quinta-feira, 1 de março de 2012

Capítulo 110

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!

 

Capítulo 110 – Gritando em Silêncio...  Última Parte
Falta 03 capítulos para o final da novela on-line “Menina Veneno”

"Cada gota de sangue inocente derramado clama vingança
contra o príncipe que fez afiar a espada.” – William Shakespeare
 
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Queixa
Composição: Caetano Veloso



Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não o devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho certeza
Princesa
Surpresa
Você me arrasou
Nem sente que me envenenou
Senhora e agora
Me diga aonde eu vou...



EM ALGUM LUGAR DO PASSADO... NUMA OUTRA ENCARNAÇÃO.


Dois dias depois...

22 de ABRIL DE 1929 - SEGUNDA

08h15min02seg – Empolgado com a aula, Padre Antônio não percebeu que há pelo menos três minutos Gisela desviara toda a atenção para um “Concriz”, típico pássaro de belo canto da Caatinga que tinha pousado sobre a enorme cruz de madeira que havia naquela pequenina igreja.


“Buscai o Senhor, enquanto se pode encontrar;
invocai-o, enquanto está perto. - Isaías, 55:6”

08h16min33seg – O pássaro pôs-se de perfil estabelecendo um estranho contato visual com Gisela.

 


08h16min39seg – Padre Antônio acompanhou o olhar da aluna e comentou:

- É um “Concriz”...
- O quê? – Indagou Gisela despertando dos seus devaneios.
- O pássaro que roubou a atenção da minha aluna.
- Desculpa Padre.
- Tudo bem... A primeira vez que o vi pousar ali e ficar me encarando também tive a sua reação.
- Ele não canta?
- Sim... Canta... É um dos melhores cantadores da sua espécie... Mas esse é especial.
- Como assim?
- Ele aparece de vez em quando... E não posso dizer que aprecio a visita.
- Por quê?
- Talvez por coincidência... Não sei... Logo após a sua visita recebe-se a notícia de uma desgraça ou morte de alguém.
- Cruz credo Padre!

Infelizmente... Padre Antônio estava certo.


Enquanto isso... não muito distante dali.


08h16min39seg – Os “Volantes” chegaram ao Centro de Pinhão atirando pra tudo que é lado.

 


Algumas moças que se encontravam desacompanhadas foram pegas à força e levadas a um canto onde sofreram violência sexual... Os moradores que ousaram correr receberam um covarde tiro nas costas.

08h19min12seg – Eduardo que tinha dado a sua costumeira escapulida durante a aula do Padre Antônio ficou imóvel, apavorado por estar no coração daquela barbárie.

08h19min17seg – Um Volante surpreendeu Eduardo que se escondia na fresta de uma parede.

08h19min25seg – O jovem coroinha levou um grande susto ao sentir a ponta de uma espingarda sendo esfregada em suas costas.

– Olha só o que temos aqui! – Girou Eduardo com violência e o encarou.

08h19min30seg – Mais três homens armados se aproximaram. Os demais correram de um lado para outro revistando a cidade.

- Peixe fresco!
- O que você está fazendo aqui sozinho? – Não obteve resposta. - Vamos rapaz, abra o bico!
- Eu não devia estar aqui... – Eduardo se pronunciou com a voz trêmula.
- Onde está o seu grupo? – Indagou um velho sargento.
- Eu não to em grupo nenhum não, moço.
– Não adianta mentir! – Um dos Volantes deu um soco na barriga do jovem rapaz.
- Capitão Zé Canuto significa alguma coisa pra você? – Questionou o sargento.
- Não.
– Desembucha Cangaceiro da peste! – Eduardo recebeu novo soco.
- Eu não sou Cangaceiro não moço.
- É volante por acaso?

08h22min270seg – Os três Volantes que davam apoio apontando suas armas na direção de Eduardo se entreolharam e sorriram.

- Não moço. Sou coroinha do Padre Antônio.

08h25min41seg – O sargento entregou um chicote para o Volante mais velho e gritou:

– Faça falar!
- Não... Pelo amor de Deus não!
- Diga onde está o resto do bando!
- Não sei nada não moço!... Sou coroinha...

08h25min41seg – Ao ver que o homem ergueu a mão para chicoteá-lo, Eduardo se desesperou e saiu correndo.

08h25min48seg – O Volante mais afoito apontou a arma com a intenção de atirar, mas foi impedido pelo Sargento que disse:

- Deixe ele ir.
- Mas Sargento!
- Faça o que eu to mandando soldado! É só a gente seguir o rastro dele que o bando aparece.
- Bem pensado.

ALGUNS MINUTOS DEPOIS... nA IGREJINHA.

 

09h14min56seg – Eduardo entrou todo alvoroçado.

- Padre Antônio!
- Eu não lhe disse pra voltar só quando a aula acabar?
- Padre Antônio, eu sei que não devia... Mas desobedeci, fui pra cidade... Os volantes chegaram... – Começou a chorar - Mataram muita gente, pegaram mulheres à força. Eu fiquei com muito medo, e não me mexi. Eu os vi atirando nas pessoas que corriam. Então me pegaram e pensaram que eu era Cangaceiro... Quando vi que iam me chicotear eu saí correndo.

09h15min19seg – Padre Antônio começou a trancar as portas da igrejinha.

- Tanto que avisei Eduardo!

09h15min37seg – Recuperando do susto que a entrada súbita do jovem coroinha provocou, Gisela perguntou muito preocupada:

- Eles te seguiram?
- Não sei... Acho que sim. Mas eu me escondi, vão demorar a chegar.
- Meu Deus ajude-nos!
- Calma Padre! Vou chamar Saturnino.
- Pra que?
- Você vai comigo a fazenda.
- Ele não pode!
- Como? – Indagaram Eduardo e Gisela ao mesmo tempo.
- Não é seguro.


09h16min50seg – O velho coração do Padre Antônio não agüentou e começou a sofrer um ataque que provocou o desmaio do religioso.

- Padre! – Gisela gritou apavorada.

09h16min59seg – Eduardo ajudou o Padre a sentar num dos bancos da igrejinha.


- Gisela... Vá chamar o seu amigo... O Saturnino... Que eu cuido do Padre.
- Eu vou, mas volto. E você vai comigo!
- Que seja... Mas vá agora.

09h17min44seg – Pegou um pouco de água que havia sobre o altar e jogou no rosto do Padre despertando-o.

- Eu lhe avisei tanto, meu filho!
- Não fale padre... Gisela foi buscar ajuda.
- Eu não vou com vocês.
- Deixe de ser teimoso, padre.
- Você não entende meu filho... – Tossiu - Aquele homem...
- Poupe energia... Não fale.
- Eu preciso... Me ouça: Aquele homem...
- Que homem?
- Coronel Raimundo Venâncio... Pai de Gisela.
- Não fale.
- Ele matou seus avós.

09h20min01seg – Eduardo engasgou com a própria saliva e começou a chorar:

– O senhor está delirando.
- Não, eu não estou meu filho.

09h20min01seg – Gisela chegou muito atordoada, mas ao perceber que o Padre e Eduardo conversavam decidiu encostar-se na parede e não interromper. Apesar dos poucos anos, em seu íntimo algo lhe dizia que os dois estavam se despedindo...

“A mensagem do Concriz” – Pensou.


- Desculpe Padre... Eu sei que homem que é homem não chora.
- Meu filho, não tenha vergonha da tua lágrima... A lágrima que é sincera, pura, penetra no coração e purifica nossa alma.
- Não fale... Por favor.
- Eu preciso falar... Você gosta de Gisela, não é? – Chorando e balançando a cabeça Eduardo confirmou - Eu sabia... Cuidado com o pai dela meu filho, se ele descobre... Te mata. – Padre tossiu e expeliu sangue – Ah como eu queria você se tornasse padre como eu... Mas se o amor lhe chamou não se faça de surdo, siga-o, mesmo que haja caminhos perigosos e íngremes... Ele o guiará para o santo reino de Deus.
- Não fale. – Eduardo desabou em prantos.
- Um homem sabe quando chega a sua hora...
- Não fale bobagem.

09h25min01seg – Com muita dificuldade para respirar, Padre Antônio ergueu a mão direita e segurando um terço pendurado no pescoço de Eduardo falou:

- Esse terço que carrega no peito foi sua mãe que lhe deu quando você nasceu.
- E o meu pai?
- Seu pai é um assassino... Virou Capitão Zé Canuto pra vingar seus avós!
- Agora estou entendendo. O Sargento perguntou se eu conhecia alguém chamado Canuto...
- O que você disse?
- A verdade... Que não sabia.
- Se os volantes estão aqui, seu pai também está... E se eles deixaram você escapar foi para segui-lo... O destino bateu a sua porta meu filho... Tenha cuidado.

09h30min11seg – Padre Antônio de um último suspiro e morreu. Eduardo que tinha acabado de ver Gisela encostada numa parede da entrada da igreja a chamou muito emocionado.

09h30min17seg – Assim que se aproximou Gisela se deu conta de que o Padre Antônio acabara de falecer... E aos soluços anunciou:

- Edu... Padre Antônio morreu.
– Padre Antônio! Padre! Padre!

09h30min23seg – Gisela pôs a mão no ombro de Eduardo e disse:

 - Vamos Eduardo, já está tudo pronto.

09h30min25seg – Saturnino, jagunço do pai de Gisela entrou.

- Dona Gisela, vamos embora!
- Vamos Eduardo!
- Dona Gisela, a “Volante” está chegando!

09h31min56seg – Eduardo pegou o Padre e o carregando nos braços bradou:

– Vão embora! Eu me viro!
- Eu vou com você!

09h32min01eg – Não se importando com a presença do homem de confiança do seu pai, Gisela tomou a iniciativa de dar o beijo que sonhara ao longo daqueles últimos tempos... Um beijo tantas vezes adiado... Mas evidente na troca de amor recíproco que havia sempre que seu olhar cruzava com o de Eduardo...

Um beijo breve... Mas de uma intensidade que só fez reafirmar um amor latente que já vinha se materializando há pelo menos duas encarnações...  Um amor imortal... Pela segunda vez abreviado por uma tragédia... Que anos mais tarde estaria relacionado a estranhos eventos no Edifício Maria Felicana. (Ver 02h30min54seg do capítulo 01)


09h32min40eg – Saturnino puxou-a com força e disse:

- A senhora vai é comigo!

09h32min46seg – Eduardo saiu pelos fundos na direção da Caatinga que rodeava o local. Gisela e Saturnino seguiram na direção oposta.


DEZ MINUTOS DEPOIS... nA IGREJINHA.

09h42min46seg – O Sargento e a sua guarnição chegaram.

- Ele teve aqui Sargento.
- Foi pra lá!
- Vamos!

09h43min28seg – Seguiram o rastro de Eduardo.

Enquanto isso... nA fazenda do cel raImundo venâncio.

 

09h45min53seg – Saturnino relatou ao Coronel os últimos acontecimentos: A chegada da Volante no Centro de Pinhão, a morte do Padre Antônio... E a temerosa aproximação do bando do Capitão Zé Canuto... E o mais grave: O romance da jovem Gisela com o Coroinha afilhado do Padre.

09h46min15seg – Por fim, o jagunço informou um trecho da conversa do Padre antes de morrer: O jovem coroinha era filho do temido Cangaceiro.

09h46min22seg – Ao ouvir aquele nome que não ouvia há anos, o Cel Raimundo Venâncio mergulhou em seus pensamentos e permaneceu mudo durante algum tempo.

09h48min00seg – Lembrou-se de um fato importante e sem revelar pensou em voz alta:

– Mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer... Você tá chorando por causa do coroinha minha filha?

09h48min17seg – Gisela não respondeu. Cabisbaixa apenas chorou.

- Você deu pra ele? Vamos... Responda!
- O senhor está me ofendendo!

09h48min41seg – O Coronel tirou um revólver calibre 38 da cintura, e transparecendo muito ódio entregou a Saturnino ordenando:

 - Me ache esse rapaz!

09h49min08seg – Ingênua, Gisela perguntou:

 – O senhor vai salva-lo?

09h49min11seg – Tomado por muita raiva, o Cel Raimundo Venâncio gritou:

– O teu sorriso não nega que me apunhalou pelas costas... – Ameaçou dar um tapa, mas desistiu. - Se você me traiu, não terá mais pai!

09h49min16seg – Gisela olhou para o pai e muito angustiada ameaçou:

- Se vai fazer alguma coisa contra a pessoa que amo... Eu não tenho mais pai!

09h49min20seg – Saiu correndo e trancou-se no quarto.

09h49min33seg – Ao perceber que Saturnino aguardava em silêncio a ordem, bradou:

- Vá... E mate o rapaz, Saturnino.
- Matar?
- Sim, é pra matar! Quando voltar diga que viu um Volante atirar nele e que fugiu pra não morrer, entendeu?
- Entendi sim senhor.
- Então vá!

09h50min51seg – O Coronel dirigiu-se ao escritório particular, tirou outro revólver da gaveta e enquanto carregava refletiu:

“Capitão Zé Canuto... Não é possível... Eu matei aquele infeliz. Peraí... Claro... Faz muito tempo... Deve ser o filho dele... Aquele pirralho que fugiu... O desgraçado veio se vingar...

09h52min14seg – Diante da descoberta correu pra entrada do Casarão e chamou todos os capangas:

- Pedro, Juliano, Ferreira...

APÓS UMA LONGA CAMINHADA... nO MEIO DA CAATINGA.

09h52min14seg – Eduardo caminhou com muita dificuldade carregando o corpo do Padre.

09h57min35seg – Completamente esgotado, derrubou o Padre no chão e desmaiou.

minutos depois...

10h00min01seg – Enquanto fazia a segurança periférica do acampamento, um cangaceiro do bando do Capitão Zé Canuto encontrou Eduardo e Padre Antônio desmaiados e tratou de informar imediatamente ao chefe.

- Capitão... Capitão... Capitããão...
- Que foi home?
- Achei um homem e um padre.
- Tão vivo?
- Não sei... Estavam desacordados.
- Num sol quente desses? Deve ter acontecido alguma coisa...

10h04min29seg – O chefe dos cangaceiros pôs o coldre, olhou pra trás e apontando para alguns homens falou:

- Você, você, você e você... Venham comigo.

10h04min29seg – Assim que chega ao local, um dos cangaceiros cutucaram a perna de Eduardo com a ponta afiada de uma espingarda fazendo-o acordar.

- Aí!
- Tragam o rapaz pra cá. – Mandou o Capitão.

10h04min37seg – Dois cangaceiros carregaram Eduardo até o Capitão Zé Canuto.

10h06min13seg – Josefa viu um terço muito familiar no pescoço de Eduardo.

- Zé... Olha o terço!


10h06min18seg – Josefa correu e cobriu o jovem coroinha de beijos.

- O que deu em você mulher? Que é que tem o diacho do terço?
- É o nosso menino, Zé! (Ver capítulo 108)
- Tá abestando?
- Tenho certeza, Zé!

10h07min25seg – O Capitão caminhou até o corpo do velho religioso e balbuciou:

– Então esse é o padre?... Padre Antônio!? Foi você que matou rapaz?!
- É ele sim... Não o matei. Teve um ataque do coração.
- O que você ta fazendo aqui meu filho?
- Os Volantes estão atrás de mim... Foi por isso que o Padre enfartou... Passou a vida inteira me protegendo e o velho coração não suportou me ver em perigo.

10h08min01seg – Sentindo-se vitorioso o chefe dos cangaceiros bradou:

– Tá vendo mulher? Tá no sangue!
- Eles pensam que sou do bando de um certo Capitão Zé Canuto.
- O Capitão é ele. – Informou um dos cangaceiros.

10h09min32seg – Finalmente compreendendo que estava diante do pai, Eduardo fez força para se desvencilhar dos dois homens que o segurava.

- Como?
- É ele.


10h09min58seg – Apenas movimentando a cabeça, Capitão Zé Canuto mandou que o filho fosse solto.

- O que você quer comigo rapaz?
- O senhor... É o Capitão Zé Canuto?
- E se for? Quer entrar no bando?
- O senhor é?
- Sou.

10h10min05seg – Espantado, Eduardo olhou o corpo do Padre, a senhora que o tinha enchido de beijos há alguns instantes e para aquele Cangaceiro que gozava do temor e respeito de todos naquele lugar.

- Meu Deus!... Então... O senhor é meu pai.

10h10min09seg – Capitão Zé Canuto mandou todos abaixarem as armas e ainda desconfiado encarando o filho perdido, improvisou uma pergunta:

- Você tem quantos anos? .
- Dezoito.
- E foi criado pelo Padre Antônio?
- Sim.

10h12min31seg – Virou-se para Josefa e perguntou muito sério:

 – O terço é esse mesmo mulher?
- É.

10h13min04seg – Capitão Zé Canuto abriu os braços e dando uma grande gargalhada que foi acompanhada por todos disse em tom comemorativo:

- Dá um abraço no seu pai.

10h15min04seg – Eduardo que ainda não tinha digerido a morte do Padre Antônio, esquivou-se dos cangaceiros e dando socos no peito Capitão Zé Canuto falou aos prantos:

– Desgraçado... Por sua culpa ele morreu!

10h15min12seg – Os cangaceiros ameaçaram intervir, mas foram impedidos.

 - Se aquietem! Deixa! É cabra macho... Tá no sangue... Tem ódio acumulado no peito... É meu filho!

10h16min29seg – Josefa puxou Eduardo e o abraçando ponderou:

- Não foi culpa dele, meu filho.

10h16min45seg – Permitindo-se chorar nos ombros da figura materna que nunca teve, Eduardo encarou o pai e disse:

- Se não fosse a sua vingança, isso não teria acontecido.
- Mas eu to aqui pra vingar seus avós... Pra fazer justiça!
- Justiça não se faz com morte!

10h18min33seg – Um jovem cangaceiro surgiu muito agitado.

- Capitão, os Volante estão vindo!

10h18min35seg – Capitão Zé Canuto ergueu a mão direita e fez um movimento circular... Em seguida todos os homens do bando tomaram posição para um ataque iminente.

10h19min01seg – Na medida em que as mulheres, a exceção de Josefa, se protegiam atrás de grandes pedras, Capitão Zé Canuto tirou uma arma extra da cintura e ofereceu a Eduardo.

- É chegada a hora da luta! Então meu filho? Vai lutar comigo?
- Pra que lutar se não posso ficar com a mulher que eu amo?
- Por que acha que não pode ficar com ela? - Perguntou
- É só dizer o nome que mando buscar.
- Ela é filha do homem que matou seus pais... O homem de quem veio se vingar.

10h22min09seg – Josefa encarou o filho e perguntou assustada:

- É filha do coronel?

10h22min15seg – Explodindo numa ira cada vez mais crescente, Capitão Zé Canuto gritou:

– Não me diga isso!

10h22min17seg – Numa postura desafiadora, Eduardo mergulhou nos olhos do chefe dos Cangaceiros e disse:

 – Sim, a filha de quem você quer matar!
- O Coronel sabe disso?
- Não sei.

10h23min45seg – Depois de refletir um pouco, Capitão Zé Canuto voltou a oferecer a arma dizendo:

- Ele sabe... A essas alturas já mandou jagunço atrás de você.

10h24min01seg – Eufórico, o cangaceiro mais novo avisou:

– Tão chegando Capitão.
- Como é rapaz? Prefere morrer pelas mãos da polícia, do Coronel ou lutando com seu pai?

10h24min09seg – Josefa deu um beijo na testa do filho e enquanto caminhava para se juntar às outras mulheres que se protegiam no combate falou em tom de lamentação:

- Você tem que escolher meu filho.
- Escolher... Escolher... Volta e meia essa palavra me persegue... Padre Antônio uma vez me disse que chegaria um momento em que eu teria de fazer uma escolha pra não morrer: Ou virar cangaceiro... Ou Volante... Ou o sonho dele: Virar Padre... Escolha... Maldita escolha...

10h24min30seg – Transtornado... Eduardo pegou a arma que lhe fora oferecida e a jogou no solo rachado da Caatinga.

- Não tenho que escolher nada...

10h24min35seg – Ouviu-se um último aviso:

- Tão chegando Capitão!
 
10h25min01seg – Capitão Zé Canuto pendeu a cabeça decepcionado e  em seu íntimo deu um doloroso grito silencioso que o fez derrubar pela primeira vez na vida uma tímida lágrima. Em seguida inspirou o ar bem devagar, puxou arma que estava presa em seu tórax e deu um tiro no meio da testa de Eduardo que morreu instantaneamente.

– Covarde!

10h25min03seg – Josefa tentou acudir o filho, mas foi impedida pelas companheiras.

- Nããããoooo!

10h25min17seg – Observando o corpo sem vida do filho, o chefe dos Cangaceiros falou com profunda amargura:

- Não é meu filho! Filho meu é cabra macho, não é covarde!
- Nãããããão! – Josefa tornou a gritar.

10h26min39seg – Josefa desvencilhou-se, correu e abraçando o filho morto berrou:

– O Padre o levou pra ele viver... E ele trouxe o Padre pra morrer... Voltou pra morrer!


10h26min44seg – Capitão Zé Canuto mandou dois dos seus homens arrastarem Josefa e o corpo do filho para junto das mulheres do bando...


- Mulher... Ele voltou pra morrer... Mas pelo menos a bala não foi do Coronel nem dos Volantes.

10h30min01seg – Os Volantes ficaram ao alcance da mira dos cangaceiros. Capitão Zé Canuto fez um novo gesto com as mãos iniciando uma terrível seqüência de disparos.

- É chegada a hora da luta!

 



Continua...

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