quarta-feira, 1 de junho de 2011

Capítulo 41

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!
 
Capítulo 41 – VIDEO ET TACEO... Parte Final
"Um pensamento sutil ainda que errado, pode gerar indagações proveitosas
 que possam estabelecer verdades de grande valor." – Isaac Azimov
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27 de Janeiro de 2009 – Terça

19h10min04seg – Apesar dos seus trinta e poucos anos, Allan nunca viveu sucessivas emoções em tão pouco tempo. Por isso, muito eufórico fez uma pergunta atrás da outra:

- Que história é essa de quinze dias Andrei? Vai dar tempo? Como você pode ter alguma certeza? Baseado em que?

19h10min06seg – Desde o instante em que Allan pegou a chave da viatura descaracterizada com Sócrates, o detetive Lucas Andrei acompanhou toda a negociação com o Dr. Uziel, encostado no poste vizinho aos dois orelhões conjugados e apoiando a perna direita na barra de ferro que sustentava a placa que carregava o nome da praça.

 

19h10min29seg – Andrei desencostou-se e com a mão esquerda sinalizou para Allan segui-lo.

19h10min44seg – Ao passar pelo fundo do “Expresso Abelha” Allan refez uma pergunta:

- Andrei... Que história é essa de quinze dias?
- Allan... Acredite... Esse, por enquanto, é o menor dos nossos problemas.

 

19h12min18seg - Andrei seguiu andando a passos largos em sentido diagonal, por dentro da praça, para a Rua Pacatuba com Travessa José do Faro.

19h13min22seg – Ainda mais curioso Allan indagou:

- Por que você diz isso?
- “...A tua vara se converterá em cobra...” Êxodo, capítulo 7, versículo 9.
- O que?! Como assim?
- Não entendeu?
- Claro que não!

19h18min57seg – Os dois amigos estavam no meio do corredor de árvores que ficava ao fundo da galeria Álvaro Santos, quando Andrei falou:

- No caminho eu te explico.
- Tem a ver com aquela escultura de cobra Naja em madeira? Por que escolheram a cobra mais venenosa do mundo?
- Correção! Amigo Allan... Ao contrário do que muitos pensam, a cobra mais venenosa do mundo não é a Naja, mas sim a Oxyuranus microlepidotus que é uma serpente australiana.
- Então aquela escultura não tem nenhum significado? A escolha da cobra Naja foi aleatória? O que ela tem de especial?
 
 
19h23min01seg – Allan abriu a porta de um veículo Astra de cor prata que estava atravessado entre a Rua Pacatuba e a Travessa José do Faro.

19h23min09seg – Allan abriu a porta do passageiro e Lucas Andrei entrou.

19h23min11seg – Allan ligou o carro e perguntou:

- Pra onde vamos?
- Está com fome? – Rebateu Lucas Andrei.
- Sim... Quer dizer... Estou morrendo de curiosidade e fome ao mesmo tempo.
-  Vamos para um restaurante de um amigo meu aqui perto. No caminho, e enquanto jantarmos, te explico.
- Aonde é?
- Pegue a Rua Itaporanga e siga em frente. Quando chegar na Avenida Pedro Calazans entre à direita.

 

19h25min30seg – O carro se movimentou e o detetive Lucas Andrei se pôs a explicar:

- Na realidade... Aquela cobra Naja esculpida em madeira, só reforçou o aviso do “Vídeo Et Taceo”.
- Mas como?
- Aquela escultura escondida... Tem pelo menos quatro significados.
- Quais?
- Vamos por partes... Madeira te lembra o que?
- Árvore.
- Árvore mais serpente lembra o quê?
- A história de Adão e Eva.
- E daí?
- Hum... Estou começando a entender... “Vídeo Et taceo” é igual a “Vejo mais nada digo” que é igual a uma “Lei de silêncio”...
- Epoche! Noutras palavras estamos indo de encontro ao um “Conhecimento proibido”...
- E isso terá um preço?
- Epoche!
- A expulsão de um paraíso.
- Epoche!

19h38min11seg – Ao perceber que o amigo, por estar concentrado nas explicações, iria cruzar a Avenida Pedro Calazans, o detetive Lucas Andrei sinalizou para Allan virar imediatamente à direita. E continuou conversando:

- Assim como no Gênesis, sofreremos a tentação do conhecimento... Do fruto proibido... E hoje fomos avisados para não irmos adiante.
- Mas você falou que há outros significados.
- Epoche que há!
- Qual?
- Eu já te falei... Não lembra?
- Quando?
- Assim que saímos do Hospital João Alves Filho... Quando você sofreu o atentado.
- Não lembro.
- Eu tinha falado sobre uma coisa que também relacionava madeira com serpente... Melhor... Pra clarear sua mente: Relacionava bastão com serpente.
- Ah! É aquela história do “Caduceu”? (ver capítulo 16 - 1h01min16seg)
- Epoche!
- Lembro... Você tinha dito que o “Caduceu” se tratava de uma simbologia equivocada de “Hermes de Trimegistos”, deus da palavra e do conhecimento. Equivocada porque o primeiro “Caduceu”, surgiu como referência ao “Hermes” Grego, que era um mensageiro dos Deuses do Olimpo. E que uma das atribuições do “Hermes” grego era a de conduzir os mortos para a paz eterna.
- Epoche... Eu também tinha dito que o morto estava nos avisando que só ficará em paz se aceitarmos a viagem de “conhecimento” e “palavra” que ele nos propôs... Que de acordo com a idéia original do bastão do caduceu... De posse desta verdade estaremos imunes. Pois há muita mentira considerada verdade que precisa ser desmascarada... Uma mentira como a consideração do “caduceu” como símbolo da medicina... E há muito dinheiro em jogo, pois Hermes também é associado ao comércio... E como já disse, ao lucro.
- Lembro que você tinha dito: “Há uma falsa verdade no ar...” Que esse crime certamente foi cometido por uma pessoa “manipuladora”, que finge ser o que não é... Que transita em dois mundos.
- Epoche!... Uma pessoa que transita no mundo das virtudes e dos crimes... Do bem e do mal.

19h50min01seg – Ao se aproximar da esquina da Avenida Pedro Calazans com Rua Laranjeiras, o detetive Lucas Andrei falou:

- Chegamos... Estacione aí... Na frente deste restaurante.

Trajetória percorrida por Lucas Andrei 

19h50min07seg – Sem sair do veículo, por estar cheio de curiosidade, Allan argumentou:

- Você tinha dito que havia pelo menos quatro significados relacionados com aquela Naja... Não foi?
- Epoche!
- Vejamos... 1 – Tentação e expulsão do paraíso por causa de um conhecimento proibido” 2 – A história do Caduceu... Quais os outros?
- Eu já disse: - “...A tua vara se converterá em cobra...” Êxodo, capítulo 7, versículo 9.
- Sim... E daí? – Perguntou Allan.
- Isso não te lembra nada não?
- Não...
- Meu amigo... Você nunca leu a bíblia não?
- Explica logo rapaz!
- Vamos lá. Em “Êxodo, capítulo 7, versículo 8 ao 12 é narrado o episódio em que Moisés tentou convencer o Faraó a permitir que “Israel deixasse de servi-lo e partisse rumo à Terra Prometida... Nesse episódio bíblico, Arão, que era irmão de Moisés, lançou seu bastão no chão e ele virou uma serpente. Os mágicos do Faraó fizeram o mesmo. Seus bastões viraram serpentes, mas a serpente de Arão engoliu as deles.
- Entendi! A escolha da cobra Naja na escultura foi por causa disso...
- Por quê Allan?
- Já ouvi dizer que a cobra Naja devora outras cobras.
- Epoche que não! Quem lhe disse isso falou uma bobagem! A cobra que devora outras cobras é a muçurana... Mas isso não vem ao caso. O que importa é o sentido filosófico disso.
- Como assim?
- "Homo homini lupus", o homem é o lobo do homem; "Bellum omnium contra omnes", é a guerra de todos contra todos.
- Não entendi.
- Essa Sociedade Secreta certamente prega a luta do homem contra o próprio homem... E usa a cobra como símbolo, por que ela, assim como o “Homu Sapiens”, é predadora da própria espécie.
- Entendo... O homem é predador de si mesmo. E a cobra também.
- Epoche! "Homo homini lupus", é o pensamento de um filósofo chamado Thomas Hobbes. Certamente deve ser parte da lógica das ações dessa sociedade secreta.

19h59min35seg – Lucas Andrei abriu a porta e saiu do carro.

19h59min37seg – Allan saiu, fechou e ligou o alarme. E apoiando-se no capô do veículo quis saber:

- Mas afinal... Por que a Naja?
- A Naja é um criatura muito fingida... Como deve ser a pessoa que estamos procurando...
- Como assim?
- A cobra Naja é um animal peçonhento, agressivo e bastante perigoso. Algumas espécies têm a capacidade de elevar grande parte do corpo ou cuspir o veneno para se defender de predadores a distâncias de até dois metros. Outras espécies, como por exemplo a Naja tripudians, dilatam o pescoço quando o animal enraivece.
- Hum... Então o assassino quis avisar que assim como a Naja é capaz de “cuspir” o seu veneno à distância?
- Epoche!

- Mas fica faltando uma relação com a capacidade da Naja agir a certa altura...
- Não... Não falta... Allan... Ao contrário... É evidente.
- Não vejo isso.
- Assim como a Naja... Essa sociedade consegue agir a certa altura... E entenda altura como hierarquia...
- Classe social?
- Epoche! E assim como a Naja é capaz de mudar a forma ao seu bel prazer. Ele quis nos avisar que consegue fingir ser quem não é a qualquer tempo... Em qualquer lugar... Em qualquer “ss” Status Social.
- E por que você disse que se trata de uma criatura muito fingida?
- Em se tratando da Naja... Ela não ouve a flauta dos “encantadores de cobras”, apenas acompanha o movimento... Já em relação ao nosso caso os fatos mostram isso, o assassino, por si, ou por meio da sua “sociedade secreta” consegue fingir ser da polícia sem ser, ser perito sem ser... Ou até... Fingir a ocorrência de um suicídio...
- Entendo... Exatamente como as “cobras” que nos perseguem estão fazendo.
- Epoche!
- Vamos jantar?
- Vamos... Mas antes quero saber: Você notou alguma semelhança entre o “Moisés” e o “Hermes Grego”?
- Hum... Peraí... Sim...
- Diga então!
- O “Hermes Grego” era mensageiro dos Deuses do Olimpo... E o “Moisés” era o mensageiro de Deus... Ambos mensageiros!
- Epoche! Mas não para por aí...
- Prossiga...
- Lembra qual é o verdadeiro símbolo da medicina?
- Não.
- Epoche... É o símbolo mítico de Asclépio, o bastão com uma única serpente. O bastão simboliza a árvore da vida, com seu ciclo de morte e renascimento. Símbolo do poder, com o cetro dos Reis. Símbolo da magia, como a vara de Moisés.
- Lucas Andrei... Você é um gênio!
- Não exagere amigo. O morto quis usar a sua morte para renascer um conhecimento ou um segredo esquecido.
- Andrei... Admito que todo o seu raciocínio tenha lógica... Mas você já considerou a hipótese que alguém simplesmente quis nos pregar um susto?... Talvez até o Dr. Uziel?... Uma brincadeira sem graça... E justamente por isso colocaram a tal cobra Naja de madeira?...
- É Allan... Até poderia ser, se não existissem alguns pontos.
- Quais?
- Primeiro: As pistas que o morto deixou... O “ss” na estátua de Olímpio Campos, os seis “ss” pichados nos hexágonos da Praça Fausto Cardoso e por último o “ss” no espelho do “Expresso Abelha” cujo significado é no mínimo surpreendente.
- Segundo?
- Epoche... Segundo, que o próprio aviso... o susto do atentado à bomba... Indica que a minha suspeita de que existe uma “ss” Sociedade Secreta atuando em Sergipe está correta.
- Baseado em quê?
- Epoche! Em algumas características típicas de sociedades secretas.
- Como por exemplo?
- Por exemplo: Linguagem simbólica secreta... Conhecimento secreto... Quem pertence a uma sociedade secreta permanece a vida inteira... E só sai por ocasião de morte...
- Talvez o morto tenha pensado em sair e o “suicidaram” por causa disso.
- Epoche! Vamos jantar?
- Andrei...Só falta você me dizer uma coisa.
- Qual?
- Por que você disse com certo nervosismo, que por enquanto o tempo era o menor dos nossos problemas?
- Por duas razões: 1 - O bastão de Asclépio, conforme já te disse, também significa o apoio para as caminhadas. A serpente simboliza o bem e o mal, a saúde e a doença. Poder de rejuvenescimento, pela troca periódica de pele. Sagacidade; Elo do mundo visível com o invisível.
- Eu lembro que você tinha dito que a morte do suposto suicida iria implicar no renascimento de alguma coisa?
- Epoche... 2 – o evento da transformação da vara em cobra... Como está implícita da escultura de cobra em madeira... Madeira transformada pelas mãos de “um artista” em cobra... Foi uma metáfora relacionada com um importante evento histórico...
- Qual?
- Relacione os significados que dei.
- Deixe-me ver:

1 – Madeira = árvore + serpente = Conhecimento proibido
2 – Madeira = bastão + serpente = Caduceu = Imunidade + conhecimento
3 – Madeira = bastão transformado em serpente = mensagem e magia
4 – Naja = Envenenamento à distância = natureza fingida + agilidade

- Traduza Allan.
- Não consigo.
- Logo após o encontro de Moisés, Arão e o Faraó, começaram as dez pragas... Entendeu?
- Como?!
- Noutras palavras...

1 – Um conhecimento proibido vai desgraçar nosso futuro;
2 – Seremos vigiados pelo “bem” e pelo “mal”;
3 – Teremos dificuldades se não obedecermos o recado, risco de morte...
4 – Eles poderão nos atingir à distância. Em qualquer esfera social. Não teremos como nos esconder ou nos proteger deles.

 


- Caramba! O pior é que tem lógica!
- Epoche... E olha que ainda não te expliquei o significado do “ss” no espelho.
- Há muito perigo em nosso caminho, não é Andrei?
- Extremo perigo amigo... Poderemos até morrer.
- Porcaria... Eu sabia que este caso seria uma praga!




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Que perigos o detetive Lucas Andrei prevê para o transcorrer da investigação? O que o “Número um” fará com o Dossiê sobre o detetive? Será que o Dr. Uziel vai cumprir o acordo e vai deixar Allan e Andrei conduzirem a investigação sem interferir? E qual a grande revelação que o detetive Lucas Andrei obteve com a pista do “ss” inscrito no espelho do Expresso Abelha da Praça Olímpio Campos? E Adriano, o que será que aconteceu com ele em na aventura de canoa no Rio Sergipe com a jovem Maria Geeda Petrúcia Leal? Para saber estas e outras respostas nos próximos capítulos da sua novela on-line “MENINA VENENO”!

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