quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Capítulo 100

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!

 

Capítulo 100 – Maldita Lei de Murphy...  Última Parte
Última quinzena da novela on-line “Menina Veneno”

"Todo erro contém um núcleo de verdade
e toda verdade pode ser somente um erro.” – Friedrich Rückert
 
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29 de Janeiro de 2009 – Quinta – Residência Dona Stéphanie...



10h31min05seg – Em meio às reflexões diante do dilema que estava vivenciando, Lucas Andrei foi dominado por um sono irresistível... Não era pra menos, afinal estava há mais de setenta e duas horas trabalhando integralmente na resolução daquele mistério.

10h31min11seg – O famoso detetive adormeceu.

16h20min23seg – Um sonho repetido...

Quando uma situação não é assimilada, ela retornará em outro sonho. Ou no mesmo. Em ambas as hipóteses, sempre haverá a mesma mensagem.

Costuma-se dizer que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Há muitas discussões a respeito, algumas acompanhadas de experimentos científicos.

Naquela semana conturbada, Lucas Andrei experimentou um fenômeno um tanto quanto comum: Sonhar o mesmo sonho. Normal... A improbabilidade estaria no fato de acontecer numa mesma semana. O que era compreensível, se levarmos em conta o nível de estresse que o detetive provou desde as 10h03min00seg do dia 26 de janeiro quando assumiu oficialmente a investigação do suposto suicídio no Edifício Maria Feliciana.

Andrei reviu partes de um sonho que teve há três dias: (Ver 13h55min00seg do capítulo 07)


No instante em que o detetive pula uma imensa corrente de ar, um pequeno ciclone, o sustenta fazendo-o descer de forma bastante lenta. Tanto que ele observa atentamente a face externa do prédio, andar por andar.

Ao fitar o décimo segundo andar, que era o ponto chave do seu raciocínio de como aconteceu o pulo do suposto suicida, fica totalmente cego diante de um imenso brilho que percorre todo aquele andar. Tal ofuscamento o faz perder o controle e aumentar a velocidade da queda.

À medida que ele cai, fica mais inquieto, e esta inquietação se deve muito mais ao fato dele ter perdido a visão minuciosa de cada andar.

Após alguns segundos, Andrei cai em cima de uma espécie de ferro velho, um amontoado de placas de ruas e avenidas que começam com a letra "SS": Avenida Sete de Setembro, Rua Siriri, Rua Simão Dias, Rua Silvio Silveira, Av. Simeão Sobral, Rua Socorro, Rua Stanley Silveira, etc.

Depois de girar para todos os lados tentando entender a lógica daqueles nomes e endereços, Lucas Andrei é acometido de uma forte dor. E ao tentar se levantar percebe que duas placas estão enfiadas nos seus dois pés... Ele grita!

16h45min39seg – Lucas Andrei despertou sentindo uma dolorosa pressão nos braços e nos calcanhares:

16h45min42seg – Olhou ao redor e viu que suas mãos estavam sendo seguradas por dois homens e os pés por um terceiro.

16h45min47seg – Ao voltar-se pra esquerda enxergou um homem alto, branco, de expressão séria e fria, que acariciando uma estranha criatura falou de forma macia e gentil... Que ainda assim, conseguia ser aterrorizante.

- Boa tarde detetive.
- Quem é você?!
- Desculpe-me pela falta de educação: Adriano Kelsen... Mas pode me chamar de “Patési”.
- Foi você que mandou a mensagem?
- Isso... Mas quando meus homens me informaram que você estava curtindo um soninho, confesso que me chateei... E isso normalmente não é bom... Não é pessoal?

16h46min01seg – Os três capangas que seguravam Andrei e os quatro que estavam um pouco atrás dando cobertura, falaram em uníssono.

- Sim... Não é bom contrariar o Chefe.
- Detetive... Como é que eu mando uma mensagem pra você... E você... O que faz? Tira um cochilinho? Não foi de bom tom... Tive a impressão de que não me levou a sério.

16h46min30seg – Àquela altura Lucas Andrei já havia reconhecido o espécime que aquele homem que se intitulava “Patési” carregava nas mãos, o que significava que mais uma vez, em menos de 24 horas, estava com a vida por um fio.

- Eu não planejei esse cochilo... O cansaço me dominou.

16h46min54seg – Adriano aproximou-se, ficou de joelhos, e pondo o animal que segurava a poucos centímetros do rosto de Andrei, advertiu:

- Detetive... Acho que não entendeu... Há muito em jogo. Algo mais importante do que a minha ou a sua vida... Algo secular.
- Epoche...  Sei disso!
- Então detetive?... O Senhor hei de concordar que tempo para um cochilinho é um luxo de que não dispomos... E só pra frisar a mensagem: “Vou lhe fazer uma oferta que não poderá recusar: Entregue o livro... E te deixarei vivo.”
- Epoche... Mas... Sinceramente... No momento, a minha vida é o que menos me preocupa.
- Está se referindo ao seu amigo Allan?
- Epoche! Foi você?|!
- Não... Não é meu estilo. Costumo agir diretamente no alvo e não em terceiros. Você vai perceber detetive, que sei de tudo... Tenho informantes espalhados em todos os lugares de Sergipe... Em todas as classes... Em todo ciclo do poder... E pelo que fui informado... Quem seqüestrou seu amigo, foi meu arquiinimigo.
- O “Senhor X”.
- Correto... Estou disposto a ajudá-lo a libertar o seu amigo... Se... Se... No fim, com sua ajuda, colocar as mãos no Livro.
- Terei alguma garantia?
- Sim... Minha palavra.

16h59min07seg – Andrei deu um quase que imperceptível sorriso, mas que foi suficiente para irritar Adriano que através de um sinal ordenou uma seqüência de agressões.

17h02min13seg – O detetive recebeu três tapas acompanhado de um soco na “boca” do estômago.

17h02min24seg – Adriano encarou “Dois” que estava ao seu lado e mandou:

- Faça.

17h02min26seg – “Dois” tirou do bolso uma ampola com uma seringa, aproximou-se de Andrei e injetou 0,1 mL do líquido que havia.

17h02min30seg – O “Patési” explicou.

- Para não se sentir tentado a querer me enganar ou fazer algum acordo com meu inimigo, você está recebendo 1/10 de veneno hemotóxico botrópico modificado geneticamente... Antes que a sua mente genial comece a fazer cogitações, porque esse veneno é especial... Vou responder: Você terá que receber um antídoto... Creio que sabe o porquê.
- Epoche... Uma vez absorvido os vasos sangüíneos perdem a capacidade de reter o sangue e a capacidade de coagulação, e o sistema imunológico é anulado. Ocorre hemorragia, a carne se enche de líquidos e é destruída por bactérias...
- Chegando ao “gran finale”: falência renal e morte.
- Epoche... E como isso vai me estimular a encontrar o que você quer e te ajudar? Se estarei morrendo aos poucos e sentindo dores insuportáveis?
- Aí é que vem a melhor parte: Como disse, esse veneno é modificado geneticamente. Se por um lado, um mL seria suficiente para causar o óbito de 18 homens adultos em 4 horas... Esse tem a mesma característica, mas com a mutação, 1/10 promove uma morte lenta, não dolorosa, que pode ser adiada ou nunca acontecer se você tomar antídotos a cada 24 horas.
- Vou ter que passar a vida toda tomando esses antídotos?
- Não. Existe o antídoto neutralizante dos efeitos por 24 horas que você pode passar a vida inteira tomando ao meu “bel prazer” e outro definitivo. Se você trabalhar direitinho... Te livrarei desse carma. Enquanto isso... A cada 24 horas entrarei em contato pra saber o que você descobriu e indicarei o local em que o antídoto será posto... Porém, lamento informar que minha paciência não é muito grande e só mandei preparar duas doses.
- Ou seja... Tenho 48 horas pra te entregar o que você quer?
- Que bom que entendeu, detetive.
- E o Senhor “Patési” acha que isso vai me estimular a procurar o livro?
- Sim... Afinal, não sou eu que tenho um veneno circulando em minhas veias.
- Epoche... E esse bichinho?

17h59min01seg – Adriano Kelsen sorriu e disse:

- Gila?
- Epoche... É um "Mostro de Gila", certo?
- Detetive... Esperava mais de você. É um Heloderma Suspectum.
- Pretende torturar alguém com esse bichinho?
- Por quê pergunta?
- Epoche... Brincar com esse “bichinho” seria bem pior do que o veneno que me deu... Em vez de picar e largar a vítima, esse “bichinho” continua agarrado a ela, mastigando a sua carne até que seja morta.
- Parabéns detetive! Exatamente isso.

18h00min19seg –  “Dois” e mais três capangas que estavam próximos ao “Patési” aplaudiram.

18h00min25seg – Pararam ao virem o sinal do “Chefe“.

- Como é bom lidar com pessoas inteligentes.
- Epoche... Por isso que você o trouxe... Sabia que eu conhecia o perigo e quis fazer essa tortura psicológica!
- Correto. Mas não se preocupe... Só uso em indivíduos que me causam muita ira... E o “Gil” está reservado pra uma mocinha que me enganou há alguns anos atrás... Entretanto, detetive, se por algum momento eu tiver a impressão de que você me enganou ou fez algum acordo com meu inimigo... Farei questão libertar seu amigo, e na sua frente, fazê-lo testemunhar “Gil” brincando com ele.
- Uma brincadeira que causará uma morte lenta.
- Sinceramente, detetive, não gostaria que isso acontecesse.
- Eu também não.

18h10min33seg – Adriano virou-se e em tom de despedida falou.
 


- Podem soltá-lo. Detetive... Acho que agora tenho o privilégio da sua atenção... E não ousará ignorar meus avisos com um cochilo... Meu desejo é, e sempre deve ser, a sua prioridade. Entendeu?
- Epoche.
- Às 2h30min entrarei em contato para que receba a primeira dose do antídoto. Estamos conversados?

18h10min41seg – Andrei sentou-se e massageado os pulsos para aliviar as dores causadas pela pressão que sofreu, balbuciou.

- Epoche... Estamos conversados.... Patési!

18h10min43seg – Adriano Kelsen entregou o lagarto para “Três” segurar.

18h10min45seg – Tirou a pistola de Lucas Andrei que guardava na cintura.

18h10min48seg – Deu o golpe e jogou-a sem nenhuma munição no colo do detetive.

18h10min55seg – Sorriu e perguntou:

 

- Alguma dúvida detetive?
- Epoche. Por que vai me ligar às duas e trinta? Tem relação com a “Perseídeas”?(Ver 21h38min51seg do capítulo 43)
- Ah!... Detetive... Tem sim. Se não fosse um homem ocupado até ficaria mais um pouco para que me explicasse como descobriu isso.... Parabéns! Estou impressionado... Muito, muito mesmo. E isso é raro, viu? É muito bom conversar com o Senhor Lucas Andrei... Adoraria conhecê-lo noutra circunstância... E mais que tudo, detestaria ter que matar uma pessoa tão inteligente.

18h10min12seg –   Adriano Kelsen e os irmãos “Sumerianos” foram embora.

18h15min49seg – Lucas Andrei terminou de vistoriar o compartimento da casa de Allan que faltava, e teve certeza que estava sozinho.





18h16min03seg – Tenso e com milhões de questionamentos na cabeça, o detetive olhou pro céu e implorou por ajuda divina.

18h20min51seg – Ficou observando as constelações de verão, como fazia durante a infância...

 

Era uma ótima terapia. Costumava fazê-lo esquecer dos problemas, aliviar o estresse, tranqüilizar os neurônios... E produzir oportunos insights.

- Definitivamente estou entre a cruz e a espada... A mercê de um destino que nunca pretendi pra mim... Quando algo tende a dar errado, com certeza dará errado. Maldita Lei de Murphy! Patési desgraçado!

18h20min57seg – Respirou fundo e pondo a mão na cabeça desabafou:

- O que está feito... Está feito. O que começou tem que ser terminado. Epoche... Não adianta nada lamentar. Epoche... E agora? Ainda tem esse veneno geneticamente modificado... Que porcaria! Ou poderia ser um blefe? Não... Não acho. Aquele tal de “Patési” é muito esperto... Engraçado... O rosto dele não me é estranho... É familiar... Mas não sei por que não consigo lembrar... Pense Andrei... Não parem! Trabalhem neurônios... Tem um veneno em nossas veias!

18h21min30seg – Deu um tapa na própria cabeça.

- Maldita Lei de Murphy!... Vamos aos fatos... Epoche. É o melhor a fazer.

18h21min35seg – Olhou para o céu estrelado e fixando o olhar entre a estrela de Hércules e Alphekka da Constelação da Coroa Boreal pensou em voz alta.

- Hércules... Você bem que podia me ajudar nessa tarefa!... Afinal, pra você, uma tarefa a mais ou a menos não faria diferença... – Sorriu - Perai... Sete estrelas reunidas formando a Coroa Boreal?... Epoche! Como não pensei nisso antes?!

18h21min44seg – Lucas Andrei sentou-se às pressas em frente ao computador e clicou na mesma pasta que há dois dias atrás tinha mostrado a Allan. Tratava-se de fotos das pistas que Basílio tinha deixado pra ele na Praça Fausto Cardoso. (Ver 18h00min13seg do capítulo 30)

- Epoche...

18h21min49seg – Pegou a primeira pintura e passeou os olhos procurando fixar-se nos mínimos detalhes.

- Árvore Sefirótica... Kether, Chokmah e Binah... Formando a “Coroa Sefirótica” e as três primeiras emanações do divino... A Santíssima Trindade... Epoche... E o número Sete simbolizando as “Sete Séfiras” que representa as forças do destino: Tudo que é e o que será... Sete mundos que regem o nosso destino... Epoche... Sete... Sete... Sete... O tempo todo na minha cara e não dei mais importância.

18h23min25seg – Clicou na foto dos Sete hexágonos e lembrou-se de uma conversa que teve com Allan:

 

18h25min01seg – Andrei repetiu para si mesmo a frase que tinha dito para o amigo perito. (ver 18h15min44seg do capítulo 30)

- Com esse “SS” o morto me disse: “detetive, existe realmente uma sociedade secreta... E a minha morte é a causa da luta do bem contra o mal... Há traição em jogo... Vingança... Há muito poder e dinheiro em jogo.”

18h26min09seg – O detetive releu as anotações que fez sobre a simbologia do número sete. (Ver 18h48min39seg do capítulo 31)


-  “Pitágoras, chamava o número sete de “cadeia do destino”. Afirmava que quem fosse virtuoso, alcançaria fortuna, veneração, teria poder sobre os outros e teria oportunidades brilhantes. O sete é um número muito especial pois marca o destino. Favorece as coincidências para que as coisas aconteçam.

De acordo com a numerologia, o número sete está ligado a três pontos muito importantes: O Mundo. O Destino. A força.

“... O Sete foi sempre, para todos os povos, muçulmanos, cristãos, judeus, Sumerianos, idólatras ou pagãos, um número sagrado, por ser a soma do número três (que é divino) com o número quatro (que simboliza o mundo material)...”

18h30min22seg – Mudou a foto pra frase: “O BRASIL ESPERA QUE CADA UM CUMPRA O SEU DEVER” e lembrou-se da conclusão que tivera na ocasião.

- Basílio espera que eu cumpra meu dever... Basílides... Epoche... Desde cedo me forneceu o nome e eu estava cego... Não foi à toa que foi batizado com esse nome... Os Basílides acreditavam na existência de sete cones emanados do Supremo... Sete mais uma vez... Sete cones que conduz a conhecimentos secretos.

18h31min15seg – Lucas Andrei levantou-se, foi à geladeira pegar água. No segundo gole teve mais um insight que mostrou o próximo passo que deveria dar.

- Peraí... A primeira pintura tem a Coroa Sefirótica formado pelas  três cruzes em círculos e retângulos inscritos num triângulo oculto... Ao meio, quase transparente, uma imagem da árvore sefirótica associada à “estrela de Davi” que me faz lembrar dos três “SS” Selo Salomão – Substância Suprema – Sacerdote Simão (Ver 18h23min49seg do capítulo 30)... Epoche... Tem alguma pista nesse lanchonete... É muita informação pra uma única imagem... Sete... Sete... Sete... Em várias pistas: Mundo. Destino e força... Epoche... Seja o que for... Está na lanchonete!

18h47min41seg – Andrei pegou o notebook, desligou, pôs numa pasta de couro. Em seguida pegou a pistola ponto 40 que Adriano tinha jogado no seu colo, entrou no Pajero TR4 que pegara emprestado e partiu rumo ao Mercado Central de Aracaju.

18h55min39seg – Durante o trajeto, vez por outra espiava a Constelação da Coroa Boreal que era composta por estrelas dispostas em um arco de círculo, sentido norte-sul. Numa das vezes em que lançou um olhar casual se deu conta de mais um fato relevante:

- Epoche! Como pude deixar passar batido? O “suicídio” aconteceu no dia 25. 2+5 = 7. Morte em nome de um conhecimento. Assim como os Basílides que acreditavam que sacrifícios com escoriações no corpo levavam ao conhecimento da verdade suprema... Por isso que ele fez a tatuagem dos “SS” no dorso da mão direita, no coração e nos dois pés. (Ver 10h30min00seg do capítulo 01) Basílio... Definitivamente, era um gênio... Epoche! Caramba... Justamente no dia em que a Coroa Boreal e a estrela Alphekka está mais brilhante. Por isso que ele pulou do alto do Maria Feliciana... Era como se estivesse num observatório... O observatório do "7". Do Mundo. Do Destino... Da Força... Epoche... 25... O dia de Alphekka... Justamente a Ninfa da mitologia grega que foi a grande paixão de um caçador que a chamava de rainha, tanto que confeccionou uma Coroa de louros... Epoche... Por isso que Basílio deixou a pista da Coroa de Louros da Praça Olímpio Campos... (Ver 18h07min13seg do capítulo 30)... Epoche... Coroa de Louros e o mito da proteção e mudança... Na ocasião só tinha conseguido associar ao roque do xadrez (Ver18h12min02seg do capítulo 30). Epoche... O caçador morreu pra proteger pessoas inocentes de um grande mal... Epoche... Mais uma vez aparece a figura de uma mulher misteriosa que deve ser a causa de tudo... Que Deus me ajude!

19h49min50seg – Lucas Andrei estacionou um pouco à frente da lanchonete da pintura e olhando em todas as direções indagou:

- Basílio... O que você deixou pra mim?

19h50min01seg – Antes de descer do veículo, o detetive resolveu dar mais uma olhada na primeira pintura das “Sete Séfiras” de Basílio... E, sem querer percebeu um detalhe que não tinha notado até aquele momento.

- Epoche... Basílio... A Coroa Sefirótica não é uma simples pintura... – Sorriu – É um mapa pra alguma pista.

19h50min01seg – Andrei pegou um lápis de marcar texto e circulou uns pontos luminosos que havia na obra de Basílio.

 

- Epoche... Maravilha... Basílio fez três marcas... Assim como no crucifixo de São Damião: A marca maior indicando Jesus em posição central. E logo abaixo duas outras marcas simbolizando as duas pessoas da Santíssima Trindade... Epoche... Três marcas... Marcas que sucedem de baixo pra cima... Epoche...  Só pode significar uma coisa... Como o alinhamento das três cruzes formam um triângulo cujo vértice forma uma seta de baixo pra cima... Seja o que for que Basílio deixou pra mim... Está no telhado da lanchonete.

20h03min24seg – O detetive conseguiu alcançar o telhado. No ponto central encontrou uma telha de coloração diferente (mais escura que as demais) na parte interna, colada à superfície côncava, achou um pedaço de papel envolto num plástico.

20h03min30seg – Afastou-se da borda, sentou-se com muito cuidado para não escorregar, e começou a ler em voz alta:

“Como é a biblioteca de Borges?”

- Epoche... Basílio não faria diferente... Uma charada. Muito bom.

20h14min16seg – Enquanto desceu, Andrei refletiu sobre a resposta daquela charada.

 

- “Como é a biblioteca de Borges?”... Epoche... Jorge Luis Borges, escritor argentino... Autor do famoso conto: “A Biblioteca de Babel” que teria a pretensão de reunir todos os livros existentes no universo... E o Livro da Infinitude... Um livro que reuniria todo conhecimento... E até, letra a letra, toda a história da vida de quem usufruisse da posse. Uma espécie de diário do passado, presente e o futuro... Será que Basílio deixou algum diário contando toda à sua história? Ou trata-se apenas do “Livro da Infinitude”... Epoche... Mais uma vez a idéia do livro... O lendário “Livro dos Sumerianos” também chamado por alguns historiadores de “Livro da Infinitude.”.... Como seria a biblioteca de Borges?... Epoche... Segundo Borges e estudiosos, essa biblioteca seria hexagonal... Epoche... E não foi à-toa que Basílio fez menção a essa charada.

 
20h19min43seg – Andrei sorriu e mirou a cúpula hexagonal que existia vizinho ao relógio do mercado... A mesma cúpula que Basílio pintou em seu segundo quadro das “Sete Séfiras”, a Hokmah – Sabedoria.

- Epoche... Vamos à cúpula... O que será que me aguarda lá em cima?

 

20h40min01seg – Tomando precauções para não ser visto, subiu até a cúpula e encontrou enfiado num dos vértices, que fora indicado pela pintura, mais um bilhete envolto num plástico. Era mais uma charada.

Trabalha tempo dobrado.
Sempre de noite e de dia
Se teima em ficar parado, só com uma corda andaria.


- Epoche!... Bela charada... E não poderia haver melhor resposta: Relógio... Só pode significar uma coisa: a quinta pintura de Basílio,  Gueburg (Juízo Divino) que foi representada pela figura do relógio do mercado central... Vamos em frente... Tomara que eu encontre algo palpável para salvar a minha e a vida de Allan... Deus é pai!

20h57min54seg – Depois de esgueirar-se sobre as bancas de artesanato com o máximo de cuidado pra não ser visto, pois apesar da prerrogativa de estar trabalhando numa investigação, agora com o aval do Dr. Uziel, seria trabalhoso perder tempo com explicações... Além do mais, em virtude dos últimos acontecimentos, não poderia confiar em ninguém.

21h00min33seg – Lucas Andrei tirou a lanterna do bolso e com dificuldade subiu as escadas que davam acesso ao interior do histórico relógio do Mercado Central.

21h08min07seg – Alcançou o topo e descansou apoiando as costas e olhando atentamente o mecanismo interno do relógio.

21h08min29seg – Com muito cuidado passou a luz ao redor e num relance enxergou um discreto buraco cavado na parede interna.

21h08min36seg – Pôs a lanterna na boca, e enfiou o braço para pegar um estranho objeto que havia no fundo.

21h09min12seg Puxou uma espécie de pasta de couro, que tinha na parte externa uma réplica da quarta pintura de Basílio: A Hesed, simbolizando a Séfira da graça (amor e misericórdia)... Era uma pasta dotada de uma fechadura com senha. Lucas Andrei deveria fazer a combinação de 08 números.

21h10min03seg – Certo de que tinha encontrado a pista que tanto procurou, Lucas Andrei desceu e ainda tomando cuidado pra não ser visto retornou ao veículo.

21h35min51seg – Assim que chegou no carro emprestado por Sócrates, o detetive certificou-se que as portas estavam trancadas e de que não havia ninguém por perto e começou a fazer combinações numéricas para tentar abrir a pasta.

21h49min24seg – Depois de fazer combinações com a representação e significado numérico do nome de Basílio e das suas alcunhas (Cérbero e Hipólito), com a data de nascimento dele e do irmão e não ter tido êxito. Lucas Andrei lembrou-se de que Basílio cometeu o suicídio na noite em que a estrela Alphekka mais brilhava... Mais uma vez pensou na figura enigmática de uma mulher maligna que estaria por traz de toda aquela conspiração, por isso girou os números na seqüência da data daquele evento: 25012009.



21h55min01seg – A pasta finalmente foi aberta, o que provocou um sentimento de euforia no detetive.

- Epoche! Encontrei o pote de ouro!

Um pote de ouro... Talvez não seja conveniente chamar um caderno de diário de “Pote de ouro”, lógico. Mas em se tratando daquele mistério, encontrar aquele objeto que era claramente o “Diário de Basílio” significava ter descoberto um inestimável tesouro... Um tesouro que explicaria finalmente se Basílio realmente tinha cometido suicídio. E se cometeu... O que aconteceu naquela noite... Se ele sabia ou detinha a posse do “Livro dos Sumerianos”... E principalmente, respostas de como ele iria se livrar do “Patési”, do “Senhor X”, salvar Allan e garantir a própria vida.

 

- Epoche! Graças a Deus... A investigação está no fim... Espero encontrar a resposta para todas as minhas perguntas.

22h03min04seg – Lucas Andrei guardou o livro, ligou o carro e saiu à procura de um lugar seguro para ler “O Diário de Basílio”.


 


Continua...



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