terça-feira, 6 de março de 2012

Capítulo 111


Capítulo 111 – AIMAROT...  Parte 02
Falta 02 capítulos para o final da novela on-line “Menina Veneno”

"O erro mais profundo nos divide de nós mesmos.” – Gustave Corção
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Daniel  na Cova dos Leões
Composição: Renato Russo


A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão:
Teu corpo é o meu espelho e em ti navego
E sei que tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz, quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos.


EM ALGUM LUGAR DO PASSADO... NUMA OUTRA ENCARNAÇÃO.


Dois dias depois...

22 de ABRIL DE 1929 - SEGUNDA


Durante a batalha dos Cangaceiros e Volantes Guilherme teve a estranha sensação de ter viajado no tempo e estar participando ativamente daquele tiroteio... Chegou a sentir o sangue de Eduardo, filho do Capitão Zé Canuto, tocar o dedo do pé e ser misturado com a argila do solo rachado.

 

O mais confuso foi perceber que em algumas horas, em meio à névoa de pólvora que se espalhava loucamente naquela violência desenfreada, os rostos dos personagens daquela tragédia se transformavam em figuras conhecidas da sua realidade temporal.

Tal constatação mexeu no íntimo de Guilherme... Fazendo-o chorar e querer fugir dali, mas antes que pulasse da poltrona que flutuava diante da imensa tela que exibia a sua “última encarnação” em filme, notou a mão da sua mentora espiritual que tocou seu ombro e disse:

- Calma meu filho... Sei que é doloroso rever tudo isso... Mas passou.

Gui... Olhou para Elda e recebeu de volta um sorriso confortante. Ao focar novamente a projeção, viu que a cena da batalha estava quase no fim... A maioria das personagens já tinha tombado sem vida.

A partir daquele instante a projeção começou a fazer close do rosto dos personagens revelando-lhe uma verdade que mudaria radicalmente a sua filosofia de vida:

Ao ver a cena em que Saturnino entrou no casarão, falou rapidamente com o Coronel Venâncio e dirigiu-se ao quarto de Gisela e batendo na porta contou da morte de Eduardo pelo próprio pai... Ficou chocado ao se dar conta que ao se focalizar a face dela que chorava desesperadamente a perda do seu grande e único amor, a mesma teve o rosto modificado para uma feição bastante conhecida: Gisela se transfomara em Maria Geeda Petrúcia Leal.

 

Mais uma vez Elda tocou no ombro de Guilherme para confortá-lo e fazê-lo continuar observando o telão.

Saturnino voltou pra informar ao chefe que a filha não saiu do quarto, mas que da porta ouviu que ela entendeu o que ele disse e começou a chorar. O Coronel o dispensou e caminhou para o quarto da filha. A câmera deu mais um close e Guilherme pôde ver que o rosto do Coronel Raimundo Venâncio tinha se transformado na face de Basílio, seu irmão.

Guilherme sentiu uma terrível dor no peito... Falta de ar...
 
Para garantir o equilíbrio energético, mentalmente, Elda solicitou a presença de Hélio que se materializou e de imediato fez um passe que acalmou Guilherme e o fez continuar olhando pra tela.

A cena fora tomada por uma gigantesca névoa de pólvora que aos poucos revelou vários corpos, tanto de Volantes quanto de Cangaceiros, morrendo; e alguns, também de ambos os lados, fugindo.

Também baleada e dando os últimos suspiros, Josefa se despediu do filho que fora morto pelo seu próprio marido... Aos poucos o rosto do coroinha e sua mãe também sofreram uma metamorfose: Josefa ficou com a face de Elda e seu filho com a de Eduardo (obsessor de Maria Geeda - ver 0h43min03seg do capítulo 18).

Guilherme segurou a mão da sua mentora e a encarou, mas foi impedido de falar alguma coisa ao receber o sinal de que deveria continuar assistindo a película. Ele atendeu.

A câmera mostrou várias pessoas mortas e parou diante do Padre Antônio que se converteu em Dona Stéphanie. Em meio a diversos choros e gritos de morte, houve um silêncio que foi quebrado por um berro carregado de ódio:

- Canuto!... Desgraçado!
- Tô aqui... Apareça se for homem!
- Sou homem! Muito homem... Sou o Sargento Correia!
- Então apareça... Sargento!
- Largue sua arma que apareço!
- Largue a sua primeiro!

O Capitão largou a espingarda e gritou:

- Pronto... Larguei... Agora mostre que tem coragem de enfrentar o Capitão Zé Canuto como homem!
 
O Sargento correia saiu correndo na direção da voz do Capitão... Sacou um revólver e deu dois tiros no tórax do cangaceiro que tirou uma arma escondida nas costas e descarregou cinco projéteis dizendo:

- Traíra fi da peste!

A câmera focalizou o rosto do Sargento Correia que se transformou em Hélio. Em seguida foi direcionado para o cangaceiro.

Por ter muitas mortes nas costas o Capitão Zé Canuto sabia que tinha chegado sua hora e não sobreviveria, por isso reuniu suas últimas forças para se arrastar até Josefa e morrer abraçando o filho morto. Assim que desencarnou... Guilherme pôde ver a si mesmo na pele do cangaceiro Capitão Zé Canuto.

Guilherme beijou o dorso da mão de Elda e Hélio e mentalmente pediu perdão. Em seguida os dois sumiram. Chorando muito Guilherme se despediu e em pensamento ouviu a voz de Elda e Hélio:

“Confie em Deus”

Extremamente emocionado, Guilherme começou a refletir:

“Tudo o que aconteceu comigo até hoje foi necessário... Agora eu entendo: A morte de Hélio, o acidente que sofri as maldades de Geeda, a empatia e o profundo amor que sempre tive por Dona Stéphanie não eram fatos isolados... Estavam relacionados a eventos daquela última encarnação. Eduardo morreu com muito ódio. Um ódio que fora alimentado por diversas razões: o fato de por causa da vingança do pai ter sido criado como um criminoso escondido, à margem do convívio social, impossibilitado de ir à cidade quando bem quisesse. E ainda por causa de uma rixa antiga com o Coronel Venâncio que matou seus avós, ser impossibilitado de ser feliz com o único amor que tivera na vida, Gisela (agora Geeda). Por isso que eles estão ligados ao ponto dele ter se tornado seu obsessor... Como se não bastasse além do pai ser responsável indireto da morte do Padre que o criou com muito amor ainda teve a audácia de matá-lo por ter se recusado a se unir em sua luta estúpida... Matou o próprio filho e o afastou pra sempre do seu grande amor. Tal ressentimento fez Eduardo despertar um enorme sentimento de vingança que perdurou por anos e anos, de tal forma que passo a passo se vingou de todos que de alguma maneira o impediu de ser feliz com sua amada: Guilherme que era a encarnação do Capitão Zé Canuto, Hélio que foi o Chefe da Volante (Sargento Correia) e Coronel Venâncio que reencarnou como Basílio... E a história se repete... Mais uma vez a “Lei do Amor” prevalece, mesmo tendo focado a vingança apenas em Basílio, Guilherme e Hélio, o ódio obsessivo de Eduardo transferido para as ações de Maria Geeda Petrúcia Leal afetaram o Padre Antônio, agora reencarnado como Dona Stéphanie que perdeu o filho Hélio, e estava prejudicando a evolução da própria Gisela agora reencarnada como Geeda... Ação e Reação... Tudo tem um preço... Eu mereço... Agora eu entendo.”

Daquela vez, as lágrimas não foram motivadas por sofrimento, revolta... Mas por profunda sensação de alívio, por isso despertou do coma.


Breve Flashback 

09 de Novembro de 1998 – Segunda – 10h10min55seg



Guilherme esfregou os olhos... E ao abri-los viu-se noutro cenário. Pra sua surpresa não estava mais na colônia... Mas no leito de outro hospital. (Ver capítulo 38 e 72)

Ao sentir o rosto coçando concluiu que deveria estar barbudo... Meses tinham passado.

10h13min02seg - Sentiu uma forte luz nos olhos... Dr. Gilvan que o acompanhou desde o início fez uma rápida avaliação dos reflexos e falou:

- Definitivamente ele está de volta.
- Ele saiu do coma?
- Sim... Chame Dona Stéphanie!





 
09 DE FEVEREIRO DE 2009

Quarto de Guilherme – Segunda Feira

 

02h31min39seg – Ao penetrar o olhar frio de Maria Geeda que lhe dava um carinho na testa, Guilherme teve um Dèjá Vu dos eventos que aconteceram em sua encarnação anterior... Vagas lembranças do período em que permaneceu em estado de Coma.

 

02h45min01seg –  Geeda parou de beijar, pegou uma seringa da bolsa e enquanto injetava um líquido falou ao pé do ouvido.

- Dendroaspis polylepsis... Já ou viu falar? Estou injetando o veneno diluído deste bichinho... Deu trabalho, mas graças a pessoas poderosas, consegui um pouco... Só estou dizendo por que sei que você detestaria morrer sem saber a causa... É um anestésico de efeito retardado, paralisante... Em algumas horas... Umas doze talvez... Seus músculos pararão por completo... Até atingir seu pulmão... Ninguém suspeitará de nada... Afinal, é um dos efeitos previstos em sua doença... Só vou dar uma mãozinha à mãe natureza... Essa é a última vez que nos vimos... Gui... – Deu mais um beijo – Você não deveria ter dito aquela frase... – Mais um beijo – Adeus.

 02h46min34seg –  Como se nada tivesse acontecido, Geeda guardou a seringa e passou um lenço nas bordas da cama pra limpar as impressões digitais, levantou-se e dando um sorriso sutilmente sapeca falou:

 - Podemos ir.

 02h45min01seg – Adriano Kelsen, surpreso com a crueldade de Maria Geeda Petrúcia Leal, indagou:

 - Por que fez isso?
- Por que o amava!


 



10 DE FEVEREIRO DE 2009

22h29min02seg – Maria Geeda pegou o celular que estava vibrando para que a mãe o primo não soubesse que estava acordada e atendeu a ligação.

 22h29min05seg – Sem dizer uma palavra ouviu com muita atenção o que lhe era dito:

- Sou eu... Serei rápido e só direi uma vez. Tenho sua atenção?
- Sim. – Disse Geeda num suspiro quase inaudível.
- Guilherme está morto... E eu não vou te incomodar mais.
- E o detetive?
- Também não... Você está livre!
- Obrigada.

 22h29min09seg – Adriano prosseguiu fazendo uma importante revelação:

- Geeda... Tem mais uma coisa.
- O que Chefinho?
- Dois estava de vigília e me contou que Guilherme disse uma frase antes de morrer.
- Sério? Alguém mais ouviu?
- Não... Só “Dois” mesmo.
- O que Gui... Disse?
- Confesso que não entendi... Mas acho que talvez você entenda... Informou que ele lutou muito pra dizer... E com muita dificuldade apenas falou: “Perdão... Frase... Perdão...”... E morreu. Você sabe o que significa?

22h29min09seg – Geeda permitiu-se verter uma lágrima e sussurrou:

- Sei sim.
- Posso saber?
- Sim... Pra mim só tem um significado.
- Qual?
- É tarde demais pra se pedir perdão.



Continua...



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