segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Capítulo 72

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!


Capítulo 72 – Coma... Última Parte
O destino de Guilherme
Últimos capítulos da temporada – 3 de 5

"Só me interessam os passos que tive dar na vida para chegar a mim mesmo." – Herman Hesse 
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20 de Setembro de 1998 – Domingo (Ver capítulo 38)

7h39min15seg – Guilherme sentiu completa ausência de dor...



 Depois de terríveis minutos de agonia, Guilherme começou a experimentar algo maravilhoso: Uma sensação de paz, de profundo bem-estar.

Aos poucos começou a perceber que a sua alma estava se desligando do seu corpo. Olhou pra baixo e viu-se sendo entubado por uma enfermeira. Parecia que estava há uns cinco metros de altura... E subia cada vez mais.

Incomodado em olhar pra si mesmo. Guilherme virou-se para o teto e ficou atônito ao perceber que seguia na direção de um local escuro com um fraco ponto de luz ao longe.


Sem entender o porquê, como se tivesse vendo um filme, alguns momentos da sua vida começou a passar diante dos seus olhos. Reviu o momento em que recebeu a notícia da morte dos pais. Do choro do irmão. Da promessa que fez diante do túmulo da mãe que cuidaria do irmão mais novo e não deixaria nada de ruim acontecer com ele. Lembrou de quando conheceu Geeda, da morte de Hélio, do instante em que Geeda deixou escapar um sorriso enquanto observa o corpo do amigo (ver capítulo 11 – 22h49min), reviu o próprio acidente e o desespero de tentar se comunicar com a madrinha uma última vez.

Algum tempo depois... Na Colônia Espiritual.



- Eu não deveria estar aqui.
- Deveria sim, meu amigo. – Disse Hélio surgindo como num passe de mágica diante de Guilherme.
- Hélio?
- Sim... Sou eu.
- Meu Deus... Eu realmente morri.
- Não amigo... Você não morreu, pois ainda há laços que o prendem ao seu corpo...
- Então que estou fazendo aqui?
- Você veio conhecer “a verdade”. – Interrompeu Elda.
- Que verdade?
- Amigo... Chegou a hora de você saber como eu, você, Geeda, estamos ligados há fatos ocorridos noutras realidades.
- Como assim? Eu já convivi com Maria Geeda e você noutra encarnação?
- Isso mesmo meu amigo – Respondeu Hélio.
- Como? Por quê?
- Todas as suas perguntas serão respondidas, irmão... Mas por hora, procure descansar.




Meses depois...

Guilherme acordou para mais um dia de estudos e trabalhos espirituais. Era o momento que mais apreciava, pois do quarto do Hospital da Colônia havia uma grande janela que permitia a passagem dos raios luminosos do Sol até a cabeceira da maca em que dormia.

Desde que entrou em coma, foi acolhido na Colônia Espiritual para receber um tratamento de recuperação do equilíbrio energético e mental. O diagnóstico inicial era preocupante: Demasiada carga negativa, frustração, indícios de sentimentos de ódio e vingança. Entretanto, graças a intervenção da sua mentora espiritual Elda e do amigo Hélio, tinha melhorado e estava apto para receber alta e ter uma grande revelação.

Naquela manhã, em comemoração à melhora de Guilherme os espíritos de luz transmitiram pensamentos harmônicos e melodiosos... Qualquer um que estivesse na mesma sintonia ouviria tons lúdicos, que renovam a alma, como as melhores sinfonias de Mozart. Aquele era um dia muito especial.

- Está pronto meu filho? – Perguntou Elda.
- Pra quê?
- Para voltar. – Respondeu Hélio que já trajava a veste branca típica dos trabalhadores do serviço de assistência médica e psicológica da Colônia Espiritual.
- Voltar? Pro mundo material?
- Isso. – Respondeu Hélio.
- Não posso ficar?
- Não meu filho.
- Sinto que tenho tanto a aprender... Tanto para contribuir... Sinto que posso ser muito útil aqui.
- Sem dúvida meu filho.
- Então porque voltarei?
- Por que as pessoas que te amam precisam de você!
- Eu sinto falta de Dona Stéphanie... Do meu irmão... Mas, de que me adianta voltar se Maria Geeda está lá... Continua aprontando, pousando de boa moça, e ninguém acredita que ela tentou me matar... – Virou para o amigo. -Que te matou Hélio!
- Gui... Meu amigo, meu irmão... Você ainda vê os fatos com uma óptica limitada.
- Óptica limitada? Há justificativa para o que Geeda fez? Ou que continua fazendo?
- Meu filho, nos acompanhe e logo você compreenderá o que Hélio está tentando lhe dizer.

Apesar de recordar os fatos que o conduziram até aquele lugar, pela primeira vez Guilherme não sentiu raiva, desejo de vingança ou auto-piedade. Pela primeira vez analisou tudo o que lhe aconteceu com certo distanciamento. Seu coração que outrora estivera atormentado, cheio de mágoas, agora estava impregnado de paz e bondade.

- Gui... Às vezes o sofrimento lava nossa alma e limpa nossos olhos... Tudo o que passamos teve uma razão de ser, um motivo, uma causa.
- Entendo.
- Às vezes é preciso  conhecer a traição, o remorso, a humilhação, decepção... Para entender a justiça divina e experimentar a espiritualidade... Uns conseguem tal feito pelo amor, outros, como você, pela dor. – Explicou Elda.
- Sei o que quer dizer Elda... Tantas vezes Dona Stéphanie me chamou para ir ao Centro espírita com ela... E sempre recusei... Se eu tivesse atendido o último chamado, talvez não tivesse sofrido o acidente... Nem estaria aqui.
- Não se lamente meu filho... A vida quis assim. Nem você nem ninguém poderiam prever ou ter controle sobre tudo o que aconteceu.
- É... Aprendi isso... De forma dura e amarga, mas aprendi.

Hélio deu um abraço em Guilherme e depois de balançá-lo pelos ombros, perguntou sorrindo.

- Está pronto para última lição?
- Não sei... O que acha Elda?
- Você sempre esteve pronto, meu filho... Deus nos criou prontos para espiritualidade.
- Compreendo... Eu era um cego que pensava que enxergava, um surdo que pensava que ouvia.
- Nunca é tarde para sermos o que poderíamos ter sido meu filho. – Disse Elda dando um abraço.
- Amém... Seja lá o que for... Estou pronto.
- Ótimo... Agora feche os olhos e dê-me suas mãos.


Guilherme fechou lentamente os olhos e atendeu a mentora. Em seguida pôde sentir as mãos de Hélio sobre as dele.

Mesmo imóvel, captou estranhas vibrações precedidas de oscilações de temperatura, iluminação e uma agradável brisa. Por um momento teve a impressão de estar com os pés mergulhados em água morna... Era muito relaxante, por isso perdeu a noção do tempo... Poderia ficar meses fazendo aquilo.

- Chegamos.
- Chegamos?... Onde?... Se não saímos daqui?
- Abra os olhos. – Disse Hélio em tom de brincadeira.
- Não é possível!

Guilherme viu-se numa espécie de sala de projeção. Uma sala idêntica a tantas outras que tinha ido... Salvo por um detalhe: Só existia uma poltrona. Era um cinema para uma pessoa só.

- Caramba! Noutros tempos eu pensaria que enlouqueci... Nem vou perguntar como chegamos aqui porque sei que com toda a limitação da minha cultura intelectual jamais entenderia.
- Há tempo pra tudo... Gui vou deixá-lo a sós com sua mentora.
- Espere Hélio, vou contigo.
- Vocês me deixarão aqui sozinho?
- Meu filho, este “cinema” só tem uma poltrona por que o que “filme” exibido só diz respeito a você...
- É a última lição que Hélio falou?
- Isso.

Elda e Hélio deram mais um abraço fraternal em Guilherme e se despediram.

Assim que ficou só, Guilherme sentou-se na poltrona que flutuava diante da imensa tela.

Imediatamente um filme começou a ser exibido... “A última encarnação”.
 

Depois de horas vendo cenas da sua última encarnação, Guilherme começou a chorar.

“Agora eu entendo...” – Pensou.

Daquela vez, as lágrimas não foram motivadas por sofrimento, revolta... Mas por profunda sensação de alívio.

09 de Novembro de 1998 – Segunda – 10h10min55seg


Guilherme esfregou os olhos... E ao abri-los viu-se noutro cenário. Pra sua surpresa não estava mais na colônia... Mas no leito de outro hospital.

Ao sentir o rosto coçando concluiu que deveria estar barbudo... Meses tinham passado.


10h13min02seg - Guilherme sentiu uma forte luz nos olhos... Dr. Gilvan que o acompanhou desde o início fez uma rápida avaliação dos reflexos e falou:

- Definitivamente ele está de volta.
- Ele saiu do coma?
- Sim... Chame Dona Stéphanie!




CONTINUA...

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