.

3h08min12seg – Allan engatou a marcha ré, em seguida a primeira. Passou pelo temido quebra mola (para os aprendizes de direção) e entrou à direita percorrendo novamente a Avenida Tancredo Neves.

- Está tudo aí?
- Sim... Meu note-book e meus documentos...
- Devem ter caído com o acidente.
- Epoche.
- Andrei...
- Oi...

3h12min02seg – Ao passar pela frente do Centro administrativo da Petrobrás, Allan entrou à direita e transitou pela Avenida João Batista.

- Você não vai mesmo me dizer os próximos passos?
- Bem... Como eu ia dizendo... Se o que eu estou pensando estiver correto... Com certeza nossa investigação está apenas começando.
- Por que você diz isso?
Caduceu
- Epoche! Por causa do insight que tive.
- Ah!... A história do caduceu?
- Epoche.
- Que parte.
- Epoche! Ao fato do caduceu ser uma mentira que por séculos foi considerada verdade.
- E?
- E que ele... Assim como Hermes... Está sendo um mensageiro...
- Hum... A tal viagem de “conhecimento”...
- Epoche... Com certeza ele espalhou algumas mensagens como a do “Crude SS”.
- Andrei... Talvez seja melhor deixar esta história pra lá.
- Epoche que não... Não tenha medo amigo. O morto confiou na gente pra resolver este caso.
- Mais um recado ou simples impressão.
- Impressão... O recado está lá em algum lugar.
- Andrei... Andrei...
- Allan... Confie em mim... Se acalme!... Apesar de... Se eu estiver certo, o que está ruim... Vai piorar.
- Ô meu Deus... Isso é um mau sinal.
- Por quê?
- É a segunda vez que ouço isso hoje.

3h17min16seg – Ao virar à esquerda e entrar na Avenida Augusto Franco, a viatura balançou com o impacto que sofreu no fundo.

3h17min17seg – Andrei pôs a cabeça pra fora pra falar, mas ficou mudo ao rever o mesmo Corolla que tinha provocado o acidente no início da noite anterior.

- Allan... É ele!

3h17min19seg – o Corolla bateu mais uma vez. Allan sinalizou que iria parar.

- Ele quem?
- Epoche! O carro que provocou meu acidente.
- Você está viajando Andrei!

3h17min25seg – Allan parou a viatura. O Corolla parou atrás. Allan fez menção de sair do carro, mas Andrei o segurou.

- Não vá Allan.
- Deixe de paranóia Andrei.

3h17min29seg – Allan abriu a porta do motorista.


3h17min31seg – O Corolla deu uma ré brusca queimando pneu.

3h17min34seg – Andrei puxou Allan.


3h17min37seg – O Corolla se jogou na direção da porta da viatura arrancando-a. Em seguida o vidro do passageiro desceu e da escuridão interna do veículo saiu um estouro: O motorista atirou no pneu dianteiro da viatura.

3h17min39seg – Allan sacou a arma.

3h17min40seg – O Corolla deu uma arrancada brusca e fugiu.

3h17min41seg – Allan atirou na direção do Corolla e não viu nenhum efeito.

3h17min43seg – Andrei deu uma crise de riso.

- Isso são horas de sorrir? A gente quase morre!
- Epoche! – começou a imitar Allan mais uma vez – “Andrei... Acidentes acontecem” (Ver capítulo 14 – 23h17min45seg).
- Engraçadinho... Vai me ajudar a trocar o pneu?
- Epoche. Enquanto isso chame reforços e dê os dados do Corolla para fazerem uma busca... – Andrei sorriu novamente – Embora não adiante de nada.
- Então por que eu vou ligar?
- Por que você é cético... E só acredita vendo. – Sorriu. – Além do mais, este ataque só prova que estou no caminho certo.
- Tudo bem. Mas assim que trocarmos o pneu vamos embora, né?
- Epoche que não! Mais do que nunca preciso ir ao Maria Feliciana.

3h19min – Allan comunicou a Central de comunicação policial sobre o acontecido.

3h29min – A Central informou que não havia registro de nenhum Corolla preto circulando por aquela área.

3h32min – O detetive terminou de trocar o pneu.

- Está pronto!
- Tem certeza que ainda quer ir para o Maria Feliciana? – perguntou Allan bastante contrariado.
- Epoche! Meu amigo. Epoche!
 

3h34min – Com o fundo da viatura amassado, e sem porta, Allan deu partida e seguiu pela Avenida Augusto Franco entrando à direita da Rua Laranjeiras descendo até o ponto de entrar à esquerda da Rua Itabaiana.

3h34min20seg – Allan estacionou em frente às Lojas Americanas.


3h34min25seg – Andrei retirou da sacola uma lanterna normal e outra de luz negra, além do seu note-book.

3h35min – Allan e Andrei entraram na rua Geru e se dirigiram para frente do edifício. De relance perceberam a presença de três motos-taxista, incluindo o “Boquinha” e alguns travestis.

3h37min – Allan e Andrei se identificaram para os bombeiros e entram no edifício.



3h45min19seg – Andrei e Allan chegaram ao 27º andar. Ao ler o adesivo colado na escada o detetive sorriu.

- Está rindo de quê? Você está risonho demais...
- Achei engraçada a primeira frase do adesivo: “Pare e Pense...”

3h45min23seg -  Allan leu e deu um leve sorriso.

-  Mas não é outro recado do morto... É?
- Epoche que não!

3h45min23seg – Andrei entregou seu notebook para Allan e ligou sua lanterna de luz negra.

- Meu amigo... Não sou seu empregado não... Você não trouxe seu trambolho... Carregue você! – Disse Allan em tom de brincadeira.

3h45min25seg – Andrei virou-se para Allan e fez sinal para ele ficar em silêncio.

3h45min28seg – O detetive apontou a luz negra para a escada que dava acesso ao 28º andar e começou a enxergar manchas de sangue que começaram a brilhar diante daquele feixe de luz especial.

- Ta vendo? Ele estava cuspindo sangue...
- Isso já sabíamos.
- Mas não nessa intensidade.
- E o que tem essa tal intensidade?
- Epoche! Envenamento...

3h45min31seg – No último degrau da escada Lucas Andrei se ajoelhou e ao passar a lanterna num ponto específico argüiu o amigo:


- Está vendo?
- Estou Andrei... São 3h45min.
- sssssssssssss... Preste atenção Allan! Vê alguma diferença nesta mancha?
- Está mais brilhante.
- Epoche! Está mais forte... Mais concentrada.
- E o que isso significa? Que ele chegou aqui e disse: Agora vou dar uma escarrada com gosto para quando um detetive maluco vier com seu amigo conferir?
- Ah! Ah!
- Desculpa... Pode falar. – Disse Allan meio sem jeito.
- Epoche! Neste ponto ele teve algum problema: Tropeçou, caiu, ou foi atingindo por alguém...
- Por que você diz isso?
- Epoche. Por dois motivos: Aqui a mancha está mais forte... Significa que ele ficou mais próximo do chão.

3h45min52seg – Lucas Andrei passou a luz negra na lateral da escada.

- Epoche! Está vendo?
- É uma outra mancha?
- É... Menor... Mas é.
- É esse o sinal de que você esperava?
- Epoche que não!... É mais específico e direto, de certa forma.
- Então qual a relevância desta mancha na lateral da escada?
- Epoche! Muito simples: Por algum motivo nosso morto caiu e depois teve certa dificuldade para se reerguer... E se apoiou na lateral desta escada. Perceba que depois  ele se levantou, veja: aqui as manchas diminuíram bastante.
- O que houve? Algum milagre?
- Talvez... A partir deste ponto ele passou a ser carregado.
- Ah! Então havia outra pessoa?
- Talvez.
- O assassino?
- Talvez.
- Você quer me enlouquecer Andrei? O cara pulou... Ou foi jogado. Se havia uma pessoa... Foi jogado... É óbvio. Mesmo assim tem o complicador de que não há nenhuma digital de uma segunda pessoa.
- A segunda pessoa pode ter apagado os vestígios... Você sabe que é fácil.
- Então você já diz com certeza que ele foi assassinado?
- Epoche que não!
- Não estou entendendo mais nada Andrei.
- Meu querido Allan... Só quero dizer que ele pode sim ter sido jogado, assassinado se preferir... Mas ainda há a hipótese do suicídio.
- Como assim?
- Simples: A segunda pessoa pode ter sido uma simples auxiliar... Pra que tudo acontecesse exatamente como ele queria.
- Andrei... Me desculpa... Você está viajando demais.
- É né? – Andrei sorriu. – Sigamos em frente.

3h46min19seg – Ao passar pelo último degrau, Andrei ficou em frente ao sofá de três lugares em que tinha cochilado no dia anterior (ver capítulo 07 – 13h32min), em seguida virou a esquerda e dirigiu-se a porta corta-fogo que dava acesso ao 28º andar. Allan o seguiu carregando o notebook.

3h46min24seg – Andrei apontou para o chão e viu uma pequenina mancha.

-Está vendo Allan?
- Sim...
- Sigamos em frente.

3h46min31seg – O detetive abriu a porta.

3h46min35seg – Allan e seu amigo detetive viram outra mancha e enquanto seguiram a trilha conversaram.

- Andrei... Acho que depois deste caso vou me aposentar.
- Vai nada.
- Você está se divertindo, né?
-  Não vou negar que estou gostando, mas por um único motivo: Não há nada melhor do que seguir a trilha da verdade.
- Concordo.

3h46min46seg – Lucas Andrei passou pelo segundo pilar e viu mais uma mancha.

- Está vendo Allan?

3h46min51seg – Allan balançou a cabeça confirmando.

3h46min55seg – Os dois amigos subiram a escada que dá acesso ao teto.


- Allan, pode encostar o notebook aí em cima da tampa. Tem perigo não. Se precisar nós pegamos.
- E agora?
- Epoche! Vamos procurar o recado.
- Tudo bem... Eu vou em sentido horário e você anti-horário.
- Como dizia Drumond... Sou sempre um “Gauche” – Andrei sorriu.
- Como assim?
- Deixa pra lá. Procure alguma coisa estranha. Use a lanterna normal.
- ok.


3h47min15seg – Allan tropeçou, mas não caiu porque se segurou no cano que havia na lateral da base das antenas.

3h47min17seg – Allan observou atentamente as três bases de apoio do fio do pára-raios. Olhou, olhou, mas não viu nada de anormal. Enquanto isso, Andrei vasculhava a borda que ficava na direção do Mercado Central.


3h47min21seg – No ponto em que o moto-taxista viu “alguém”, o detetive viu no canto, uma das quatro bases de sustentação da principal antena. Porém esta estava diferente das demais.

 - Allan... Venha aqui rápido!

3h47min27seg – Aos tropeços Allan se aproximou.

- Que foi? Encontrou alguma coisa?
- Epoche!
- O quê?
- Como o quê? Você não está vendo?
- Sim... É a base de sustentação dos cabos de aço da antena principal. Tem mais três, inclusive.
- Sim... Eu sei. Mas não viu algo diferente?
- Até agora não?

3h47min31seg – Lucas Andrei passou a lanterna de luz negra ao longo dos do círculo menor e de maior. Os dois brilharam muito.

- Percebeu?
- Sim. Apenas o círculo maior e o menor está manchado...

- Epoche! Formando o Símbolo da paradoxoesimetria
- Ah! Tá... A idéia do paradoxo: algo contrário ao comum, contra-senso, absurdo, disparate...
- Epoche! Contradição ao menos na aparência.
- Nem tudo é o que parece ser.
- Para os filósofos matemáticos, os paradoxos abalam a confiabilidade de uma verdade.
- Como assim?
- Simples: Por exemplo, uma lei fundamental da matemática é que todas as proposições podem ser ou verdadeiras ou falsas. Mas essa lei é também uma proposição e, então, ela também pode ser falsa.
- Eis o paradoxo. Me fez lembrar da questão da falsidade do Caduceu. Este caso está repleto de falsas verdades e manipulações...  
- Epoche!... Tem mais... Veja isso:

3h48min – Lucas Andrei seguiu minúsculos pingos da mesma tinta que havia sido usada para realçar o pequeno e grande círculo.

3h48min – O detetive Lucas Andrei parou exatamente em frente ao ponto dos motos-taxista. Do lado direito via-se o Bar do Meio, do lado esquerdo toda a extensão da rua Itabaiana. E na borda, bem o ao centro algo que deixou Andrei muito excitado... Atônito.

- Epoche! Epoche! Achei!

3h45min21seg – Allan, por estar acocorado procurando algum vestígio, demorou um pouco para se aproximar de Andrei. Assim que chegou, ajoelhou-se e apontou a lanterna na direção do ponto indicado pelo seu amigo.

3h45min50seg – Allan viu a  figura que o detetive Lucas Andrei achou sobre a borda do edifício.

­ - O que é isso Andrei?
- Epoche!... Mais um recado do morto!




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Quer saber qual foi a figura encontrada pelo detetive Lucas Andrei e qual o seu significado? Quer saber qual a identidade do motorista do Corolla preto? Quer saber quais serão os próximos passos na investigação do suposto suicídio? Quer saber se Guilherme se recuperou? Quer saber mais sobre o plano de vingança de Maria Geeda Petrúcia Leal? Quer saber sobre a conclusão da polícia sobre o assassinato de um paciente no HJF, e de que forma isto influenciará o rumo das investigações? Quer saber como andam as investigações do sumiço da arcada dentária? Quer saber que tramóias,  dissimulações e crueldades Maria Geeda Petrúcia Leal aprontou ao longo de 11 anos??... Então confira estas e outras respostas nos próximos capítulos da sua novela on-line “MENINA VENENO”!