segunda-feira, 18 de julho de 2011

Capítulo 53

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!




Capítulo 53 – Código e Promessa... Parte 01
"Nunca é tarde demais para ser o que você poderia ter sido." - George Eliot
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10 de Maio de 1995 – Quarta – 02h30min15seg

Lembranças de Adriano...

 

Há 351 metros de altitude, e pouco mais de 110 Km de Aracaju... Numa longínqua fazenda do Sertão Sergipano, precisamente na mansão erguida sob uma área hexagonal, a alta cúpula da Sociedade Secreta tinha se reunido para a cerimônia de passagem do Comando local: Adriano Kelsen substituiria o pai e seria o novo “Número 1” de Sergipe.

 

Além das principais autoridades do Estado e do nordeste que acompanhavam o ritual de doze horas, também estavam presentes os “5S” “Cinco Sacerdotes” ou “Lugal”, cada um responsável por uma determinada região do Brasil, e os “26 PATÉSI” que eram “nº1” ou “chefe”, cada um administrando os interesses da Sociedade Secreta, ou “Sindicato” (Era como chamavam formalmente para maquiar a própria existência) nos estados de origem.

A maior autoridade presente era o SS – Sumo Sacerdote, que administrava o “Sindicato” em nível nacional.

02h30min47seg – Abriu-se a porta que condizia ao salão hexagonal.

Visto de cima via-se um piso numerado de um a seis em sentido horário.
Ao centro a posição em que o “nº 1” ou “Patési” (velho e novo) permaneceria durante o ritual, estava marcado por um “L”.

 

02h31min02seg - Seis homens trajando uma toga de cor anil, e segurando um caixão da mesma cor, entraram na sala repetindo uma espécie de mantra:

- Sanggiga...

Exatamente a 12 metros da posição um, que por tradição era o primeiro hexágono, de frente para o leste, havia uma espécie de mural 12 x 12, com uma antiga mensagem codificada em símbolos.

 

02h31min05seg – O Sumo Sacerdote de forma pausada, quase em tom de cântico, respondeu:

- E-te-me-nan-Ki

02h31min09seg – Em passos lentos, carregando o caixão para o centro do hexágono os homens prosseguiram:

- Nibiru Kiengi...

 

02h31min13seg – O Sumo Sacerdote, sinalizou para os serviçais apagarem as luzes laterais... A única fonte de luz que permaneceu foi o imenso lustre que também tinha formato de hexágono.

02h31min17seg – Os que carregavam o caixão repetiram:

- Sanggiga...
- E-te-me-nan-Ki – Respondeu o SS, de forma pausada.


2h35min59seg – O caixão foi posto no centro do salão hexagonal, sustentado por dois pilares que tinham o mesmo formato.

02h38min33seg – Os “Lugal” do Norte, nordeste, sudeste, centro-oeste e sul do Brasil andaram de forma sincronizada para posições específicas do imenso piso numerado.

O único que permaneceu junto ao caixão foi Adriano Kelsen que estava muito reflexivo.
 02h38min33seg – O Sumo Sacerdote pegou uma grande taça que assim como a maioria dos objetos existentes naquela espécie de “Templo” também tinha formato de hexágono e tomou um líquido, que conforme a tradição reunia os Seis Sabores (doce, ácido, picante, amargo, salgado e adstringente)...

02h39min11seg - Após um longo gole, o Sumo Sacerdote começou a falar:

- Adriano Kelsen!
- Sanggiga... – Respondeu Adriano.
- E-te-me-nan-Ki – Repetiram os Cinco “Lugal”.
- Adriano Kelsen! – Repetiu o SS..
- Sanggiga... – Falou Adriano girando o corpo em sentido horário para ficar de frente para o Sumo Sacerdote.
- E-te-me-nan-Ki – Repetiram todos os membros presentes.


De acordo com a regra daquele enigmático ritual de passagem, o nome do novo “Patési” deveria ser pronunciado seis vezes seguidas assim que tomasse a devida posição com o antecessor.


02h40min38seg – Adriano Kelsen tirou o anel hexagonal de madeira que usava, e juntou a outro metálico que tirou do bolso...

02h40min41seg – Pôs os anéis no centro da palma, juntou as mãos e iniciou uma oração que não era audível.

02h40min45seg – Cada “Lugal” conforme a ordem em que estavam posicionados, repetiram o mesmo gesto de Adriano... Visto de cima percebia-se que os gestos seguiam o sentido do ponteiro dos relógios.

02h49min30seg – O “Lugal” do Sul juntou as mãos e começou a orar.

02h49min35seg – O Sumo Sacerdote balançou a cabeça em sinal positivo para Adriano.

Era o sinal de que o novo “Patési” deveria, em sentido horário, seguindo a ordem disposta, recolher os anéis...

Aquele que não concordasse com a substituição, simplesmente não entregaria.


02h51min01seg – Adriano pôs as mãos juntas diante do Lugal do Norte, cumprimentou com um olhar, e de forma quase que imperceptível, como na brincadeira de criança em que se escondia uma pedra na palma de alguém que deveria ser descoberto, recolheu o anel.


02h52min57seg
- Após beijar o dorso da mão de quem lhe confiava a nobre missão de ser o novo “Patési” de Sergipe, Adriano retomou o mesmo processo que repetiu com todos.


03h10min23seg
– Recolheu o último anel, girou na direção do Sumo Sacerdote, beijou o próprio dorso da mão, ajoelhou-se, e lentamente caminhou na direção do caixão que estava no centro do salão hexagonal e despejou sobre o mesmo os anéis que tinha recebido.

03h10min25seg – Adriano inclinou-se diante do SS, quase ficando de joelhos, e permaneceu assim até o final de cerimônia.


03h10min31seg
– O Sumo Sacerdote, tomou mais um gole do líquido que havia na taça ao seu lado, e em seguida falou:

 
- Pela primeira vez, em Sergipe, Cinco anéis foram colhidos... Parabéns Adriano... Sua aprovação é unânime!

03h10min35seg – Todos repetiram o mantra da cerimônia:

- Sanggiga...
- E-te-me-nan-Ki
- Nibiru Kiengi...
- E-te-me-nan-Ki
Uma breve explicação sobre a cerimônia “Zigurate”

O ritual de passagem de comando ou “Zigurate” só acontece em Três situações:

1 – Promoção de Patési a Lugal (que é muito raro);

2 - O velho Patési com vida renuncia ao posto (geralmente por motivo de doença ou idade avançada) e passa o comando. Em seguida segue com a substituição que só é possível com a morte, por isso o velho “Patési” pratica suicídio tomando uma pílula de Cianeto;

3 – Pós morte do velho Patési.

Em todas as possibilidades o velho “Patési” tem que estar com o corpo presente.

03h10mn39seg – O Sumo Sacerdote continuou...

- E também é pela primeira vez, aqui em Sergipe, que essa cerimônia é realizada pós-morte.

03h10min06seg – Todos murmuraram:

- Sanggiga...
- E-te-me-nan-Ki
- Nibiru Kiengi...
- E-te-me-nan-Ki

03h10min39seg – O Sumo Sacerdote aproximou-se de Adriano, pousou a mão sobre a cabeça e falou:

­- Com sabedoria, entendimento, conhecimento, bondade, severidade, harmonia, perseverança, esplendor, apego e realiza... Dou seqüência ao Zigurate... Que se faça a purificação!


03h12min00seg – Dois serviçais trouxeram um imenso recipiente metálico com contorno de hexágono, dentro havia instrumentos e produtos químicos apropriados ao estímulo dos sentidos do novo “Patési”.

O primeiro sentido estimulado foi o olfato:

Adriano aspirou substâncias aromáticas Secas e Frutadas (misturas de secos e frutados, que criam uma fragrância híbrida. Geralmente usam condimentos como cominho e manjericão, além de especiarias como o cravo, canela, noz-moscada e até mesmo a pimenta).

O segundo foi o tato, através das “Seis terminações nervosas”:

(Adriano foi submetido a instrumentos que possibilitaram a percepção de: pressão, do tato propriamente dito, toques leves, frio, calor e dor.)

O terceiro foi a visão: Adriano tomou três banho de luz com as seguintes cores: Ciano, magenta e amarelo.

O quarto foi a audição que era continuamente estimulada pelo mantra do ritual.

O quinto foi o paladar, por meio da ingestão do néctar dos “Seis Sabores”.


Por último, para estimular o Sexto Sentido, o Sumo Sacerdote apagou a luz do lustre deixando a sala iluminada apenas por incensários de cor anil que se encontravam juntos a cada vértice do imenso salão.

04h01min22seg – O Sumo Sacerdote, em transe, bradou:

- Irmãos “Lugal” e “Patési”... Chegou o grande momento!

04h01min24seg – Todos os “Lugal” que estavam presentes deram-se as mãos.

04h01min25seg – Adriano pôs as duas mãos sobre o caixão.

04h01min29seg – O Sumo Sacerdote  prosseguiu:


- Antes de concluirmos o “Zigurate” vamos lembrar ao novo “Patési” nossas doze regras imutáveis e eternas!

04h01min33seg – O Lugal do Norte caminhou até o caixão, pegou o anel que lhe pertencia, pôs no dedo, pousou a mão direita sobre a cabeça de Adriano e falou de forma enérgica:

- Regra nº 1: Amai o criador acima de todas as coisas!


04h01min38seg – O Lugal do Nordeste, que viu Adriano crescer já que era amigo de longa data da família, quebrou o protocolo lançando um olhar que não era imparcial e repetiu os mesmos gestos do colega: juntou as mãos sobre a cabeça do novo “Patési” e bradou:

- Regra nº 2: Video Et Taceo – Veja, conheça, obedeça, mas nunca diga nada!

Um pouco emocionado, Adriano lembrou-se da conversa que tivera com o pai...

No dia anterior, sentado num banco do jardim de pilares hexagonais (que eram uma réplica doze vezes maior que o da Praça Fausto Cardoso), minutos antes de ter o ataque cardíaco que o vitimou, seu pai tinha praticamente o obrigado a repetir as 12 regras e códigos...

E a fazer a bendita promessa...



CONTINUA...


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