terça-feira, 12 de julho de 2011

Capítulo 49

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!

 



22h31min03seg – Sentindo pequeninas ondas batendo nos pés, e uma leve brisa, Maria Geeda e Adriano beijaram-se.

­- Tudo bem mocinha... Por hoje vou parar com perguntas... Vou deixar para outro dia, certo?
- Como preferir meu amor. – Geeda deu mais um beijo.



22h34min18seg – Maria Geeda se esforçou ao máximo para não transparecer o seu desconforto.

Se aprofundando na psiqué de Maria Geeda...

Maria Geeda Petrúcia Leal gosta de passar a imagem de pessoa humilde, religiosa, que tem como lema a fé de que tudo na vida se supera porque, como gosta de dizer aos prantos: Nunca vai se desesperar, pois ama e acredita em Deus, pois ele está acima de tudo... A sua constante reafirmação de fé é mais uma pensada estratégia do seu costumeiro marketing pessoal... Marketing que fez sucesso de 1998 até a fatídica noite do suicídio do Morto do Maria Feliciana, no dia 25 de Janeiro de 2009.

Guilherme, Hélio, Adriano, e tantos outros (e não foram poucos) que passaram na vida daquela baixinha de sardas e que adora usar óculos vermelhos, deveriam aprender o quanto antes uma importante lição do convívio “privilegiado” com ela... Jamais... Jamais... A contrarie!.... Ela detesta ser contrariada em seus planos e ter sua imagem de moça romântica, sensível, amante da cultura, da poesia, das letras... Uma mulher fiel... Pra casar... Que erra, mas aprende... De moral inquestionável... Des-mas-ca-ra-da... – Ou seja, justamente o que Adriano Kelsen fez quando comentou: “Estou juntando as peças... Fui durante muito tempo professor do irmão de Guilherme e conhecia toda a rotina daquela família... Foi por isso que você se aproximou de mim Geeda?”  (Ver capítulo 36 – 22h28min32seg)

“Será que Adriano estava jogando um verde para colher maduro?”... - Geeda se fez tal pergunta várias vezes seguidas... Podia ser... Ou não... Muito provavelmente não.  –Era o que ela gostava de pensar. Afinal, o único que tinha desconfiado que ela possuía outra personalidade foi Guilherme... Mas desse conseguiu se livrar... – “Ele não deveria ter se importado...” - Lembrou-se da véspera da noite em que Guilherme terminou o namoro... E riu de si mesma ao recordar-se de ter sido flagrada naquela festa... Ah!...      Aquela festa... Maravilhosa... Ela gostava de pensar na cara de decepção de Guilherme ao flagrá-la fantasiada de Cowgirl de mini saia jeans, pousando para uma foto ao lado de um rapaz que tinha beijado alguns segundos antes... O terceiro só naquela noite... E ficava possessa ao pensar que o fotógrafo não seguiu as suas orientações, pois tinha sido muito clara: – Não tire foto das minhas coxas... -  “Por que você gosta tanto desta fantasia?” – Ela sorriu ao recordar de Hélio fazendo esta pergunta... Só pra satisfazer o ego, ela usou a mesma fantasia com o melhor amigo de Gui... No momento em que foi flagrada por Guilherme, claro, Geeda se fez de vítima como sempre fazia e correu atrás dele exigindo explicações do porque ter ido sem avisar já que tinha dito que não iria a tal festa... – “Subestimei a inteligência de Guilherme pensou...”

“Mas será que estou subestimando Adriano? Não... Ele não sabe de nada... Senão diria... Ah! Guilherme... Poderíamos ser tão felizes... Mas você disse aquela frase... Você não deveria ter dito... Não... Não posso arriscar meu plano de vingança... Já me livrei de Guilherme, de Hélio... Adriano seria muito útil... Mas está desconfiado... Não vou arriscar... Voltarei para o jantar, vou distraí-lo... E eliminá-lo... Mas aonde?... Um local escuro... Sem movimento... Aonde?... Vou ter que improvisar... Ainda bem que sempre trago meus brinquedos na bolsa... Aonde meu Deus?... Me ajuda!... Guilherme... Nada nem ninguém atrapalharão minha vingança... Você não deveria ter dito aquela frase... Não deveria...”

22h37min54seg – Adriano penetrou a alma de Geeda com um olhar... Por um momento pareceu que estivesse lendo seus pensamentos... Seus planos... Aquilo a deixou apavorada, e se por algum momento ela estava hesitando em livrar-se daquele “perigo” para seu plano de vingança, o olhar do enxadrista a fez decidir... Iria se livrar dele... E seria naquela noite. Por isso, despertou dos seus devaneios e sem hesitar, quase num impulso, num reflexo... Respondeu a pergunta de Adriano:
 

- Posso chamar o táxi? – Indagou o enxadrista.
- Não. – Respondeu Geeda de forma abrupta.
- Não? Por que não?
- Você tinha me prometido um jantar à luz de velas para comemorar o início do nosso namoro, não foi?
- Foi... Mas você ainda quer?
- Claro! Por que eu não iria querer? Vamos logo que o nosso pedido já deve ter chegado.
- Geeda... Você não existe!

23h40min05seg – Adriano sinalizou para o garçom e pediu a conta.

- Amor... Enquanto a conta não chega, vou ao banheiro retocar a maquiagem, tá?
- Não precisa amor...
- Precisa sim... Tenho planos pra nós!

23h40min28seg – Assim que avistou que Maria Geeda entrou no banheiro feminino, Adriano sinalizou para o Garçom pedindo a conta e em seguida tirou o celular do bolso e fez uma ligação.

- Sou eu... Ela foi ao banheiro... Temos alguém lá?

23h40min31seg – Ciente da exigência do Chefe, o Dois respondeu prontamente:

- Dentro não... O Cinco está no teto... Ele instalou um microcâmera sob a luz... E puxou uma fiação para uma Tv portátil até um ponto no teto... Está lá em cima...
- Mande-o ligar pra mim agora!

23h40min33seg – Quase que imediatamente o Dois ligou para o Cinco. Mas não foi atendido.

23h40min35seg – Tentou novamente...

23h40min50seg – Muito nervoso, fez mais uma tentativa e finalmente foi atendido.

- Que foi Dois?... Estou vigiando.
- Cinco... O chefe quer falar com você agora!
- Você disse pra ele que estou vigiando a mocinha?
- Disse... Ele quer um relatório imediato... Ligue rápido... Lembra-se do que aconteceu da última vez que atrasaram uma ordem dele... Não lembra?

BREVE PAUSA PARA AS LEMBRANÇAS DO Nº CINCO...


Em algum ponto de Aracaju, Adriano estava finalizando uma janta... Naquela noite tinha feito uma refeição leve à base de saladas e strogonof, por sinal ele adorava.

Exatamente no instante em que penetrou com o Garfo o último pedaço de salada, e dirigiu a boca... O Dois aproximou-se devagar de Adriano e com jeito, falou:

- Chefe... Me Desculpa...
- Você só pode estar doido vindo interromper minha janta... Você enlouqueceu Dois?
- Não Chefe... Só estou interrompendo porque o senhor me ordenou há algumas horas atrás, de forma bem clara para avisá-lo da chegada do iniciado...

Adriano parou de comer, afastou o prato e disse:

- É... Fez bem... Me lembro dessa ordem.
- Eu jamais o desobedeceria chefe.
- Sei disso... Não é à-toa que você é o Dois.
- Obrigado Chefe.
- Dê-me uns trinta segundos para me recompor...
- Como desejar chefe.

O Dois bateu palmas e três moças lindas entram na enorme sala de jantar. Decorada com mosaicos hexagonais. Uma típica morena brasileira, outra oriental, e uma loira. Todas trajando roupa executiva, mas ao mesmo tempo a morena trouxe uma agenda e passou página por página os compromissos previstos para o dia seguinte. A oriental trouxe uma outra camisa, branca com algumas inscrições, doze precisamente... Que era utilizada pela tradição daquela Sociedade Secreta, em momentos de decisão... Orientação e Castigo. A loira fez uma breve seqüência de massagem no couro cabeludo do Chefe e depois nos ombros... Segundo a tradição deles, toda decisão deve ser tomada com a mente relaxada... Para ser a mais acertada possível.

Após se sentir recomposto, Adriano balançou a cabeça olhando para o Dois que bateu palmas novamente, o que provocou a saída das beldades.

Quem olhasse aquilo se surpreenderia, todos que estavam presentes naquela sala tinham uma série de códigos secretos motivados por gestos... E de acordo com o sinal e motivação, todos sabiam exatamente o que fazer... Por isso, o Cinco que estava à porta da sala naquele dia abriu para viabilizar a saída das moças e falou ao mais novo iniciado...

- Me acompanhe...

Assim que saiu, o Dez o substituiu. Como Adriano costumava dizer, em hipótese alguma uma peça da organização pode ficar fora do lugar... Assim, todos os presentes agiam naturalmente de forma harmônica...

Assim que se aproximou de Adriano o Cinco falou:

- Trouxe o iniciado Chefe...
- Obrigado Cinco...

Lançando um olhar frio para o Iniciado Adriano perguntou:

- Soube que você concluiu a missão... Mas atrasou quinze minutos...
- Só quinze minutos Chefe... Mas consegui.
- Só quinze minutos?... Pouco hein? Que tal novecentos segundos?
- Aí já é muito.
- Meu jovem... Não sei se te disseram... Eu não admito erros... Nós não admitimos erros!... Por isso nós existimos há séculos! – Adriano deu um sinal e quase num passe de mágica o Onze apareceu transportando um prato com um guardanapo cobrindo algo. – Tenho certeza que você não vai mais atrasar... Estou certo meu jovem?
- Sim chefe...
- Tenho certeza disso. Mas... De qualquer forma, será punido... Alguém tem que ser instrumento pra dar exemplo... E hoje, esse alguém é você.

Adriano tirou o guardanapo do prato que o Onze segurava e o que se viu foi um relógio de pulso de pulseira de couro, com um garfo e uma faca ao lado... De forma calma e fria, O Chefe começou a falar...

- Hoje você não vai morrer... Afinal, cumpriu a missão. Mas, pra nunca mais se atrasar... Vai comer esse relógio inteiro, a pulseira, a mica, os ponteiros... Tudo! Você tem quinze minutinhos... E se não deixar o prato limpo, vira outro, e outro, e outro... Até você conseguir... Fui claro?
- Sim chefe... Mil desculpas...
- Está desculpado... Mas coma tudo direitinho... Vou me recolher... O Onze vai cronometrar o tempo... E o Doze trará os relógios para te servir... Há muitos viu?... Pro seu bem... Espero que tenha êxito...

Aos prantos o Iniciado pediu perdão:

- Desculpa chefe... Mil perdões...

Adriano se levantou, passou a mão na cabeça do Iniciado como se estivesse abençoando-o e disse:

- E o desculpo e o perdôo meu jovem... Mas faça o que mandei... Coma tudo direitinho.

FIM DAS LEMBRANÇAS DO Nº CINCO.

- O Chefe quer um relatório imediato... Ligue rápido... Lembra-se do que aconteceu da última vez que atrasaram uma ordem dele... Não lembra? – Perguntou o Dois.
- Não precisa me dizer... Tenho insônia até hoje. Vou ligar... Copiado. – Disse o Cinco.

23h40min55seg – Com extremo cuidado para não ser ouvido, o Cinco que estava sobre o banheiro feminino do “Ribalta’s”, ligou para Adriano.

- Estava querendo falar comigo chefe?
- Sim... O que ela está fazendo?

23h41min03seg – O Cinco inclinou-se sobre a tela da TV portátil ligada na câmera escondida que tinha instalado sobre o teto, e enquanto observava o movimento, relatou passo a passo o que via.

- Está pegando um rolo de papel higiênico...
- Como?
- Isso mesmo... Está pegando... Mais dois, mais um... Mais um... Quatro!
- O que essa louca está pretendendo?
- Sei não chefe... Mas coisa boa não é.
- E agora?
- Tirou da bolsa uma agulha e seringa... Pegou uma luva... Peraí...
- Que foi?
- Ela saiu do meu campo de visão... Peraí...

23h43min05seg – Mexendo no pequeno cabo que ligava a pequena TV à Mini câmera. O Cinco conseguiu dar prosseguimento ao relato.

23h43min09seg – Garçom entregou a conta. Adriano deu uma rápida conferida e pagou em dinheiro vivo.

 


23h43min59seg – Assim que o Garçom se afastou Adriano prosseguiu com as orientações à sua equipe:

- Dois...
- Pronto chefe... Estou vendo... Ela sentou-se no vaso e está esfregando a ponta da agulha na sujeira do papel... Peraí... Tirou um pequeno frasco da bolsa...
- Frasco de quê?
- É pequeno e transparente... Não consegui ler o rótulo.

23h44min07seg – Adriano refletiu por alguns segundos e ordenou:
 
- Se ela tentar injetar este líquido em mim façam alguma coisa para impedir, mas não a deixem perceber... Quem cometer um erro vai se ver comigo!
- Certo chefe... Mas não é arriscado?
- Não me questione Cinco!... Sei o que estou fazendo!
- Chefe... Ela pegou umas sacolas plásticas... Grandes... De dez litros aproximadamente.
- Hum... Talvez ele tente me asfixiar... Cinco... Diga ao Três que durante a viagem no táxi vou tentar fazer um furinho na sacola... E que se não conseguir fazer vou espirrar como sinal de alerta... Do contrário está tudo sob controle... Entendeu?
- Sim... Chefe... Peraí... Ela jogou as luvas no lixo.
- Assim que ela sair mande alguém recolher...
- Certo... Avisarei ao Dois... É o que está mais próximo.


23h53min35seg – Abismado com os gestos e artimanhas da nova namorada do chefe o Cinco comentou...

- Chefe... O Senhor não vai acreditar.
- Fale!
- Essa mocinha é louca... Foi se maquiar... E agora está chorando...
- Cinco... Assim que sairmos vou sinalizar... E diga ao Três que fique atento... O táxi está com os microfones?
- Sim...
- Aonde nós pararmos vou querer quatro equipes ao meu redor... Uma tem que estar bem próxima para alguma emergência... Se eu ficar em pé e em algum momento puser as mãos na minha cabeça é porque a situação está  fora do controle... E aí vocês aparecem... Entenderam?
- E se não conseguir ficar em pé?
- Vou espirrar... Do contrário, não façam nada...
- Certo... Chefe... Ela está saindo.


23h54min52seg – Adriano desligou o celular e fingiu estar vendo a TV do Ribalta’s

23h55min – Geeda voltou do banheiro e perguntou:




- A conta já chegou?
- Já. Por que demorou amor?
- Estava me preparando pra você.
- Hum... Quanto mistério!
- Garanto que você vai gostar!




  



Capítulo 49 – Déjà Vu... Parte 02

"Basta o esquecimento de uma única circunstância para nos levar ao erro." – Jaime Balmes
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06 de Novembro de 1998 – Sábado (Ver capítulo 37)

Um necessário flashback

22h30min15seg – Maria Geeda Petrúcia Leal, com lágrimas descendo pelo rosto, ergueu a cabeça e encarou Adriano.

22h30min18seg – Geeda alisou os cabelos do enxadrista e disse:
 



- Meu amor lindo... Eu não tenho nada a dizer... Não tenho nenhum segredo. Sei que você tem curiosidade de saber sobre o meu passado... É natural... Mas... Por favor... Te peço... Vamos deixar para outro dia.

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