quinta-feira, 5 de maio de 2011

Capítulo 33

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 


Capítulo 33 – ABERTURA...
"Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram;
assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo;
 assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio." - William Shakespeare
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Saber Amar – Paralamas do Sucesso - CD – Vamos Batê Lata - Ao vivoComposição:  Hebert Viana

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A crueldade de que se é capaz
Deixar pra trás os corações partidos
Contra as armas do ciúme tão mortais
A submissão às vezes é um abrigo
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Há quem não veja a onda onde ela está
E nada contra o rio
Todas as formas de se controlar alguém
Só trazem um amor vazio
 
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23 de Outubro de 1998 – Sexta

9h41min07seg – O ônibus que fazia a linha “Campus/Zona Oeste” percorreu uma trajetória de semicírculo no terminal da Rodoviária Nova e parou para o desembarque.

 
9h41min09seg - Maria Geeda desceu. De frente para Adriano, sendo empurrada e cutucada pelos passageiros que desciam e subiam, de forma meiga e ao mesmo tempo chorosa perguntou:

- Você não vai descer?

9h41min10seg – Com uma expressão apática Adriano apenas respondeu.

- Não.

9h41min11seg – Maria Geeda fez menção de subir, pois pretendia dar um beijo de despedida em Adriano. Porém frustrou-se com a frase que o enxadrista disse.

- Tenha um bom dia!

9h41min12seg – O motorista desligou o motor do ônibus e com passos rápidos dirigiu-se ao banheiro. Vendo a cena, sem dar-se por vencida, Geeda subiu um degrau e perguntou:

- E é assim que você se despede?
- Se quiser posso desejar um mau dia.
- Engraçadinho – Geeda deu língua. – Quando nos veremos novamente?

9h41min47seg – O motorista ligou o motor do ônibus. Instintivamente os dois enamorados olharam para o cobrador, que lendo a mente dos dois, sinalizou que iriam partir. Geeda, apressada, repetiu a pergunta:

 
- Quando nos veremos novamente?
- Você realmente quer aprender a jogar xadrez? – Perguntou Adriano, um pouco impaciente.
- É o que mais quero!
- Vá hoje às 16 horas à Praça Fausto Cardoso, estarei te esperando no banco à esquerda da câmara de vereadores.
- Logo ali?
- Vá se quiser!


9h42min04seg – Assim que percebeu que a porta seria fechada, Geeda deu um pulo. Ao ver o ônibus partindo, beijou a palma da mão direita e assoprou um beijo para Adriano, que deu um quase que imperceptível sorriso.

A Praça Fausto Cardoso é um conhecido ponto turístico de Aracaju, palco de eventos históricos já tratados nessa novela. Ali, dia após dia, é possível ver a “cara” de Aracaju: Pessoas engravatadas indo e vindo, uns vereadores, outros advogados, outros protestantes. Também é possível ouvir pedintes. A moça cega numa cadeira de rodas que há anos tem aquele ponto de labuta, e o pregador com um megafone enferrujado que há anos anuncia o fim do mundo. Em alguns pontos é visível a reunião de alguns “menores” com o intuito de cheirar cola. Noutros, pessoas da terceira (ou melhor idade, como alguns preferem chamar), conversando ou jogando damas ou xadrez nos tabuleiros inscritos nos bancos. E é claro, como toda boa praça: casais de namorados fazendo a abertura do jogo da sedução.
  
16h00min01seg – Adriano pôs a última peça de xadrez do lado em que Maria Geeda, sentaria. Já fazia quinze minutos que ele tinha chegado.

16h10min14seg – Maria Geeda chegou trajando a calça jeans e blusa roxa que adorava. Deu um beijo no rosto de Adriano e sentou no lugar indicado por ele.

- Demorei?
- Demorou... Dez minutos, para ser mais preciso. – Respondeu Adriano muito sério.
- Nossa que grosseria...
- Por que grosseria?
- Eu só perguntei por perguntar...
- E eu respondi uma pergunta. Isso é grosseria?
- Ninguém nunca te ensinou a ser gentil não?
- E o que é ser gentil?
- É às vezes não responder o que te perguntam... Ou negar algo que é evidente.
- A primeira hipótese para mim é idiotice... A segunda é agir como mentiroso.
- Nossa... Você é muito cartesiano.
- Vou considerar como elogio.
- Mas não foi. – Geeda com muito dengo sorriu e deu língua.


16h15min20seg – Adriano, muito sério, encarou Geeda e perguntou:
 
- Você quer realmente aprender a jogar xadrez?
- Claro!
- Então vamos começar...
- Posso fazer uma pergunta antes?
- Contanto que seja rápida.
- Por que você marcou aqui... Não é um bom lugar para um primeiro encontro.
- Isso não é um primeiro encontro... É uma aula de xadrez.
- Sim... Mas por que aqui?
- Primeiro... Você aprenderá xadrez no “tabuleiro Aracaju” que é justamente nesse ponto.
- Como assim?
- É uma longa história... Outro dia te conto.
- Segundo... Quero ver se uma “patricinha” como você vai suportar ficar muito tempo rodeada por pessoas comuns... Se não vai ficar empolada.
- Por que você me dá tanta pedrada?
-  Maria... Não precisa fingir que está ofendida... Eu e você sabemos que estou certo.

16h19min25seg – Maria Geeda roubou um beijo de Adriano, e olhando o tabuleiro disse:

- Estou pronta... Podemos começar.

16h19min26seg – Adriano não resistiu e deu uma gostosa gargalhada. Era a primeira vez que Geeda o via sorrir desta forma.

- Vamos ao jogo.
- Vamos ao jogo... – Geeda repetiu em tom de brincadeira.
- Você tem alguma noção de xadrez?
- Sei que é parecido com o jogo de damas...
- Nunca mais diga esta besteira!
- Desculpa...
- A única semelhança entre os dois é o tabuleiro. Só.
- Tudo bem.
- Já vi que vou ter trabalho.
- Se preocupa não... – Geeda puxou Adriano e deu um longo beijo. Em seguida, com a mão direita, alisou as coxas do enxadrista e seguiu passando-a levemente sobre o feixe - clair da calça. – Vou ser uma aluna aplicada.
- Vamos ver... Bem vamos lá: Jogamos o xadrez sobre um tabuleiro, como esse: quadrado, formado por 64 casas igualmente quadradas, sendo sua cor, alternadamente, clara e escura.
- Isso eu estou vendo bobinho.
- Eu sei... Bobinha... Mas em xadrez não basta ver... Tem que interpretar o que está vendo.
- Ah!
- Na partida de xadrez, cada jogador dispõe de 16 peças, algumas com formas distintas.
- Eu to vendo né? Tem peça com “cara de cavalo”, com “chapéu  de bispo”, e outra com uma “coroa”.
- Bem observado.
- Um elogio do meu professor lindo... – Geeda roubou outro beijo.

16h23min06seg – Como se nada tivesse acontecido Adriano prosseguiu.

 
- Uma regra prática para situar a posição das peças no tabuleiro é a de que o rei e a dama são colocados nas casas centrais: a dama (que se movimenta em qualquer direção pulando várias casas) na casa de sua cor e o rei (que se move em qualquer direção, uma casa por vez)  ao seu lado. Junto a eles são colocados os bispos (várias casas na diagonal), os cavalos (sempre em trajetória que forma um “éle” 2X3(3x2)) e por último nos cantos, as torres(várias casas na horizontal ou vertical)...
- Não parece ser tão difícil.
- Quer prestar atenção?
- Desculpa meu lindo...
- Uma vez colocadas as peças, pode ser iniciada a partida. O jogador que leva as peças brancas faz a primeira jogada.
- Por que isso?
- Preocupe-se com a regra.
- Desculpa... Bruto! – Geeda deu língua e sorriu.
- A partida é jogada com cada participante movendo alternadamente uma só peça... Se é uma partida amistosa, a cor é sorteada entre jogadores. Se for campeonato, não.

16h29min01seg – Geeda passou a língua entre os dentes, e de forma muito sedutora perguntou:

- Esta é uma partida amistosa?

16h29min03seg – Adriano puxou Maria Geeda pela cintura, e deu um longo beijo.

16h30min15seg – Adriano cessou o beijo, e encarando Geeda indagou:

- Isso responde a sua pergunta?


16h30min21seg - 06 de Novembro de 1998 – Sexta

Nos dias seguintes Adriano e Maria Geeda continuaram se encontrando. Na maioria das vezes nos bancos que ficavam entre as “Didáticas” da UFS. Exatamente duas semanas depois, no mesmo horário, Geeda já tinha conseguido colocar o seu amado oponente em xeque:

- Xeque... Disse Geeda num largo sorriso.
- Parabéns meu amor...
- Ganhei não foi?
- Não.
- Como não?
- Você apenas anunciou que o meu rei está em perigo... Mas veja só: A sua “Dama” que pôs meu “Rei” em xeque será capturada pela minha “Torre”...
- Ah!... Aonde errei?
- Bem... Se eu fosse “Petrosian” te diria: “O xadrez é um jogo pela forma, uma arte pelo conteúdo e uma ciência pela dificuldade”
- E daí?
- E daí que você tem que aprender as três fases da partida de xadrez.
- E tem isso é?
- Tem... E se você não quiser ser uma mera jogadora, quiser vencer... Tem que aprender.
- Eu quero vencer... Eu só sei vencer...
- Já percebi isso mocinha.
- Então... Que fases são essas?
- São três: Abertura (exposição), meio-jogo (nó) e final (desenlace).
- Não entendi.
- Simples: a abertura é a fase inicial e corresponde aproximadamente às dez primeiras jogadas. Nessa fase, os dois jogadores se esforçam para desenvolver seus efetivos de maneira mais rápida possível, tomando como referência o centro do tabuleiro. Nesse momento o rei é transferido do centro do tabuleiro para uma posição mais segura.
- É o roque, né?
- Eita aluna aplicada! – Adriano deu um beijo na testa de Geeda.
- E o meio-jogo?
- O meio-jogo começa quando a abertura já está consolidada, é o momento em que os dois lados se enfrentam com mais força. No meio-jogo, o rei é uma peça passiva e necessita de uma defesa eficaz e constante, pois a idéia principal é atacar o rei adversário e defender o próprio.
- Acho que estou entendendo...
- Bom... No final, há um reduzido número de peças. É o resultado do choque dos dois exércitos que provocou mútuas capturas. Nessa fase, o rei transforma-se em uma força ativa capaz de decidir o resultado da disputa.
- Deixa ver se eu entendi...
- Fale...
- A abertura é muito importante, pois ela define, de certa forma o jogo, não é?
- Sim.
- Hum... Na abertura eu devo: 1 - Procurar dominar o centro; 2 – Desenvolver as peças; 3 – Proteger o rei... É isso?

16h48min25seg – Entusiasmado com o rápido aprendizado de Geeda, Adriano deu um xeque mate, recolheu as peças, levantou-se, deu um forte abraço e disse:

 
- Estou orgulhoso de você.
- Por quê?... Eu perdi. – Geeda fez cara de choro.
- Bobinha... Você perdeu o jogo... Mas ganhou meu coração...
- Sendo assim... Está ótimo... – Geeda deu dois beijos de forma bem rápida. – Poderíamos comemorar, né?
- Comemorar o que? O seu primeiro xeque?
- Não... Quero comemorar a conquista do seu coração.

16h49min03seg – Adriano encarou Maria Geeda durante alguns segundos e disse:

- Tenho um motivo melhor para comemorar.
- Qual?
- O início do nosso namoro.


16h50min01seg – Em seu íntimo Geeda gargalhou e pensou: Isso otário... Não tem homem no mundo que resista a “Maria Geeda Petrúcia Leal”... Afinal sou a mulher dos sonhos de qualquer homem... Sou uma mulher pra casar... Por fora, Geeda chorava e dizia:

- Meu lindo... Estou tão feliz...
- Que tal comemorarmos num restaurante à luz de velas?
- Sério?
- Sério... Será o nosso primeiro encontro...
- Nós já não tivemos um primeiro encontro?
- Não... Tivemos nossa primeira partida de xadrez.



16h53min47seg – Geeda, enquanto andava de mãos dadas com Adriano disse:

- Então o nosso jogo do amor começa agora?
- Não.


16h53min55seg – Geeda parou, começou a chorar, e encarando Adriano perguntou:

- O que está faltando?
- Você me responder uma pergunta.
- Que pergunta Adriano?... Já basta de xadrez por hoje!
- Eu só quero saber uma coisa: Maria Geeda, quer ser minha namorada?

­16h58min30seg – Ao lado da estátua de Fausto Cardoso Geeda abraçou Adriano aos prantos e disse:

- É o que mais quero!

 


  
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O que será que Maria Geeda planeja fazer com Adriano? Por que ele é uma peça de extrema importância para a conclusão da segunda etapa do seu plano de vingança? Quem será o cidadão do Gurgel que deixou a bomba na Praça Olímpio Campos? Será  que o detetive Lucas Andrei o seu amigo Allan conseguiram sobreviver? Para saber estas e outras respostas, não perca os próximos capítulos da sua novela on-line “MENINA VENENO”!

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