quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Capítulo 95

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!

 


Capítulo 95 – Segredo de Perseu...  Parte 03
Últimos capítulos da novela on-line “Menina Veneno”

"O mais valoroso dentre nós raras vezes tem o valor de afirmar tudo o que sabe.” – Nietzshe 
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31 de Março de 2008 – Segunda

Aracaju – Av. João Ribeiro... Antigo casarão dos Lemos... Porão.


 

17h06min51seg – Em meio ao nervosismo e euforia diante dos súbitos acontecimentos, o neto de Perseu deparou-se com a forte sensação de já ter ouvido aquela frase...




UM NECESSÁRIO FLASH-BACK...

23 de Janeiro de 1998 – Sexta - 21h59min03seg

Contando nove anos de idade, o jovem Basílio dormiu profundamente depois de esperar por horas a chegada de Guilherme que até então não tinha dado notícias... Era assim desde a morte dos pais: por medo e preocupação fazia um esforço para segurar o sono. Aquele dia, não se sabe o porquê, entrou em inexplicável estado de sonolência que só foi quebrado depois de um terrível barulho de espelho quebrando.
 
21h59min14seg – Pulou do sofá assustado e ficou em estado de choque ao ver que uma das poucas fotos que tinha ao lado do irmão apresentava rachadura no espelho... O tipo de estrago provocado por uma pedrada ou dilatação térmica... E não era nenhuma das duas possibilidades já que estava sozinho e ninguém poderia entrar e atirar uma pedra sem ser visto e tampouco estava fazendo calor capaz de promover aquela reação...

22h00min04seg – Basílio lembrou-se que Dona Stéphanie dizia que sempre que estivesse sozinho e sentisse medo, o melhor a fazer era rezar. Foi o que fez:

- Pai nosso que estás no céu...


22h02min35seg – Depois da oração conseguiu relaxar e voltou a cochilar.

22h11min07seg – O espírito obsessor de Maria Geeda que também tinha laços com Guilherme e Basílio em virtude de problemas não resolvidos em outra encarnação, transferiu ódio e toda espécie de energia negativa para a foto dos dois irmãos com tamanha intensidade, que foi capaz de fazê-la cair mesmo estando pregada na parede.

22h11min20seg – Basílio despertou e ao ver a foto que já havia sido estilhaçada no chão, apavorou-se e decidiu pedir socorro ao irmão.

22h11min35seg – Ligou para Guilherme que estava no meio de uma discussão com Maria Geeda. (ver 22h11min35seg do capítulo 02 ou 22h11min35seg do capítulo 21)
 

- Alô!
- Oi
- Gui?...
- Sou eu.

22h11min51seg – Maria Geeda que tinha o dom de sempre tirar algum proveito das circunstâncias para reverter qualquer evento ao seu favor, começou a encarar Guilherme como se ele estivesse fazendo algo errado, apesar dela saber claramente que ele apenas conversava com o irmão mais novo que morria de medo de ficar sozinho em casa desde a morte dos pais.

- Gui... Você vai demorar? Está acontecendo muitas coisas estranhas aqui em casa... Não estou conseguindo dormir.
- Não está conseguindo dormir?
- Não Gui... Tô assustado... Um vidro de uma foto nossa quebrou sozinho e o quadro acabou de cair da parede... Estou com muito medo. – Basílio iniciou um choro.
- Faz o seguinte: pegue a bíblia, leia o salmo 91 com muita fé até eu chegar ta?
- Tá... Tudo bem. Gui... Estou com medo... Você vai demorar?
- Não vou demorar... Prometo.

22h18min09seg – Desligou o telefone.

- Quem era Guilherme? – Perguntou Geeda
- Como quem era? – Irritou-se.

MINUTOS DEPOIS...

22h57min43seg – Guilherme entrou na sua residência e viu o irmão caçula dormindo com todas as luzes internas acesas e deitado sobre o sofá da sala.

22h57min45seg – Balançou...

- Acorde... Acorde... Cheguei.

22h57min48seg – Gui viu encostado na parede a foto que o irmão afirmou ter  caído há alguns minutos.

22h57min48seg – Fez uma nova tentativa:

- Acorde Basílio... Acorde!
- Gui...
- Sim... Você não devia ter me esperado nem dormir na sala.
- Estava com medo.
- Você já tem nove anos rapaz... Não pode mais ter medo de certas coisas.
- Diz isso porque não era você que estava sozinho aqui quando o vidro quebrou sozinho e a foto caiu.

22h59min59seg – Guilherme sorriu:
 
- Tudo bem... O que importa é que eu cheguei, não cheguei?
- Sim.
- Então você vai dormir... Não é hora de ainda está acordado.
- Gui... Me conta uma história?

23h01min03seg – Respirou fundo e de forma paciente e carinhosa perguntou:

- Que história você quer que eu conte?
- Conta alguma história de Vô Perseu!

23h01min03seg – Sorriu e falou:

- Só conto com uma condição.
- Qual?
- Assim que terminar vai dormir, certo?
- Certo.
- Então tome um banho, vá pro seu quarto que chego já... Tive uma noite difícil.
­- Não vai me enrolar não, né?
- Não Basílio... Trato é trato... Eu conto a história e você dorme, certo?
- Certo.

23h14mi25seg – Basílio sentou-se na cama. Guilherme puxou um banco que havia à cabeceira e disse:

- Vamos lá... Já te contei como nossos avôs se conheceram?
- Não.
- Bem... Eles se conheceram quando ambos tinham quase a metade da sua idade.
- Quatro anos e meio?
- Quatro anos... E isso não é um problema de matemática!... Descanse seu raciocínio matemático... Só ouça.
- Certo.
- Onde parei?
- Na metade da minha idade.
- Hum... Então... Nossos avôs tinham cerca de quatro anos. Segundo nosso pai, o velho Perseu foi flagrado por nossa avó, em cima de um pé de carambola se lambuzando com os frutos...
- Eu também gosto de carambola.
- Basílio... Por favor... Só ouça.
- Certo.
- Então... Quando nosso avô comia a quinta carambola foi surpreendido por uma garota espevitada que gritou: “O que você está fazendo no meu pé de carambola?... Ladrão! Ou chamar a minha mãe!”... O velho Perseu disse que ela era uma chata por fazer questão por bobagem... E se ela quisesse podia jogar algumas pra ela comer também... Nossa avó aceitou e eles viraram amigos... Mantiveram contato por anos... E dessa amizade nasceu um amor platônico, em segredo, que nunca fora revelado...
- Mas um dia ela soube... Do contrário nunca teriam casado.
- Basílio... Se você me interromper mais uma vez vou parar de contar a história.
- Desculpa... Prometo que não vou interromper mais.
- Então... Ah! Sim... Apesar de amá-la, guardou o que sentia por muitos anos... E com muita tristeza afastou-se para fazer uma longa viagem para estudar no Rio de Janeiro... Por ser aprovado na Academia Militar das Agulhas Negras. Lá conheceu e dividiu o quarto com aquele que seria seu cupido e futuro compadre: O Engenheiro militar Capitão Sebastião José Basílio Pirro. Ele o encorajou a declarar o amor que sentia através de cartas.
- Já ouvi falar desse nome.
- Tenho certeza que sim.
- Então... No dia da formatura de Vô Perseu e Sebastião, nossa avó viajou. Na festa, o Pirro, falou em tom de brincadeira para vó Anilina: “Sabia que ele te ama?”
- E vó?
- Ela sorriu e perguntou: “Sério?”... Sebastião prosseguiu: Várias e várias vezes Perseu me atormentou dizendo: “Sebastião meu amigo... Anilina além de linda reune tudo que mais amo: A lógica e a matemática... Se eu pudesse construiria um mundo perfeito pra viver com ela... Não!... exagero... Mundo é muito grande... Uma cidade perfeita como o xadrez. -(Sebastião absorveu o devaneio do amigo e o usou no mais famoso projeto da sua vida) - Como se não bastasse, Anilina ainda tem um nome palíndromo, pois tem o mesmo significado se lido ao contrário... Ela é perfeita... Perfeita como um jogo de xadrez...”
- Verdade...
- Anilina sorriu e disse que por coincidência também amava nosso avô há anos... E que guardava com carinho todas as cartas que recebeu e que havia decorado muitos dos poemas que ele tinha feito pra ela... E o que mais adorava era a dedicatória que sempre finalizava as cartas: À DOCE ANILINA, SAUDADES... ETERNO AMOR! Segundo nossa avó foi essa frase que conquistou o coração dela.
- E aí?
- O amigo Sebastião falou orgulhoso: Agradeça a mim, pois do contrário Perseu não teria coragem de escrever as cartas de amor. – Todos sorriram. – Anos mais tarde Anilina e Perseu se casaram e Sebastião foi padrinho do casório... Eles sempre mantinham contato... Eram confidentes... Soube que uns três meses antes de morrer, o velho Perseu visitou o amigo e famoso engenheiro.
- Caramba... Que legal!
- O melhor vem agora: Sabe quem era esse Sebastião?
- O nome não me é estranho.
- Esse Sebastião é o mesmo Engenheiro militar Sebastião José Basílio Pirro que planejou a cidade de Aracaju... A cidade xadrez do delírio apaixonado de vô Perseu. (ver 3h54min do capítulo 20)... Inclusive em agradecimento à inspiração, Sebastião costumava ceder a casa que possuía na Barra dos Coqueiros para que nossos avôs passassem as férias... Dois anos depois da morte dos nossos avôs, nasceu Antônio Sebastião Basílio Pirro, o filho, que se tornou um famoso General que entre tantos feitos inventou um aparelho de tiro ao alvo, que foi adotado pelo exército com o nome de “Mesa de Pontaria de Pirro”... Papai disse que o General o presenteou com um exemplar em nome dos laços de amizade que nos uniam.
- Hum... Foi por isso que papai o homenageou quando escolheu meu nome?
- Exatamente... Sim... Em retribuição a tal mesa.
- Tem até uma foto de Perseu, Sebastião e Anilina juntos.
- Posso ver?
- Eu também gostaria de ver... Mas nunca vi. Nem eu nem papai. Só sei que existiu porque papai ouviu o Velho Perseu falar sobre ela... Se você tentar dormir... Ao acordar podemos procurar combinado?
- Poxa... Queria ver agora!
- Não. Só amanhã. Trato é trato.
- Certo.

Dez anos depois, sob a parte interna de um relógio de pêndulo, no antigo casarão dos Lemos... Basílio encontrou a foto que povoara sua mente por anos e anos.

FIM DO FLASH-BACK...

 
31 de Março de 2008 – Segunda

Aracaju – Antigo casarão dos Lemos... Porão.

 


17h06min51seg – Em meio ao nervosismo e euforia diante dos súbitos acontecimentos, o neto de Perseu deparou-se com a forte sensação de já ter ouvido aquela frase...

17h07min23seg – Basílio virou a foto e leu no verso algo que o deixou ainda mais intrigado:




Continua...


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Capítulo 94

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!

 


Capítulo 94 – Segredo de Perseu...  Parte 02
Últimos capítulos da novela on-line “Menina Veneno”

"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim
.” – Chico Xavier
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31 de Março de 2008 – Segunda

Aracaju - Residência Dona Stéphanie... Quarto de Guilherme.



15h27min44seg – Basílio encontrou no mesmo guarda roupa em que achou o livro de xadrez, um antiqüíssimo tabuleiro. Imóvel, pregada ou cravada sob a caixa que o guardava estava a carta escrita de próprio punho pelo saudoso Perseu Daciano de Aires Lemos (ver 19h27min45seg do capítulo 68):

15h27min52seg – Não se conteve e chorou, pois tinha certeza que ao descobrir a missão designada pelo velho Perseu assumia a responsabilidade da sua família em guardar tão valioso segredo.

 Pela primeira vez sentiu que era parte de algo maior. Finalmente tudo fazia sentido. E pra realizar o desejo do avô estava disposto a fazer tudo o que fosse preciso, mesmo que custasse a própria vida.

15h49min01seg – A mente do neto de Perseu pediu descanso...

Cerca de 86 bilhões de neurônios daquele cérebro privilegiado reduziram a condução de impulsos nervosos gerando a conhecida “cefaléia do esforço”...

Entretanto, se por um lado o cérebro de Basílio pedia repouso... O coração jovial e com fome de aventura, apreensivo diante da “caça a um tesouro inestimável” que se iniciava, e no qual tinha a honra de ser protagonista... Queria decifrar o próximo código. Ele sabia que não sossegaria antes de descobrir qual seria o passo seguinte.

16h00min25seg – Basílio saiu do quarto segurando o velho tabuleiro, o desenho enigmático e a carta reveladora do avô.

16h00min59seg – Entrou na cozinha, pegou uma aspirina e bebeu um pouco d água.

16h01min43seg – Sentou à mesa, mordeu uma maçã que viu num cesto de frutas ao alcance da mão, e falou consigo mesmo:

“Vamos lá... Funciona cabecinha...”

16h02min00seg – Reviu a interpretação do desenho, zero, nove e a letra “F”:



“Sou detentor de um conhecimento muito valioso e o protegi, bloqueando o acesso com toda a minha percepção.”

“O início de um caminho sem volta, sua vida será somada a um elemento que resultará nele mesmo... Uma sabedoria milenar, a alma do universo... Destinado apenas ao homem de boa natureza.”

Enfrentarás má sorte... A intervenção de diversas criaturas da noite que o levará a morte. Mas assim como a Fênix renasce das cinzas, no fim desfrutará de aberturas espirituais que ampliarão sua comunicação e coroará todos os seus esforços com a recompensa de uma busca proveitosa.





16h17min51seg – Num gesto inquieto e repetitivo passou a mão na testa, esfregou os olhos, puxou os cabelos e tornou a olhar para o enigmático código do velho Perseu...

16h18min30seg – Depois de ficarem alguns segundos mudo e estático, balbuciou:

- Vejamos... Vejamos... O próximo símbolo é o número 11. Que dizer do onze? Se está inscrito no cadeado não é por acaso... O velho Perseu jamais faria isso. Vejamos... Pense Basílio... Onze... Número natural... Quinto número primo e o quarto número da seqüência de Sophie Germain... Peraí... Será meu Deus?

16h19min30seg – Muito excitado com o insight que acara de ter, Basílio correu até o quarto de Guilherme e mais uma vez vistoriou o guarda roupa...

- Tenho certeza que vi... Deve estar por aqui...

16h24min08seg – Desanimado, Basílio sentou-se no chão e olhou o guarda-roupa vazio.

16h25min08seg – Ao observar a lateral esquerda do móvel, teve a impressão de ter encontrado uma inscrição à lápis.

16h25min41seg – Escancarou a porta para aumentar a claridade e teve uma maravilhosa surpresa:




16h26min11seg – Feliz, gargalhou e pensando em voz alta falou:

- Como eu gostaria de ter convivido com o velho Perseu... Nos daríamos muito bem... Maravilha... Estava claro e não vi: O onze é a primeira capícua.

16h26min30seg – Mais uma vez dirigiu-se à estante e pegou a enciclopédia Barsa e leu:


- Capícua: Conjunto de números que lido da direita pra esquerda ou da esquerda pra direita é idêntico... O mesmo pode ser dito em relação às datas e as horas.

16h28min54seg – Impressionado com a perspicácia e ao mesmo tempo eufórico, Basílio lembrou-se que na antiga casa dos pais havia um velho relógio de pêndulo, e depois de pensar concluiu:

- Hum... Vejamos... 20:02 e 11:11 são exemplos de capícua ou palíndromo... Será que o velho Perseu aprontou o que estou pensando?

16h33min00seg – Recolheu os objetos que encontrou, pegou um bornal vazio do irmão, guardou tudo e partiu para o velho casarão dos seus ancestrais...
 


16h50min18seg – Basílio que tinha pegado um táxi desembarcou na Avenida João Ribeiro próximo à Rua Muribeca, no bairro Santo Anônio, e sentiu um nó na garganta ao avistar a academia que Guilherme administrou por anos: “Olimpo Sergipano”... (ver 21h45min do capítulo 02)

Ciente de que o tempo era curto e não havia como “matar a saudade”, dirigiu-se a um antigo casarão que pertencera à família Lemos por décadas.

16h55min01seg – Deu um grito...

- Ô de casa...

16h55min07seg – Silêncio...

- Ô de casa...

16h55min32seg – Não obteve resposta...


Certo de que o casarão estava abandonado, deu uma volta discreta até o fundo, e ao perceber que num breve instante a rua ficou vazia, agachou-se, tirou a camisa, enrolou no punho e deu um soco na madeira podre que impedia a entrada no porão.

16h58min19seg – Assim que entrou tirou do bornal uma pequena lanterna e deu um giro de 360º...
 

16h59min43seg – O neto de Perseu encontrou, guardado num cantinho amontoado de entulhos o xodó do avô: “um legítimo Huygens!”... Lembrou-se de ter ouvido o pai falar gabando-se inúmeras vezes sempre que se referia àquele belo exemplar de relógio de parede de pêndulo.

17h02min36seg – Decepcionado por encontrar aquele valioso objeto naquele estado, aproximou-se, e girou o ponteiro para um horário palíndromo: 11:11... E frustou-se ao não ter se deparado com nenhuma novidade.


17h04min21seg – Receoso de ter cometido um erro e fracassar não missão que lhe fora confiada, fez uma nova tentativa movendo os ponteiro das horas e minutos marcando 20:02...

17h04min35seg – Um pedaço da parte interna do relógio cedeu...

17h05min00seg – Basílio encontrou um relógio de bolso dourado junto com uma foto desbotada dos seus avós... Logo abaixo viu uma legenda em manuscrito:




17h06min41seg – O neto de Perseu respirou aliviado e verbalizou:


- Graça a Deus... Uma luz no fim do túnel!


Continua...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Capítulo 93

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!

 




Capítulo 93 – Caminho sem volta...  Parte 04
Últimos capítulos da novela on-line “Menina Veneno”

"Talvez seja a própria simplicidade do assunto que nos conduz ao erro.” – Edgar Allan Poe 
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29 de Janeiro de 2009 – Quinta – Residência Dona Stéphanie...



07h59min15seg – Lucas Andrei estacionou um veículo Pajero TR4 de cor preta em frente a casa de número 555, situada na Rua Sergipe do Bairro Siqueira Campos...

 

07h59min40seg – Ao olhar pra janela lembrou-se do susto que levou da última vez que a observou. (ver 21h50min17seg do capítulo 75)
 
- Será que foi uma alucinação? Será que realmente vi alguém espionando na janela? Epoche que não... O Guilherme tem E.L.A... Preciso resolver logo este caso... Se não vou enlouquecer.

08h13min02seg – Dona Stéphanie, seguindo uma rotina diária, surgiu próximo ao portão aguando algumas folhas de Dieffenbachia seguine  conhecida popularmente pelo nome de “Comigo ninguém pode” e  outras poucas de Ruta graveolens também chamada  “Arruda”.



08h13min52seg – Ao constatar que madrinha de Basílio já havia acordado, o detetive decidiu abordá-la.


08h14min10seg – Com receoso de assustá-la, Andrei desceu do carro e caminhou devagar até o portão.
 
- Bom dia... Lembra de mim?

08h14min17seg – D. Stéphanie colocou o regador no chão e em seguida, pondo as mãos em pala para proteger os olhos dos raios solares que vinham em sua direção, perguntou:

- Quem é?
- Lucas Andrei... Estive aqui ontem. (ver 18h40min29seg do capítulo 74)
- O moço que esteve aqui perguntando sobre Basílio?
- Epoche! Vejo que a Senhora tem boa memória.
- Meu filho... Estou velha na carne... Não na mente.
- Em minha opinião nem na carne.
- Gentileza sua. Dona Stéphanie sorriu – Em que posso ajudar?

08h15min33seg – Abriu o portão...

08h15min38seg – Lucas Andrei entrou e falou...

- Desculpa chegar tão cedo... Não é do meu feitio fazer visitas inesperadas... Mas não podia esperar.
- Tudo bem, meu filho... De certa forma, já estou me acostumando.

Dona Stéphanie analisou a postura do detetive, o jeito educado, o olhar perspicaz, do tipo que não deixava escapar nenhum fato relevante, a forma distinta e educada de falar... Sobretudo, a energia boa, positiva, de uma áurea bem clara... Que evidenciava aos seus olhos de médium que se encontrava diante de uma boa pessoa... Uma pessoa decente. Alguém que fazia bem ter por perto... Justamente o oposto de uma estranha lembrança sensitiva: A ocasião no qual, assim como naquele dia, também recebera uma visita surpresa...


BREVE FLASH-BACK... 12 de Novembro de 1998 – Quinta feira


19h45min20seg – Dona Stéphanie levou um susto. Pela primeira vez sentiu a energia negativa que vinha daquela moça. E num determinado instante pôde enxergar o espírito obsessor daquela diabólica baixinha de sardas... Um espírito maléfico que anos mais tarde ela descobriria que se autodenominava “Edu.”... (ver capítulo 79)

19h45min25seg – Sentindo calafrios gaguejou:

- Geeda... Vo-vo-você por aqui?

19h45min28seg – Maria Geeda Petrúcia Leal transparecendo uma enigmática alegria, encarou Basílio e comentou:

 - Que rapazinho lindo... É o irmão de Gui?
- Sim.
- É a cópia.

19h45min49seg – Sentindo mal estar diante da figura de um espírito sombrio que se mantinha o tempo inteiro ao lado de Geeda, Dona Stéphanie abriu a porta e falou:

- Não quer entrar minha filha?... Está muito escuro aí fora... Entre.
- Prometo que não vou demorar.
- Sente-se... Quer um copo d’ água?
- Claro.

19h46min03seg – Dona Stéphanie olhou para Basílio e pediu:

- Meu filho... Faça sala pra nossa visita enquanto vou buscar um copo d’ água.



19h46min30seg – Ao invés de ir pra cozinha, a simpática senhora dirigiu-se para um agradável espaço de orações que mantinha em seu quarto...

 Uma pequena mesa com incenso, vela, uma Bíblia, alguns livros espíritas, entre estes “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

19h46min70seg – Ajoelhou-se, juntou as mãos, e com a intenção de renovar as energias e fortalecer-se diante de Maria Geeda que estava muito carregada negativamente, começou a orar.

- Deus Todo-Poderoso, permita que os Bons Espíritos livrem Maria Geeda do Espírito malfazejo que se ligou a ela. Se é uma vingança que ele pretende exercer motivado por questões além da nossa compreensão turvada pela veste terrena, em conseqüência dos males que ela tenha feito noutra vida... Deus, infinitamente bom... É certo que ela atraiu por sua própria culpa, mas fazei que ela se redima de qualquer pecado e possa merecer o perdão do irmão que agora vive nas sombras... Que esse perdão seja a liberdade para ambos... Dai-lhe a luz necessária para se afastar do mal, e se depurar à prática do bem, da caridade e da humildade, a fim de que possa opor-se hoje, amanhã e sempre ao ataque de más influências... Que assim seja.

19h49min23seg – Na sala, Geeda improvisou uma conversa com Basílio.

- Como Gui está?
- Você o conhece?
- Sim... Gosto muito dele... Na verdade o amo.
- Engraçado... Nunca te vi.
- Verdade... Mas gosto de acreditar que tudo acontece no tempo certo.
- Madrinha pensa assim também... Ela sempre diz isso.
- E Gui? Como está?
- Madrinha disse que ele está muito doente... Uma doença que não vai deixá-lo falar, nem se mover... E que vai precisar de muita ajuda.
- Que pena...
- Tudo bem... Madrinha disse que depois de arrumar o quarto ele voltará pra casa...  Tenho fé de que os anjos vão curar ele...
- Fé em Deus...
- Vai sim... Madrinha disse que se a gente pedir qualquer coisa com muita vontade, papai do céu nos atende.

19h50min42seg – Dona Stéphanie retornou à sala segurando uma bandeja que continha um copo d água, mas um suco de laranja e uma fatia de bolo de leite.

- Desculpe a demora, minha filha... Mas não podia deixar de lhe oferecer alguma coisa.
- Não precisava Dona Stéphanie.

19h50min54seg – Apesar de muito jovem, Basílio era suficientemente esperto pra entender que as duas queriam conversar com privacidade, por isso se despediu.

- Madrinha... Vou terminar o jogo, tudo bem?
- Que jogo? – Perguntou Geeda.
- Xadrez. – Disse Basílio afastando-se.
- Ele ama esse jogo... Tem uma obsessão. – Falou Dona Stéphanie dando um sorriso maternal.

19h51min30seg – Geeda pegou um pedaço e ao dar uma terceira mordida, tomou um gole do suco e falou expressando tristeza:
  

- Vou sentir muita saudade...
- Saudade? Como assim minha filha?
- Dona Stéphanie... Sei que não deve ser agradável pra senhora receber minha visita depois de tudo que aconteceu... Pra mim também é... Primeiro a morte de Hélio (ver 4h05min15seg do capítulo 12), depois o acidente de Gui (ver 0h32min12seg do capítulo 17)... E as acusações no hospital (5h35min13seg do capítulo 26)...
- Não se puna minha filha.



19h52min01seg – Fazendo um grande esforço pra não transparecer o ódio que sentia ao ser chamada de “minha filha”, Maria Geeda respirou fundo e falou aos prantos:

- Dona Stéphanie... Lembra do que falei no velório de Hélio? (ver 23h15min do capítulo 12) A Senhora... Pra mim... Não é apenas minha ex-sogra... Independente de tudo que aconteceu... Sempre a terei como minha segunda mãe... Como uma grande amiga.

19h53min22seg – Geeda deu abraço e continuou...

- Dona Stéphanie... Vou fazer uma longa viagem e devo ficar fora por muito tempo.
- Pra onde vai minha filha?
- Brasília... Primeiro vou a um Congresso de Literatura Brasileira... E devo continuar por lá prestando serviços para um importante Sindicato... Devo ficar muito tempo... O bom é que vou concluir meus estudos pela Universidade de Brasília.
- Que bom minha filha.

19h53min22seg – Dona Stéphanie beijou a testa de Maria Geeda, olhou-a fixamente e disse em tom conselheiro.
 
- Minha filha... Posso te dar um conselho?
- Claro Dona Stéphanie... É uma honra.
- Minha filha... Sei que você é de família católica e não acredita muito em espíritos... Mas... Mesmo assim, gostaria de te dar um conselho nesse sentido.
- Pode falar.
- Geeda... Quando estávamos na porta... Assim que chegou... Pude ver um espírito te acompanhando... Do tipo obsessor... Também senti uma carga negativa em sua volta.
- Mas como Dona Stéphanie? Eu sou uma pessoa temente a Deus, nunca fiz mal a ninguém... A Senhora me conhece.



19h58min03seg – Emocionada, a madrinha de Guilherme e Basílio, prosseguiu.


- Minha filha... Sei que é uma boa menina... Mas você pode ter feito algum mal noutra encarnação... E há espíritos que são vingativos e nunca esquecem.

19h59min51seg – Geeda respirou fundo, por mais que ela fosse fingida e dissimulada, não estava suportando aquela conversa, por isso concluiu que era hora de partir e levantou-se simulando pressa.

- Poxa... É tão bom conversar com a Senhora... Por mim ficaria a noite inteira... Mas é chegada minha hora e preciso ir.
- Tudo bem minha filha... – Deu um abraço – Pense com carinho no que te falei... Mesmo que não tenha acreditado... Reze de vez em quando, crendo ou não, te fará bem.

20h01min44seg – Geeda verteu uma lágrima e depois de dar um beijo de despedida e lançado um olhar penetrante no jovem Basílio, foi embora... Na direção do Corolla preto estacionado na esquina, no qual “Dois” a esperava sob ordens de Adriano Kelsen para conduzi-la ao aeroporto.

20h03min09seg – Maria Geeda Petrúcia Leal deu uma última olhada para a casa da sua primeira vítima em seu plano e pensou: “Vingança... Ainda que tardia... Será o meu consolo.”

20h03min13seg – Ao lado de Geeda, uma criatura alta, de rosto fino... Que por décadas acompanha aquele jovem baixinha de sardas como seu espírito obsessor, que se autodenominava Edu, estreitando dia-a-dia a ligação e envolvendo-a numa nuvem de energias negativas, vibrou pelo sentimento de vingança ter se sobreposto à interferência de Dona Stéphanie. Mais um vez, desfrutou de uma alegria mórbida.

20h03min21seg – Por precaução, Elda que era mentora espiritual de Hélio, não se materializou, apenas emitiu pensamentos para Edu... Afinal ele estava mais forte do que a primeira vez em que se encontraram. (ver 0h43min03seg do capítulo 18)


  
“Irmão... Esqueça tudo o que lhe aconteceu... Nem Hélio, nem Guilherme ou Geeda lembram... Não alimente o ódio... O maior prejudicado é você mesmo. Essa vida não lhe diz mais respeito... Esqueça... Pro seu próprio bem...”
- Não... Vou até o fim!

“Irmão, um dia você entenderá... Em nome de Deus Todo-Poderoso... Da Lei do amor... Esqueça!”

- Não! Não! Não!





20h06min35seg – Sentindo-se fraco diante da irradiação dos pensamentos bondosos de Elda, Edu foi embora.


20h08min11seg – Dona Stéphanie fechou a porta, entrou e sentou-se ao lado de Basílio.
 

- Ela já foi?
- Já... Por quê?
- Não gostei dela.
- Por quê?
- Não sei... Me olhou de uma forma estranha, como se quisesse fazer algum mal... Sei lá... Uma sensação ruim.



FIM DO FLASH-BACK


29 de Janeiro de 2009 – Quinta...

08h40min05seg – Dona Stéphanie despertou do transe...

08h40min07seg – Ao perceber a distração da mãe de Hélio, Lucas Andrei argüiu:





- A Senhora está bem?
- Sim... Mas o que você disse mesmo? – sorriu – Sabe como é... Com a minha idade, me distraio facilmente.
- Epoche... – Sorriu – Não é privilégio da senhora não. Comigo acontece a mesma coisa.







08h41min24seg – Ambos deram uma gostosa gargalhada.


- Dona Stéphanie... Como ia dizendo, não é do meu feitio fazer visitas inesperadas... Mas não podia esperar.
- Em que posso ajudar meu filho?
- A Senhora já ouviu falar de “Árvore Sefirótica”?




Continua...