sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Capítulo 79

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!


Capítulo 79 – Caminhos Cruzados...  Parte 04 
Últimos capítulos da novela on-line “Menina Veneno”

"A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo." – Anaïs Nin
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09 de Novembro de 1998 – Segunda – 10h10min55seg



Guilherme esfregou os olhos... E ao abri-los viu-se noutro cenário. Pra sua surpresa não estava mais na colônia... Mas no leito de outro hospital. (Ver capítulo 38 e 72)

Ao sentir o rosto coçando concluiu que deveria estar barbudo... Meses tinham passado...


10h13min02seg - Sentiu uma forte luz nos olhos... Dr. Gilvan que o acompanhou desde o início fez uma rápida avaliação dos reflexos e falou:

- Definitivamente ele está de volta.
- Ele saiu do coma?
- Sim... Chame Dona Stéphanie!

10h55min39seg – A simpática senhora chegou até o apartamento em que Guilherme estava alojado e abraçou Dr. Gilvan dizendo:



- É verdade o que me disseram doutor?
- Sim Dona Stéphanie.
- Mas se ele saiu do coma... Por que o Senhor está com esse ar tão pesado?
- Vamos à minha sala.
- Por quê? Gostaria de ver meu afilhado.
- Ainda não é possível... Estamos fazendo alguns exames, pra confirmar o diagnóstico.
- Que diagnóstico? O Senhor está me deixando nervosa doutor.
- Dona Stéphanie... Queira me acompanhar, por favor... Não se preocupe, Guilherme está sendo assistido.

11h01min04seg – Dr. Gilvan serviu um chá de Erva Cidreira e explicou:

 
- Guilherme despertou.
- Porém?
- Porém... Pelos testes iniciais que fiz, percebi indícios de “Esclerose Lateral Amiotrófica”.
- O que é isso Doutor?
- É uma doença rara... Que ataca o sistema nervoso. Não se sabe ao certo o que causa, mas com certeza o acidente que ele sofreu e o longo período do coma colaborou.
- Tem cura?
- Não. É irreversível.
- Meu Deus.
- Se for confirmado, Dona Stéphanie... Guilherme, mais do que nunca precisará da senhora, pois terá uma vida vegetativa, pois “E.L.A.” é uma doença neurodegenerativa progressiva.
- Como assim Doutor?
- Os doentes sentem dificuldades de se locomover, comer, falar... Perdem habilidades dos movimentos, inclusive das próprias mãos e não conseguem ficar em pé por muito tempo, pois toda a musculatura é afetada.
- Tem tratamento?
- Bem... Ele vai precisar de uma pessoa que sempre esteja por perto para que possa executar suas tarefas básicas.
- Dr. Ele não vai poder falar, nem se mover nunca mais?
- Provavelmente não... Podemos considerar que a conexão entre os músculos e o cérebro dele morreu.
- Ao menos ele vai ouvir?
- Sim. E suas capacidades intelectuais não serão afetadas. Perceberá tudo o que acontece a sua volta... Talvez, com o tempo, a senhora desenvolva uma forma de comunicação.
- Tenho certeza que os anjos de luz me darão toda a força e discernimento necessário para cuidar do meu afilhado da melhor forma possível.
- Amém Dona Stéphanie... Amém.


12 de Novembro de 1998 – Quinta – 19h30min22seg




Dona Stéphanie sentou-se ao lado de um garoto-prodígio de nove anos de idade, introspectivo, que jogava xadrez sozinho sobre o tapete da sala da sua residência.

 
- Boa noite meu amor! Como está o jogo?
- Previsível.
- Isso é ruim? – Sorriu Dona Stéphanie.
- Não.
- Basílio...
- Pode falar madrinha.
- Você poderia parar um pouco o jogo?
- Por que madrinha?
- Preciso falar contigo.
- É sobre Gui?
- Por que você diz isso?
- Por que, nos últimos tempos, a Senhora sempre fala assim quando vem me falar alguma coisa sobre ele.

19h35min01seg – Basílio deu um sorriso tímido.

19h35min05seg – Dona Stéphanie deu um beijo na testa.

- Madrinha te ama muito, sabia?
- Sabia. – Falou sorrindo.

19h35min08seg – Após dar mais um beijo na testa do afilhado, prosseguiu:

- Meu filho... Você vai precisar ser forte.
- Como assim madrinha?
- Seu irmão acordou.
- Que bom! Vamos lá agora.

19h36min09seg – Basílio que era muito apegado ao irmão despertou da atenção que estava dispensando ao xadrez e fez menção de se levantar, mas foi impedido.

- Calma, menino... Não terminei.
- Tem algum problema, não é madrinha?
- Tem sim... Basílio.
- Fala logo madrinha!

19h37min11seg – Dona Stéphanie verteu lágrimas e sorriu timidamente ao lembrar-se do filho Hélio quando era criança e brincava com Guilherme, e da promessa que fizera diante do túmulo dos pais daqueles meninos de que zelaria pelo bem estar deles.

 
- Meu filho... Guilherme está muito doente. Uma doença que não vai deixá-lo falar, nem se mover... Vai precisar muito da nossa ajuda.
- Isso não é problema não é madrinha... Pois os anjos vão curar ele, não é?
- Não meu filho... Talvez não.
- Mas a Senhora não vive dizendo que se a gente pedir com muita a vontade, papai do céu nos atende?
- Sim meu filho...
- Então?



19h42min58seg – Os dois se abraçaram.

- Meu filho... Estou pensando em pedir na justiça pra cuidar de você e seu irmão... O que acha?
- Vou morar com a Senhora pra sempre?
- Você gostaria?
- Sim.

19h43min12seg – A companhia tocou.

19h43min15seg – Basílio levantou-se falou:

- Eu atendo madrinha... Será que é o Gui?
- Não meu lindo... Ele só poderá vir depois que adaptarmos o quarto pra ele.
- Então quem será?

19h43min17seg – Basílio abriu a porta e viu uma bela baixinha de sardas, ruiva e usando óculos de armação vermelha.
 
- Dona Stéphanie está?
- Da parte de quem?
- Diga que é Geeda.

19h44min19seg – Geeda deu um sorriso de satisfação, pois pela primeira vez conseguiu ficar frente a frente com o querido irmãozinho de Guilherme... E com isso, concluiu, antes do previsto... A segunda etapa do seu plano de vingança.

19h45min20seg – Dona Stéphanie levou um susto. Pela primeira vez sentiu a energia negativa que vinha daquela moça. E num determinado instante pôde enxergar o espírito obsessor daquela diabólica baixinha de sardas... Um espírito maléfico que anos mais tarde ela descobriria que se autodenominava “Edu.”...



19h45min25seg – Sentindo calafrios gaguejou:

- Geeda... Vo-vo-você por aqui?



Continua...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Capítulo 78

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!


Capítulo 78 – Seguindo o Plano...  Parte 01 
Últimos capítulos da novela on-line “Menina Veneno”

"Nem todos os caminhos são para todos os caminhantes." – Goethe
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07 de Novembro de 1998 – Sábado (Ver capítulo 61)



23h26min12seg - Adriano interfonou. “Oito” atendeu:

- Venham buscá-la.

23h26min15seg – “Oito” e “Nove” entraram na sala e levaram Maria Geeda.

23h26min17seg – “Dois” entrou segurando um telefone sem fio.

- “Ele” quer falar com o Chefe.
- Faz tempo?
- Não... Ligou agora.


23h26min21seg – Adriano pegou o telefone e falou de forma incisiva:

- Tudo está indo conforme o planejado... Ela aceitou o acordo.

08 de Novembro de 1998 – Domingo – Sede dos Sumerianos... Aracaju.

 

00h44min03seg – Maria Geeda Petrúcia Leal abriu os olhos.

00h44min05seg – Sentou-se no colchão da pequena cama no qual estava deitada.

 

00h44min09seg – Lançou um olhar no ambiente e percebeu que se encontrava num lugar que parecia hospital, com direito a monitor cardíaco.

00h44min11seg – Ao perceber a presença de Adriano que acompanhou mudo o seu despertar, gritou:

- Deus do céu!

00h44min15seg – Adriano sorriu.
 
- Não se assuste mocinha... Você não tem motivos pra isso... Pelo menos hoje não.
- O que você quer de mim? Não fizemos um acordo?
- Sim... E é por isso que estou aqui.
- Preciso descansar.

00h45min01seg – Adriano segurou o rosto de Geeda com as duas mãos e encarando-a advertiu:

- Você descansará quando eu mandar? Entendeu?
- Sim.

00h45min09seg – Pegou uma bandeja que continha uma sopa e serviu dizendo:

- Tome... E enquanto se alimenta ouça.
- Tenho que comer agora?
- Sim.
- Eu não vou pra casa?
- Dulcicülus Petulcos... Pétrea Petrúcia... Ou devo chamar Christine?

00h45min39seg – Ao reconhecer a expressão carinhosa que somente Emerson a chamava, Geeda tossiu surpresa:

- Mas co... Como?

00h45min41seg – Adriano tirou do bolso um pequeno gravador, apertou “play”, e fez sinal de silêncio para ambos ouvirem: (ver 9h45min01seg – capítulo 47)



Geeda ficou apavorada ao reconhecer no gravador a voz do querido amigo Emerson Montez... Pior: a última conversa que teve momentos antes de combinar de ir para a festa à fantasia.

Até então Maria Geeda Petrúcia Leal não tinha se dado conta de que fora flagrada por Adriano que há poucos momentos era seu namorado, indo sozinha para um baile à fantasia... Tinha sido flagrada na traição... “Como não percebi isso?... Claro, Adriano tomou o lugar de Emerson... Como fui esquecer desse detalhe?... Será que ele descobriu que já o traí antes com o garçom?... Meu Deus! Meus Deus... Que fui fazer?” – Deixou cair uma lágrima, não porque estivesse arrependida, mas porque detestava ter sua imagem de boa moça, sensível, romântica, fiel, pra casar... Cair por terra.




00h46min11seg – O gravador continuou a reproduzir a conversa.

 



“...Aluguei uma roupa e máscara para ir fantasiado de “Érik” do “Fantasma da Ópera”... E você, com um longo vestido e algum ou outro adereço poderia ir de Christine... Que tal?
- Boa idéia!
- Eita...
- Que foi?
- Esqueci que não consegui o convite do seu namorado...
- Bobagem... Eu invento uma história pra ele... E dou um jeito de ir sozinha...”




00h47min03seg – Apertou “Stop”. Geeda balbuciou nervosa:

- Você estava me espionando?
- Sim.
- Gravou minhas conversas telefônicas?
- Sim... Desde o nosso primeiro encontro.
- Emerson está vivo?
- Sim... Desacordado... Porém vivo.
- Que absurdo! – Começou a chorar.

00h47min25seg – Adriano sorriu.

- Do que está rindo? Não é pra rir! – Geeda falou com um tom petulante que lhe era bastante peculiar.
- Geeda... Se você está pretendendo se fazer de vítima pra inverter a situação como sempre faz... É melhor guardar para alguém que não conheça a verdadeira Maria Geeda.



00h48min46seg – Como num passe de mágica, Geeda ficou séria e perguntou de forma muito dengosa:
 
- Eu vou pra casa?
- Você já fez essa pergunta.
- E então?
- Mocinha... Seu primo ainda está dormindo na frente da Tv. E sua mãe está tendo uma noite cheia no plantão... (ver 19h58min41seg – Capítulo 47)... Tem gente de confiança vigiando-os... Você saiu sem ser vista e chegará da mesma forma, não se preocupe... Mas antes preciso te passar algumas instruções.
- Sou toda ouvidos.
- Segure sua curiosidade mocinha... Termine a sopa.

00h53min09seg – Geeda tomou a última colher.

00h53min10seg – Adriano recolheu a bandeja e entregou um envelope lacrado.

- O que é isso?
- Instruções à sua primeira missão.

00h53min13seg – Geeda folheou e enquanto leu alguns papéis fez perguntas.

 
- Radialista?
- Correto.
- Eu vou pra Brasília?
- Sim. Quarta feira.
- Que vou fazer lá?
- Nada que não tenha feito antes.
- O que?
- Você vai seduzir, manipular esse rapaz e simular um suicídio.
- Por quê eu?
- Porque você consegue disfarçar muito bem que é uma baixinha de sardas delicada, sensível e indefesa... E o nosso radialista já sofreu alguns atentados e anda precavido.
- Mas se ele é precavido... Como vou me aproximar?
- Deixe isso comigo.
- O que ele fez?
- A questão não é o que ele fez. É o que pretende fazer... Você será muito bem recomendada... Quem vai te apresentar é este senador que faz parte da nossa organização.

00h57min23seg – Geeda tirou do interior do envelope alguns documentos falsos que continham sua foto.

- Emma Bovary? Será meu nome?
- Sim.
- Por que esse nome? Tem a ver com o livro?
- Você sabe que sim.
- Por um acaso você está insinuando que sou uma mulher adúltera?
- Nãããooo.. Jamais chamaria uma moça que faz sexo com um garçom na noite do primeiro jantar romântico com seu namorado (ver capítulo 48 e 21h38min01 a 21h39min37seg do capítulo 35) ou uma mulher que combinou escondido ir a uma festa à fantasia com um amiguinho com o argumento: “Eu invento uma história pra ele”... Adúltera? Jamais...
- O que?!
- Não finja que não sabe do que estou falando... Ou que não aconteceu! Como te disse, tenho “olhos” em todos os lugares.
- Eu deveria não fazer nada... Só por causa dessa ofensa!
- Você é quem sabe... Não gostaria de antecipar sua morte... Mas se for necessário...

00h59min48seg – Maria Geeda Petrúcia Leal tirou um crachá e após lê-lo perguntou:




- Emma Bovary... Assessora?
- Isso... Você será apresentada ao Senador como minha assessora... Eu mesmo ligarei, não se preocupe.
- Onde o encontrarei? No Senado?
- Não...
- Onde?
- Haverá uma equipe te aguardando na estação 112 da Asa Sul do Metrô de Brasília.
- Por quê?
- Por que há uma entrada secreta para um complexo de túneis e salas como esse aqui.






01h00min35seg – Geeda guardou tudo, fechou e num gesto sedutor concluiu:

- Pelo que entendi vou à Brasília, encontrarei o Senador, ele me apresentará ao tal radialista, que vou seduzir e simular um suicídio... Correto?
- Correto... Tá vendo? Definitivamente você nasceu pra isso.
- Eu deveria ficar lisonjeada?

01h00min55seg – Adriano beijou a testa de Geeda e sorriu:
 
- Por isso que gosto de você.
- Meu lindo... Gostaria de fazer duas perguntas.
- Como estou de bom humor vou permitir.
- Primeiro: É evidente que encontrar o radialista, seduzir e simular o suicídio não será rápido... Quanto tempo vou ficar por lá? Como vou justificar essa viagem pra minha família?
- Você dirá que irá para um Congresso de Literatura Brasileira... Cuidaremos da papelada. Não se preocupe. Qual a segunda pergunta?
- Depois desse serviço virão outros?
- Sim... Esse é o primeiro... Um teste.
- E quando você vai me ajudar?
- Quando precisar de ajuda é só pedir... Enquanto tivermos o acordo.

01h04min29seg – Geeda encarou Adriano e de forma sensual e insinuante perguntou:

 

- Posso fazer mais uma pergunta meu amor lindo?
- Só mais uma... Tenho muitas coisas pra fazer.
- Como será a nossa relação de hoje em diante?
- Olha minha querida Geeda se eu tivesse vocação pra ser corno e você servisse ao menos pra atender à libido... Até continuaríamos namorando, mas como até na intimidade você se mostra artificial e calculista... Serás apenas uma aliada... E jamais... Já - mais... Faça qualquer menção de que tivemos algum tipo de relacionamento sem ser profissional... Fui claro?
- E o que aconteceria se eu desobedecesse?
- Posso te garantir que raramente alguém que me desobedece sobrevive pra se arrepender.
- Tudo bem... Será feita a sua vontade... Chefe.

01h07min54seg – Adriano recolheu a bandeja.

- Está pronta?
- Sim.


01h08min03seg – Adriano Kelsen abriu a porta e dois homens entraram.




O primeiro recolheu a bandeja e o outro dirigiu-se à Geeda segurando uma agulha.

- O que ele vai fazer?
- Não se preocupe... Você vai dormir e acordará sã e salva em casa, na sua caminha gostosa.
- Mas precisa injetar isso em mim?


01h09min18seg – Geeda recebeu a injeção de um potente sonífero...

 01h09min20seg – E antes de apagar ouviu a frase:

- Lamento Geeda... Mas por não ser uma irmã legítima do Sindicato... Você não pode conhecer o endereço da nossa sede.


01h09min32seg – Há sessenta metros de profundidade de algum ponto do Centro Histórico de Aracaju, Maria Geeda Petrúcia Leal adormeceu... E teve uma noite sem sonhos.



 Continua...


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Capítulo 77

AVISO: Esta é uma obra de ficção, portanto, qualquer semelhança
com pessoas ou fatos da realidade é mera coincidência!


Capítulo 77 – Caminhos Cruzados...  Parte 03 
Últimos capítulos da novela on-line “Menina Veneno”

"Todos sabem o que acontece a uma pessoa
que fica no meio do caminho: acaba atropelada." – Aneurin Bevan

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29 de Janeiro de 2009 – Quinta - Rodovia José Sarney... Sergipe.

 

Fim do Flash-back...

02h55min19seg – Lucas Andrei ergueu a cabeça pra tentar identificar o indivíduo que tinha acabado de chegar, mas foi surpreendido com um tapa ao pé do ouvido que o deixou quase surdo durante alguns segundos.

 

Enquanto ouviu um zumbido por causa da pancada que tinha acabado de receber, sentiu grande calor e tontura causada pela luz intensa no rosto. O detetive pressentiu que estava próximo da morte como nunca estivera antes... E instintivamente repetiu:

- Acabou... Morri.

02h56min21seg – “Dois” entregou os objetos ao passageiro misterioso do Corolla a foto de Getúlio Vargas e o “Novo Testamento” que Andrei tinha descoberto algumas horas antes.

- 812... O que significa? É alguma coordenada? Uma senha? Quantidade de passos?

02h58min19seg – Sentindo um horrível gosto de sangue na garganta Lucas Andrei permaneceu mudo.

02h58min31seg – O passageiro estendeu a mão e ordenou:

- Soro!

02h58min44seg – “Sete” tirou uma seringa e ampola. Antes de introduzir a agulha para extrair o líquido foi interrompido.



- Lucas Andrei... Lucas Andrei... O famoso detetive do “Mistério dos Náufragos”... Mais uma vez na Rodovia José Sarney... Mas agora não foi pra resolver um mistério... As coisas se inverteram hein Andrei?... Mundo pequeno, não acha?
- Quanto devo aplicar? – Indagou Sete.
- Tudo.
- Isso não pode matá-lo?
- Não é problema meu... Passe pra cá... Eu mesmo faço!

02h59min01seg – Pressentindo que a situação estava muito perigosa, Andrei tentou se soltar, mas não conseguiu devido à grande força que “Sete” e “Três” aplicaram para detê-lo.

- Calma Andrei... Não vai doer... É só uma dose de metilenodioximetanfetamina.
- Soro da verdade.
- Grande detetive!

03h00min05seg – Com dificuldade Andrei advertiu:

- Suponho que sabe que a eficiência do “Soro da verdade” é questionável.
- Sim detetive... Sei que você poderia dizer qualquer coisa pra me enganar... Mas vou correr o risco... Afinal, não é a minha vida que está em jogo... Concorda?
- Epoche... Também suponho que você tenha considerado a hipótese de que eu posso não saber o que você pensa que eu sei...
- É possível... Mas tenho certeza que sabe... Ou saberá. Além do mais... Se mentir... Vou aumentar a dose... E não será bom para sua cabecinha genial, concorda?

03h00min07seg – Silêncio...

- Quer um conselho detetive? Se eu fosse você... Colaboraria.
- Epoche...
- Que tal deixar a coisa mais divertida?

03h00min25seg – O misterioso passageiro passou a lâmina do canivete de leve na extremidade esquerda do pescoço de Lucas Andrei, fazendo-o sentir um estresse emocional...

03h01min22seg – Encarou “Sete” e “Três” e mandou que levantasse o detetive. Em seguida pegou a canivete e cortou a calça do detetive na altura do joelho.

- Que tal experimentarmos a eficiência do “soro da verdade” fazendo um interrogatório com seu joelhinho ralando no asfalto?... É só o começo... Garanto que consigo ser bastante criativo para te fazer falar.
- O que você quer saber?
- Onde está o livro?
- Que livro?
  
03h02min15seg – Lucas Andrei levou um soco inesperado que quebrou o nariz.

 



- Não me provoque seu detetivezinho de meia tigela!... Já sei... Fui mal educado... Deixe-me apresentar: Me chame de Senhor X.
- Não posso dizer que é uma satisfação te conhecer Senhor X.

03h02min19seg – Senhor X deu mais um tapa.



03h02min21seg – Andrei teve um oportuno flash mental: Lembrou-se da segunda vez em que esteve no alto do edifício “Maria Feliciana” e encontrou um enigmático “X” escrito com sangue. (ver 3h51min a 4h15min do capítulo 20)

 

Na ocasião cogitou na hipótese do “morto” está se referindo ao xeque-mate na Torre... Mas...

“E se Basílio estivesse chamando a minha atenção para esse Senhor ” X”? Epoche... Como não pensei nisso antes?” – pensou.

03h02min34seg – Senhor X deu outro tapa, ainda mais forte, e perguntou:

- Onde está o livro? O que significa 812?

03h04min51seg – O famoso detetive foi submetido por quase uma hora de tortura psicológica e interrogatório, porém, mesmo sob efeito da substância psicotrópica que começava a desinibir suas barreiras mentais... O cérebro devidamente treinado conseguiu falar de maneira enigmática:

  
“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. 9E os seus discípulos o interrogaram dizendo: Que parábola é esta? 10 – E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam. 11 – Esta é, pois a parábola: A semente é a palavra de Deus. 12 – E os que estão junto do caminho, estes são os que ouvem;”

03h37min08seg – Senhor “X” sinalizou para o Corolla se aproximou e com um gesto manual ordenou que o farol fosse ligado com luz alta.

03h37min10seg – Tirou as vendas dos olhos de Andrei...

 
03h37min12seg – “Sete” deu sinal para “Três”, soltou e após encostar a ponta da pistola taser no ombro do detetive, deu uma descarga elétrica de três segundos que provocou gritos e desmaio.

- Ele desmaiou... – Advertiu “Dois”
- Percebi.
- Ele não tem o livro ainda... Ninguém suportaria esse interrogatório sem revelar nada... Ele não sabe. – Concluiu “Sete”.
- Também acho. – Concordou “Três”.
- É... Parece que Hipólito deixou pistas para o detetivezinho... Ele não achou, mas é questão de tempo.

03h41min25seg – Senhor “X” refletiu durante alguns minutos e decidiu:

- Soltem-no!... De alguma forma Hipólito vai revelar o paradeiro do livro... Vamos continuar seguindo... E antes que Adriano ou qualquer outro o seqüestre, vamos tomar posse.
- É o melhor a fazer.
- Vamos deixá-lo onde?
- Em lugar nenhum.
- Como assim lugar nenhum?
- Vamos deixá-lo aqui mesmo... Se o jogarmos onde o pegamos, Adriano vai descobrir que eu sei dos planos dele e teremos uma guerra que não precisa acontecer hoje.
- Compreendo... Então, o que faremos?
- Vamos deixá-lo aqui mesmo.
- Aqui?
- Isso... O detetive é muito esperto, vai dar um jeito de chegar em casa são e salvo...
- Acho que vai precisar de algo mais que sorte.
- Pode ser... Mas não é problema nosso.

03h45min07seg – Todos partiram deixando o detetive desacordado no asfalto da Rodovia José Sarney.

03h59min58seg – Em completa escuridão, Lucas Andrei acordou deitado e amarrado.

04h00min20seg – Com esforço, encolheu as pernas e conseguiu por as mãos amarradas na frente e levantou-se.

04h00min29seg – Ao visualizar a barreira metálica que impedia o acesso de veículos ao farol, aproximou-se e esfregou a corda na extremidade do metal fosforescente. Depois de alguns minutos conseguiu libertar as mãos.

 

04h01min33seg – Lucas Andrei, com o nariz sangrando e sentido fortes dores nas costas, no rosto e nos joelhos... Mergulhado em completa escuridão, cambaleante... Seguiu a pé.


 



Continua...